quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Mãos

Ele não sabia andar com a namorada se não fosse de mãos dadas. Ela já não prezava tanto por isso e preferia até andar sozinha. Eduardo achava que Mônica, com isso, gostava de passar um ar de independência, desprendimento. Quem sabe ela não dava importância pra isso e nem se apercebia (como tantas outras coisas, dizia Eduardo) que ele ficava todo desajeitado ao andar ao lado dela como andam simples colegas? Ele ficava rememorando os momentos que isto havia acontecido: não saia de sua mente as vezes em que iam a uma livraria no centro da cidade e, sempre, ao sair, ela ia à frente expirando desprendimento enquanto ele inspirava descontentamento. Parecia o mito do eterno retorno: mesma livraria, sempre a mesma cena ao sair. Feministas de plantão tentaram convencer Eduardo de que aquilo era puro machismo: Macho dominador querendo marcar território ao entrar e sair dos lugares. Pode até ser, mas lembrava também que nos dias em que chegava à faculdade junto com Mônica e passavam pelo corredor de Administração (famoso por suas beldades), ela corria para se enlaçar nele e "marcar território". Os machistas diziam que essa preocupação era coisa de mulher: Homem que é homem não precisa dessas coisas, diziam. Precisam, sim, pensava Eduardo, e sabia que o culto à arrogância masculina era uma construção da cultura em que vivia e, pairando acima dela - pelo menos tentando -, sabia que precisava disso (a maioria dos machistas também, provavelmente) para entender que entre ele e Mônica havia algo mais que só "tamu junto". Não debatia com os machistas, não adiantava, mas podia jurar às feministas que não tinha essa ânsia possessiva e, como resposta, explicava que o 'dar as mãos' era a última manifestação de carinho ainda não corrompida. O beijo, dizia, não mais demonstrava um compartilhar com profundidade: Quantos não se entregam a uma beijação sem nem mesmo saber o nome do outro? - Perguntava. Não precisava nem se referir ao sexo. Este, ele dizia, já perdeu o posto de "troca preciosa" bem antes do beijo. Mas as mãos dadas, não. Ninguém anda de mãos dadas por aí com alguém que não se tenha divido mais que beijos e abraços. Tem que haver cumplicidade pra conectar dois mundos através dos dedos entrelaçados. Mas Eduardo não convencia as feministas, nem dizia pra Mônica que não gosta da desconexão. Não dizia porque achava que não tinha que dizer. Mãos foram feitas para serem dadas, oras! Eduardo me convenceu com esta história da "última manifestação de carinho não corrompida". Se o mesmo aconteceu com Mônica, eu não sei. Sei que vi os dois juntos andando pela faculdade dia desses. Como vocês acham que eles estavam?

Um comentário:

Gabriela Máxima disse...

eles estão de mãos atadas