terça-feira, 30 de outubro de 2007

E Jack Bauer Chorou...

Liderei, na igreja que fiz parte, durante o ano de 2006, um grupo que trabalhava com projetos sociais (Bons tempos!!!). Marquei uma reunião com o grupo, em janeiro deste ano, para discutirmos o que faríamos no ano que chegava. Ninguém foi. Escrevi este texto especialmente para aquela reunião e, como não tivemos oportunidade, desde aquele dia, de nos encontrarmos, todos, novamente, nenhum deles leu o texto ainda. Quem sabe agora...
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
E Jack Bauer Chorou...
kkkkkkkkkkkkkkkk
Não consigo dormir sem assistir Jack Bauer (É assim que eu chamo o seriado “24 horas”). A mesma coisa acontecia com outro seriado: “Lost”. Fiquei viciado nestes programas, rapaz!
Comecei a refletir e comparar as atitudes dos heróis dos dois seriados. Jack Bauer, a meu ver, nunca hesita. Defende seu país (Os Estados Destrutivos da América) sem nunca medir as conseqüências, e, mesmo quando desobedece aos seus superiores quebrando rígidas hierarquias, Bauer, com seus tiros infalíveis, golpes certeiros, sempre a tomar inequivocamente decisões corretas sob a mais insuportável pressão (menos para ele!), arrebata a admiração de todos os seus companheiros e dos espectadores, estes sempre ávidos por encontrar alguém para admirar nesta terra onde os exemplos nativos são escondidos e a mente globalizada idolatra o importado. Mas, não é estranho? Jack Bauer nunca erra. Será que não tem dúvidas, nem medo? Nunca volta atrás? Não perde? Não falha, nem fracassa? Assistir um episódio deste seriado é como ouvir uma mensagem dos teólogos da prosperidade, com a diferença de que Bauer, pelo menos, entretém.
Mas o outro Jack, o médico de Lost, tem o mesmo nome, no entanto possui atitudes bem diferentes. Erra, duvida, tem medo, resiste à liderança fugindo das responsabilidades inerentes a esta posição. Volta atrás, perde, fracassa, falha, hesita. É humano! Não é uma máquina de decisões corretas pronta para preencher, automaticamente, as expectativas dos que o procuram. Sua liderança é natural, inata e magnetizadora, apesar de sua recorrente instabilidade e teimosia. Ele se sente como me sinto quando vem um grande desafio pela frente: Sua, pede ajuda, suplica a Deus pra tudo dar certo, faz o melhor possível para acertar, e, na maioria das vezes, acerta. E quando falha, levanta, dá as mãos a quem tem força pra ajudar e segue o caminho.
Tentaram, e ainda tentam, nos fazer como Jack Bauer. Não podemos falhar, errar. Pedir perdão é para os debilitados e chorar, para os fracos. O verbo perder nunca se conjuga. Os “mais que vencedores” não entendem que vencer é suportar com as forças dEle, a fonte de todas as forças, o ribombar das ondas e no meio do balanço do mar, sorrir. Descobri que a palavra sinceridade vem do costume dos escultores de aplicar cera em suas obras no intuito de esconderem as falhas. Sincero, sem cera. Muitos, quase todos, vivem numa eterna encenação sem um pingo de sinceridade. Usam muita cera. Vivem dentro de uma armadura escondendo a fragilidade que insiste em escapar pelas brechas da roupa de guerra tornando-se, recorrentemente, perceptível. A humanidade brota de nossos poros e corre como um rio em nossas veias e ainda que você finja, fazendo, pra isso, uma força descomunal, mais dia menos dia, esse rio vai desembocar no mar da realidade e a lágrima vai brotar da terra seca. Até Jack Bauer chorou, amigos! Com seu amigo morto nos braços. O Deus humano chorou ao ver o que a mesma morte fez com o seu também amigo. E você, qual Jack quer ser? Vai segurar as lágrimas sempre, até não dar mais para disfarçar ou vai se juntar ao time dos amigos de Lázaro, que não apreciam a cera e se apegam ao Grande Artífice de personalidades para terem os seus caráteres moldados de acordo como que é belo? Eu choro, Ele chorou, eu tenho medo, Ele pediu pra afastar o cálice, eu me irrito, Ele chutou as bancas dos vendilhões, eu sofro, Ele levou meu sofrimento, sinto-me sozinho, Ele foi abandonado pelos seus. Ele ressuscitou, e levou minha vida, meu coração e meu tudo junto com ele.
Até Jesus chorou, amigos! Sejamos nós quem realmente somos e só de estar na companhia do Escultor de sentimentos seremos como devemos ser.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Eu te amo, porra!

Sempre fico angustiado quando escuto “Sinal Fechado” de Paulinho da Viola, interpretada (magistralmente!) por Chico e Bethânia. A música é uma dramatização de um encontro acidental entre um homem e uma mulher que não se viam há muito tempo, no trânsito, num sinal fechado, cada um no seu carro. Imagino os dois se entreolhando (É ele? É ela?). Abaixam o vidro e ele começa falando:

– Olá! Como vai?
– Eu vou indo. E você, tudo bem?
– Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... E você?
– Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranqüilo...Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é, quanto tempo!


A minha angústia vem do fato de imaginar que eles, provavelmente, devem ter vivido um grande amor, daquele amor tipo subcutâneo, e, com tanta coisa pra dizer, restam apenas alguns segundos para superar a surpresa do encontro, o coração palpitando, as mil e uma lembranças que vêm na mente, e dizer alguma coisa que fique, que marque. Não sei o que os separou, só sei que ele ainda ambiciona um futuro, e ela só quer um amanhã de descanso (O que será que aconteceu?). Há nas entrelinhas um desejo enorme, uma saudade avassaladora permeando cada palavra, porém eles continuam escravos do trânsito, do sinal, das formalidades:

– Me perdoe a pressa - é a alma dos nossos negócios!
– Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!

Ao ver aquela oportunidade única indo embora (Então eu lembro de quantas já perdi!), ele tenta algo como se dissese: Eu preciso falar alguma coisa, pelo amor de Deus!!!. E, ainda sem graça, diz:

– Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
– Pra semana, prometo, talvez nos vejamos...Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é...quanto tempo!

O sinal vai abrir. Eles não conseguem raciocinar direito:

– Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das ruas...
- Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!


Ele sumiu na poeira das ruas. Não se sabe mais quem é a poeira, quem é ele, quem é a rua. Ela sabe que tem o que dizer, mas não lembra, diz que não lembra, ou prefere não lembrar. Assim, chega o desespero:

– Por favor, telefone
- Eu preciso beber alguma coisa, rapidamente...
– Pra semana...
– O sinal...
– Eu procuro você...
– Vai abrir, vai abrir...
– Eu prometo, não esqueço, não esqueço...
– Por favor, não esqueça, não esqueça...
– Adeus!
– Adeus!
– Adeus!

E fica entalada na minha garganta (como quando agente tá morrendo de vontade de chorar e prende o choro, semelhante à uma erupção sendo contida) a vontade de superar a barreira do bom senso, descer daquele carro, abrir a porta dela, jogar o senso do ridículo às favas, sentir sua pulsação, a porcaria do sinal abrindo( E daí!!!???), todo mundo buzinando e eu dizendo: “Por favor, não esqueça, não esqueça” que EU TE AMO, PORRA!!!

Me deixa!


Deixa eu brincar de ser feliz. Deixa eu pintar o meu nariz

terça-feira, 23 de outubro de 2007

O feitiço do samba

Cartola, Vinícius e Toquinho, Maria Rita, Elza Soares, Chico Buarque.
Não paro de ouvir samba. Estou ouvindo mais samba que Los Hermanos ultimamente (E pra quem me conhece, isso realmente significa muito).
Ninguém é mais o mesmo após ouvir um samba de verdade.
Quando o cavaco chora, chora também o meu coração, mas é de alegria. Vem uma nostalgia, uma coisa boa de sentir. Não sei explicar.
Só sei que ninguém é mais o mesmo depois que ouve um samba de verdade.
Ninguém é mais o mesmo quando Cartola diz que “o mundo é um moinho”, quando Vinícius, enquanto Toquinho dedilha o violão, canta que “é melhor ser alegre que ser triste”, quando Chico exclama “quem te viu, quem te vê!”, quando Elza interpreta “a vida é bela, o sol uma estrada amarela...”. O que acontece com agente, meu Deus, assim que o samba bate à nossa porta?
Não sei.
Só sei que ninguém é mais o mesmo quando ouve um samba de verdade.

sábado, 20 de outubro de 2007

Mundanidade e Transcendentalidade

"Quando muito moço, muito jovem, eu fui aos mangues do Recife, aos córregos do Recife, aos morros do Recife, às zonas rurais de Pernambuco, trabalhar com os camponeses, com as camponesas, com os favelados. Eu confesso que fui até lá movido por uma certa lealdade ao Cristo de quem eu era mais ou menos camarada. Mas o que acontece é que, quando eu chego lá, a realidade dura do favelado, a realidade dura do camponês, a negação do seu ser como gente, a tendência àquela adaptação, aquele estado quase inerte diante da negação da liberdade, aquilo tudo me remeteu a Marx. Não foram os camponeses que disseram a mim: Paulo, tu já leste Marx? Não, de jeito nenhum. Eles não liam nem jornal. Foi a realidade deles que me remeteu a Marx. E eu fui à Marx. E aí é que os jornalistas europeus, em 70, não entenderam a minha afirmação: É que quanto mais eu li Marx, tanto mais eu encontrei uma certa fundamentação objetiva para continuar camarada de Cristo. Então, as leituras que eu fiz de Marx, de alongamentos de Marx, não me sugeriram jamais que eu deixasse de encontrar Cristo na esquina das próprias favelas. Eu fiquei com Marx na mundanidade, à procura de Cristo na transcendentalidade."
Paulo Freire

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Sonho de Criança

Sonhei que era criança de novo. Estava na sala de aula e a professora perguntava para os alunos: O que vocês querem ser quando crescer?
O primeiro (sempre há um afobado!), responde:
- Ah! Professora, eu quero ser médico.
Outra diz:
- Eu quero ser modelo professora!
Todos respondem menos eu. Então, a professora diz:
- E você, Cleonardo. O que você quer ser quando crescer?
Sem titubear, respondi:- Eu quero ser Florestan Fernandes, professora

http://pt.wikipedia.org/wiki/Florestan_Fernandes

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Tão perto

Enquanto faço novos amigos vou percebendo, dos antigos, quais realmente o eram. Já são amigos os novos? Os antigos são ainda? Às vezes grandes amigos estão tão perto de nós que nem percebemos. E desta vez estavam perto de verdade: Têm o mesmo sobrenome.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Ao lado do amor está sempre a justiça


Sejamos cristãos em todas as nossas ações. Mas quero dizer-lhes esta noite que para nós não basta falar de amor. O amor é um dos pilares da fé cristã, mas há uma outra face chamada justiça. E a justiça é de fato a ponderação do amor. Justiça é corrigir com amor aquilo que se rebela contra o amor.


Martin Luther King Jr

Como querem, como queres, como sou

Por favor. Não me queira do jeito que os outros querem que me queiras, mas como queres, mas como sou. E sou comida indigesta. Por que sou chato, sou confuso, sou incerto, sou “em construção”. Chegaste quando minhas pretensões de compromisso estavam fechadas para balanço. Mas já sou teu, não tem volta. Então me ama como os amantes se amam. Ama-me com tudo que o teu é, com que o meu é. E o meu é sério e moleque, é pensador e falador, é sensível e bruto, é altruísta e egoísta, é bomba de chocolate com pavio curto, é ciúme com liberdade, é creme de leite com leite condensado, é agridoce, é filme que não se entende o final, mas se gosta. Acho que sou o inóspito, o áspero, um vaso sem flor, um chão de ferro, como disse Drummond. Pros teus, devo ter cara de transgressor. Mas me ama assim mesmo. Não queiras mudar minhas cores. É nelas que está o encanto. E sem encanto não há amor. Só solidão e engano.
Cleonardo

sábado, 13 de outubro de 2007

É, Drummond! Bem que você me disse...

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Trecho de “Amar”
Carlos Drummond de Andrade

Com a alma

“... E você, que disse que vinha apenas, fazer uma pequena entrevista. Por pouco, não acabou levando a minha alma...”
De Gilberto Freyre para Lêda Rivas

Quase chorei. Não podia. Estava trabalhando. Mas as lágrimas insistiram. Li o trecho acima na orelha de um livro de Lêda Rivas (a criadora do caderno “Viver” do Diário de Pernambuco). Freyre, nosso sociólogo-antropólogo (e por que não poeta?), retrata, cheio de sensibilidade, como foi, para ele, a pequena entrevista realizada por esta repórter.
Só pude pensar: E eu? Será que já levei um pedaço da alma de alguém? O que será de nossas vidas se não pudermos compartilhar um pouco de nossas almas? Se não pudermos sentir o outro de tal maneira que sejamos um e, ao penetrarmos nos mais recônditos calabouços de sua sensibilidade, deixarmos gravado um pouco de nós em seu coração, o que será viver? Que pedaços de alma carrego? Eu só sei que não sou mais eu. Sou um pouco das almas que levei e pelas quais fui levado. Eu sou um híbrido daqueles que chegaram aqui, em minha alma, e ficaram. E quem é você? Ninguém, ainda uma tábula rasa, se você se escondeu por medo de ter um pouco de sua alma levada e não se entregou, não chorou, não se arrependeu, não se deu. Ah! Como eu quero muito mais destas entrevistas! Quero rasgar a minha alma e quero vê-la levada. Quero deixar um pouco dela noutras, e sorrir. Sorrir, dançar, brincar, chorar e voltar, com a alma cheia de histórias para contar. Eu quero amar. Quero ter novos amigos e quero reconquistar, a cada dia, os antigos. Eu quero viver, e contar os meus aniversários não com a idade física, mas com a idade da alma, como disse Clarice. Morrer velho na idade do corpo, jovem na idade de uma alma cada vez mais híbrida, que é um “eu”, cheia de um “tu”, que chega, senta, e não vai mais embora. Quero iluminar, como disse Maiakóvski, sempre (este é o meu lema, e o do sol!). Contar piadas para a tua alma triste e cansada, só pra vê-la sorrir este sorriso que só uma alma sabe dar. Chegar, apenas pra fazer uma pequena entrevista, e, de pouco em pouco, da tua alma levar um pedaço, e da minha, deixar um inextirpável abraço.
Cleonardo

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

A experiência maior

Eu tinha antes querido ser os outros, para conhecer o que não era eu. Entendi então que eu já tinha sido os outros e isso era fácil. Minha experiência maior seria ser o outro dos outros: e o outro dos outros era eu.
Clarice Lispector


P.S.: Deveria ser decretado pecado universal, passar por esta vida e não ler Clarice.

Quereres

Porque desejar profundo é querer tanto, que todos os outros "quereres" são esquecidos.

Cleonardo

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Pormenores de uma vitória

Hoje vi que tinha tanta, tanta coisa pra estudar e me desesperei. Comecei a reclamar que num dava tempo de estudar e trabalhar(na verdade, quase não dá, realmente). Aí me lembrei de que estou vivendo uma das coisas mais especiais que já aconteceram comigo: Ter começado a estudar Ciências Sociais, contrariando a opinião pública e me permitindo, após um período dificílimo de mudança de rota, fazer aquilo que realmente amo. Então, parei de reclamar. Na comemoração da minha aprovação no vestibular fiz uma feijoada e convidei os amigos: os mais especiais. E, para aqueles que não estavam (pois naquele momento ainda não estavam no rol dos mais especiais, ou estavam, mas não puderam ir), trago de volta um pouco daquele momento agora. Quando os convidados chegaram, este texto estava pregado na parede:

Pormenores de uma vitória: Pra minha mãe, pro meu pai e pra vocês

Que graça haveria no gol se não houvesse o abraço dos companheiros?
Não teria sido tão emocionante ver Senna vencendo sem o estourar da champagne com sua equipe de mecânicos.
Ver Cafu erguendo o troféu sem o “Regina, eu te amo!!!” não passaria nem perto de tamanha emoção.
O abraço quase violento de Giba em seus companheiros do vôlei representa a incontrolável erupção da glória dividida.
Ninguém vence sozinho, nem numa partida de xadrez (Sempre há alguém torcendo por você).
O melhor da vitória não é ter deixado outros para trás, ainda que estes outros sejam muitos,
Não é ver seu nome em evidência, mesmo que seja inegável o prazer de ser evidenciado.
É fazer os outros sorrirem, sorrirem de verdade!!!
Aquele sorriso que brota naturalmente do coração de quem ama, daqueles (E só os amigos têm este dom!) que conseguem sorrir o teu sorriso, encarnando em suas peles e sangue o sabor de tua vitória.
Vencer sozinho é sem graça. Não é vitória, é monólogo... E convenhamos... Monólogo não tem graça.
A graça da graça é transferir graciosamente de graça, partículas da graça que só veremos por completo quando estivermos diante dAquele que é Graça.
Vencer com vocês é como comer pão de queijo e depois delícia de abacaxi na sobremesa, tudo feito pelo meu pai (Eita! Não posso esquecer do bolo da minha mãe! Segundo ela, diz: — As visitas podem pensar que não faço nada).
É amar, é sorrir, é compartilhar. É transfusão de Ágape
É poder dizer sem arrodeios: Passei +!{~ï!!! Pra nossa alegria e pro sorriso de Deus (Essa parte fica incompreensível para os fundamentalistas, eu sei).
É poder receber abraços, trocar lágrimas, pular, dançar, comer e beber juntos até não haver mais forças para comemorar.
O melhor da vitória é poder dizer: Muitíssimo obrigado, Senhor!!!
... E um beijo: Pra minha mãe, pro meu pai e pra vocês!!!

domingo, 7 de outubro de 2007

Qualquer tempo

Qualquer tempo é tempo.
A hora mesma da morte
é hora de nascer.
Nenhum tempo é tempo
bastante para a ciência
de ver, rever.
Tempo, contratempo
anulam-se, mas o sonho
resta, de viver.

Carlos Drummond de Andrade
Em “A falta que ama”, 1968

Não Liga Não, Minha Pequena

Não liga não, minha pequena
É nas pequenas conversas que estão as grandes saudades
Nos pequenos beijos os verdadeiros desejos
Nos pequenos abraços, incontroláveis e disfarçados amassos
Se uma pequena flor, como o lírio, exibe a mais pujante beleza do maior dos reinos
É nos teus braços que os meus volúveis percalços se entregam por inteiro
Na tua pequena mão, meu sentimento faceiro
Na tua miúda boca, se me derrama, como uma louca, meus beijos romeiros
Nos teus cabelos, emaranhados estão meus sonhos andantes
E nos teus olhos, ah! Que olhos! Deslizam os meus, como se em uma só volta tocassem o mundo de um viajante
Não liga não, minha pequena
O verde renasce de uma pequena garoa
Pequenas músicas reverberam em glória
Pequenos homens mudaram a história
Pequenas falas inspiram um renovo
Pequenas mulheres fazem de nós meninos de novo
Sendo pequena, és grande
Grande ternura e pureza no falar
És luz, não trevas, nem me permites num jugo desigual andar
Pequena menina, grande mulher
Tão paradoxais sentimentos permeiam tão pulsante envolvimento
Não liga não, minha pequena
Deixa amanhecer
A luz mostra o que agente quer de verdade
O tempo foge e nele precisamos viver com intensidade
Teu destino é ser bela, pequena como uma flor, grande, quando controlas como queres, aqueles a quem tu escolhes entregar uma fagulha do teu indelével desejo, afeto e amor
Não liga não, minha pequena


Cleonardo

E os risos sobrepuseram o cansaço

Conversando com Poliana (uma colega minha lá da Saraiva), um pouco antes de largar após um sábado estafante, sobre os momentos nos quais mais leio poesia, disse-lhe ser antes de dormir. Falei ainda quais seriam os mais adequados para se ler nesta hora:

Gosto de ler Drummond e Lispector: Tenho sempre bons sonhos! Já Quintana me dá insônia, disse.
- E Vinícius? Ela perguntou.
- Vinícius me faz olhar no relógio e dizer: Ainda dá tempo de sair!