quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Só assim

Não vamos fuçar nossos defeitos
Cravar sobre o peito as unhas do rancor
Lutemos mas só pelo direito
Ao nosso estranho amor

Trecho de "Nosso Estranho Amor" - Caetano Veloso

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Palavraguilhões

Há palavras que nunca deveriam ser ditas.
Há palavras que na boca de alguns não surtem efeito contrário algum.
Estas mesmas palavras na boca de quem amamos machucam demais.
Não há como sarar a ferida causada pelos aguilhões das palavras: uma vez ditas não voltam mais.
Cortam entre a carne e alma. A ferida sangra até ficar purulenta.
Existe remédio?
Se houver, por favor, me digam.

sábado, 22 de novembro de 2008

Sem explicação

Há dias que possuem todos os ingredientes para serem dias felizes. Grandes dias, até.
mas acabam tristes. Deprimentes
Dias que começam exclamação mas terminam interrogação.
Sem explicação como um time que aos 10 min do primeiro tempo já vence por dois gols, mas acaba perdendo o jogo.
Sem explicação
Sem explicação

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Aniversário da princesinha mais linda do mundo

Carta da minha mãe à sua neta ( e minha sobrinha) por ocasião de seu aniversário

Amada Neta, que Deus te abençoe.

Sei que vc não sabe ler, mas o papai irá ler pra vc. hoje vc está fazendo 3 anos de vida. pena que a vovó não pode estar ai presente, porém, com certeza estarei pelo coração e pelo pensamento. Neste momento quero que se sinta beijada e abraçada por essa avó que te ama tanto, mas tanto que não sei explicar o quanto.
Vc é tão especial que nasceu num dia de feriado para que todos voltassem a atenção só para você e naquele dia vovó se alegrou muito, pois começava a brilhar mais uma estrela na constelação do coração da vovó que se chama ANA JÚLIA. Esperta, cheia de graça, inteligente, graciosa, amorosa, alegre, sorridente, linda: essa é minha netinha querida Ana Júlia. Julinha foi crescendo e foi nos mostrando como é carinhosa, chama a atenção de todos. Ensinou-me uma coisa que eu não conhecia: bala de refrigerante. Fala como uma mocinha com os seus três aninhos. Quando telefono para ela, que ela canta uma canção para mim, é a melodia mais linda que eu já escutei, fala comigo como se eu estivesse com ela. OUTRA CANÇÃO QUE ESCUTEI MAIS LINDA foi quando ela falou pela primeira vez "vovó" e me dei conta de como é bom ser avó de ana julia, a minha netinha Ana Julia, hoje canto parabéns pelo coração.
Parabéns a vocÊ aninha, que Deus te abençoe. Que tu cresças e no teu coração também o amor, a fé e a esperança em Cristo Jesus, pelos teus pais e tua família, e nunca te esqueças dessa vó que muito muito te ama.

A sua vovó Glaucia.

Aprendi a perder

A ditadura do triunfalismo sempre imperou no reino dos adesivos de carro. Dos clichês como "a força da sua inveja é a velocidade do meu sucesso", passando pelas mentiras do tipo "sou feliz por ser ...", até a hipocrisia do "propriedade exclusiva de jesus". Aliás, jesuses não faltam aos adesivos dos carros, que servem como patuás num rito mágico onde se usa um nome de quem não se conhece para se proteger do mal desconhecido. Sempre senti embrulho no estômago com a sessão de auto-ajuda sobre rodas nos dizeres dos "pensadores" do asfalto, que fazem força para passar a idéia de um mundo falso no qual todos são felizes, bebês estão a bordo, casados recém-se-amam, shakes emagrecedores se vendem e as piadas sempre têm graça.
É fácil fugir do que incomoda, varrer os cacos do fracasso pra debaixo do tapete e expor a falsidade das vitórias falsas, o engano das aparências enganosas. Mas aquilo que incomoda nos eleva a uma perpcepção que extrapola o medíocre - e nada melhor que emergir do mar de mediocridade. Vi esta frase num adesivo de carro: "Aprendi a perder, com isso só ganhei". Queria saber quem teve a idéia de pregar esta ode à derrota pra todo mundo ver, e por que? Com certeza esta pessoa tem mais pra dizer e temos mais a aprender com ela. No meio do trânsito, em meio às derrotas e fracassos, muito mais comuns do que mostra a televisão, com suas novelas, e dizem as igrejas, com seu vício de prosperidade, deparar-se com este adesivo é lembrar que "quem sempre quer vitória perde a glória de chorar". Quão diferente não deve ser Vanderley Cordeiro de Lima, o maratonista que perdeu o ouro olímpico ao ser atrapalhado na reta final da corrida e depois do acontecido receber uma medalha de ouro de presente de outro atleta brasileiro? Que experiência não pode nos contar Felipe Massa, que soube o que é ser campeão do mundo de fórmula 1 e deixar de sê-lo em 38 segundos e ver, depois disso, a torcida gritar, eufórica, seu nome? Pense no que um péssimo e frustrado bancário, demitido por causa de seu pífio desempenho, fruto de uma inabilidade inata com vendas e finanças, e que, passou, ainda, pelo baque de ter perdido o dinheiro que investiu numa empresa de produtos pra emagrecer, pode te dizer agora que encontrou a carreira que o realiza, totalmente oposta do que fazia antes? E o que você tem a nos dizer?
Lembre-se do que meu pai sempre me dizia quando eu era guri e ficava bravo quando perdia os campeonatos de pelada aqui da minha rua: "Aprender a perder é bem mais difícil do que ganhar". Quando isto acontecer, somente ganharemos.

Tristão e Isolda

toda dor repousa na vontade
todo amor encontra sempre a solidão

Marcelo Camelo - "Téo e a Gaivota"

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Uma criança

"Ele sentiu um amor inexplicável por aquela moça que para ele era quase uma desconhecida. Tinha a impressão de que se tratava de uma criança que fora deixada numa cesta e abandonada nas águas de um rio para que ele a recolhe-se nas margens de sua cama"

Milan Kundera em "A Insustentável Leveza do Ser"

Meu amanhã

Ela é minha delicia
O meu adorno
Janela de retorno
Uma viagem sideral

Ela é minha festa
Meu requinte
A única ouvinte
Da minha radio nacional

Ela é minha sina
O meu cinema
A tela da minha cena
A cerca do meu quintal

Minha meta, minha metade
Minha seta, minha saudade
Minha diva, meu divã
Minha manha, meu amanhã

Ela é minha orgia
Meu quitute
Insaciável apetite
Numa ceia de natal

Ela é minha bela
Meu brinquedo
Minha certeza, meu medo
É meu céu e meu mal

Ela é o meu vício
E dependência
Incansável paciência
E o desfecho final

Minha meta, minha metade
Minha seta, minha saudade
Minha diva, meu divã
Minha manha, meu amanhã

Meu fá, minha fã
A massa e a maçã
Minha diva, meu divã
Minha manha, meu amanhã

Meu lá, minha lã
Minha paga, minha pagã
Meu velar, meu avelã
Amor em Roma, aroma de romã

O sal e o são
O que é certo, o que é sertão
Meu Tao, e meu tão...
Nau de Nassau, minha nação.

Lenine

Rir um do outro

Se a gente já não sabe mais rir um do outro, meu bem, então o que resta é chorar

"O vento" - Los Hermanos

sábado, 15 de novembro de 2008

Tentando aliviar a bagagem

Tristeza tem vida própria e se aloja cá dentro mesmo que a gente lute contra.
Só restam forças pra pedir que alguém venha, e como numa cirurgia, coloque a mão bem no meio da alma retirando, como quem opera um bisturi com precisão cirúrgica, o peso amarrado nela. Porque tristeza é peso que só se alivia com o descarregar da bagagem. Vou dormir com a mala pesada esperando que ao amanhecer o fardo esteja leve.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Mãos

Ele não sabia andar com a namorada se não fosse de mãos dadas. Ela já não prezava tanto por isso e preferia até andar sozinha. Eduardo achava que Mônica, com isso, gostava de passar um ar de independência, desprendimento. Quem sabe ela não dava importância pra isso e nem se apercebia (como tantas outras coisas, dizia Eduardo) que ele ficava todo desajeitado ao andar ao lado dela como andam simples colegas? Ele ficava rememorando os momentos que isto havia acontecido: não saia de sua mente as vezes em que iam a uma livraria no centro da cidade e, sempre, ao sair, ela ia à frente expirando desprendimento enquanto ele inspirava descontentamento. Parecia o mito do eterno retorno: mesma livraria, sempre a mesma cena ao sair. Feministas de plantão tentaram convencer Eduardo de que aquilo era puro machismo: Macho dominador querendo marcar território ao entrar e sair dos lugares. Pode até ser, mas lembrava também que nos dias em que chegava à faculdade junto com Mônica e passavam pelo corredor de Administração (famoso por suas beldades), ela corria para se enlaçar nele e "marcar território". Os machistas diziam que essa preocupação era coisa de mulher: Homem que é homem não precisa dessas coisas, diziam. Precisam, sim, pensava Eduardo, e sabia que o culto à arrogância masculina era uma construção da cultura em que vivia e, pairando acima dela - pelo menos tentando -, sabia que precisava disso (a maioria dos machistas também, provavelmente) para entender que entre ele e Mônica havia algo mais que só "tamu junto". Não debatia com os machistas, não adiantava, mas podia jurar às feministas que não tinha essa ânsia possessiva e, como resposta, explicava que o 'dar as mãos' era a última manifestação de carinho ainda não corrompida. O beijo, dizia, não mais demonstrava um compartilhar com profundidade: Quantos não se entregam a uma beijação sem nem mesmo saber o nome do outro? - Perguntava. Não precisava nem se referir ao sexo. Este, ele dizia, já perdeu o posto de "troca preciosa" bem antes do beijo. Mas as mãos dadas, não. Ninguém anda de mãos dadas por aí com alguém que não se tenha divido mais que beijos e abraços. Tem que haver cumplicidade pra conectar dois mundos através dos dedos entrelaçados. Mas Eduardo não convencia as feministas, nem dizia pra Mônica que não gosta da desconexão. Não dizia porque achava que não tinha que dizer. Mãos foram feitas para serem dadas, oras! Eduardo me convenceu com esta história da "última manifestação de carinho não corrompida". Se o mesmo aconteceu com Mônica, eu não sei. Sei que vi os dois juntos andando pela faculdade dia desses. Como vocês acham que eles estavam?

sábado, 8 de novembro de 2008

Amigos Irmãos

E nessa noite ecoa no meu espírito um provérbio antigo que tantas vezes ouvi, mas poucas vezes fez tanto sentido: "Porque há amigos mais chegados que irmãos"

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Como são os Românticos II

Ele se aproximou para sentir seu cheiro. Pousou a cabeça em seus ombros encostando o nariz em seu pescoço: Poderia ficar horas naquela posição. Enquanto ouvia sua respiração, abraçou-a com força para tê-la mais perto, o máximo possível em seus braços. Os braços grandes, dele, não a soltavam e aquele abraço já durava um bom tempo quando ela, de súbito, disse: Posso arrotar agora?