“... E você, que disse que vinha apenas, fazer uma pequena entrevista. Por pouco, não acabou levando a minha alma...”
De Gilberto Freyre para Lêda Rivas
Quase chorei. Não podia. Estava trabalhando. Mas as lágrimas insistiram. Li o trecho acima na orelha de um livro de Lêda Rivas (a criadora do caderno “Viver” do Diário de Pernambuco). Freyre, nosso sociólogo-antropólogo (e por que não poeta?), retrata, cheio de sensibilidade, como foi, para ele, a pequena entrevista realizada por esta repórter.
Só pude pensar: E eu? Será que já levei um pedaço da alma de alguém? O que será de nossas vidas se não pudermos compartilhar um pouco de nossas almas? Se não pudermos sentir o outro de tal maneira que sejamos um e, ao penetrarmos nos mais recônditos calabouços de sua sensibilidade, deixarmos gravado um pouco de nós em seu coração, o que será viver? Que pedaços de alma carrego? Eu só sei que não sou mais eu. Sou um pouco das almas que levei e pelas quais fui levado. Eu sou um híbrido daqueles que chegaram aqui, em minha alma, e ficaram. E quem é você? Ninguém, ainda uma tábula rasa, se você se escondeu por medo de ter um pouco de sua alma levada e não se entregou, não chorou, não se arrependeu, não se deu. Ah! Como eu quero muito mais destas entrevistas! Quero rasgar a minha alma e quero vê-la levada. Quero deixar um pouco dela noutras, e sorrir. Sorrir, dançar, brincar, chorar e voltar, com a alma cheia de histórias para contar. Eu quero amar. Quero ter novos amigos e quero reconquistar, a cada dia, os antigos. Eu quero viver, e contar os meus aniversários não com a idade física, mas com a idade da alma, como disse Clarice. Morrer velho na idade do corpo, jovem na idade de uma alma cada vez mais híbrida, que é um “eu”, cheia de um “tu”, que chega, senta, e não vai mais embora. Quero iluminar, como disse Maiakóvski, sempre (este é o meu lema, e o do sol!). Contar piadas para a tua alma triste e cansada, só pra vê-la sorrir este sorriso que só uma alma sabe dar. Chegar, apenas pra fazer uma pequena entrevista, e, de pouco em pouco, da tua alma levar um pedaço, e da minha, deixar um inextirpável abraço.
Cleonardo
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