As palavras têm poder? Uma simples(bem... não tão simples assim!) mudança no status de relacionamento do orkut pode determinar, ou condicionar, uma alteração naquilo que parecia não precisar de mais nada pra ficar perfeito? A palavra “namorando” teria o poder de invocar ciúmes, desencobrir cobranças, tirar, de baixo do tapete, nossas inseguranças, egoísmos, traumas ou idiossincrasias detentoras de uma capacidade abominável de desestabilizar o que era estável? A insegurança seria um composto inerente ao ser humano? Uma substância inata? Rubem Alves já dizia que tentamos prender quem amamos nas gaiolas por nós construídas, a fim de não mais precisarmos que elas nos deixem ou se separem de nós. Na tentativa de evitar uma decepção, criamos uma bolha que evitaria o erro de quem está conosco. Que pretensão a nossa! Tentar controlar o curso da vida alheia, encenarmos o papel de deuses decidindo o destino do outro – deuses egoístas preocupados com os seus próprios umbigos, e só. Mas o encanto dos pássaros está no colorido das asas adquirido nas viagens de quem é livre: pássaros presos perdem as cores, deixam de cantar, perdem o encanto. O compartilhar da liberdade a dois, com cumplicidade, respeito e dedicação é o antídoto para o processo - se é que ele existe - desencadeado pela (pretensa) inevitabilidade da burocratização de um relacionamento. O mais importante, porém, a reflexão crucial a ser feita, é: vale mais a pena decepcionar-se com o amor do que não amar - isto sim, é estar preso. “Namorando” não pode ser uma gaiola. Esta palavra não tem este poder todo. Não é?
domingo, 18 de maio de 2008
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