"Coloquei minha cópia da chave por debaixo da porta"
Frio assim. Simples assim. Estranho assim
Vai-se ele. A quem nunca consegui entender.
Enviou e-mail para os colegas com este aviso.
Triste.
As coisas acabam assim,
Com as chaves por debaixo da porta
quinta-feira, 30 de julho de 2009
sábado, 25 de julho de 2009
Eu tô voltando
Pode ir armando o coreto
E preparando aquele feijão preto
Eu tô voltando
Põe meia dúzia de Brahma pra gelar
Muda a roupa de cama
Eu tô voltando
Leva o chinelo pra sala de jantar
Que é lá mesmo que a mala eu vou largar
Quero te abraçar, pode se perfumar
Porque eu tô voltando
Dá uma geral, faz um bom defumador
Enche a casa de flor
Que eu tô voltando
Pega uma praia, aproveita, tá calor
Vai pegando uma cor
Que eu tô voltando
Faz um cabelo bonito pra eu notar
Que eu só quero mesmo é despentear
Quero te agarrar
Pode se preparar porque eu tô voltando
Põe pra tocar na vitrola aquele som
Estréia uma camisola
Eu tô voltando
Dá folga pra empregada
Manda a criançada pra casa da avó
Que eu to voltando
Diz que eu só volto amanhã se alguém chamar
Telefone não deixa nem tocar
Quero lá, lá, lá, ia, porque eu to voltando!
g
Paulo César Pinheiro e Mauricio Tapajós
terça-feira, 7 de julho de 2009
Crônicas daqui (II) ou E eles o chamaram de "O Iluminado"
Primeira viagem na Europa. Expectativa em alta. Queria conhecer o muro de Berlim e respirar aquela atmosfera densa como se um livro de história esquecido no canto da estante fosse aberto repentina e bruscamente, e a poeira que dele saísse, empapando o ar, nos transportasse para a época tratada e retratada naquelas linhas e fotos. E foi assim que me senti andando pelas ruas, vendo o portal de Brandenburgo de perto, nos museus, na beira do Spree, no monumento aos judeus, no obelisco da vitória. Mas o que realmente ficou desta viagem foi o que a fatídica noite do sábado tinha reservado pra mim . Enquanto meus colegas foram participar do pub crawl (uma peregrinacao à alguns bares e boates da cidade - fiz isso em Londres, mas disso eu falo depois), fiquei no albergue sofrendo com uma dor horrível no estômago. Deise também ficou, nao queria participar do tal evento. E enquanto eu me contorcia na cama, pois a dor me obrigava a ficar curvado, a gente conversava e discutia se iríamos ou nao à algum hospital. Como eu ia dizer o que estava sentindo em alemao? Só sabia dizer o que era dor, mas estômago aprendi só no dia, procurei no dicionário. Bem, ia ser difícil, mas Deise estava comigo e ela sabe falar muito bem. Pois bem, Deise desceu pra perguntar onde era o hospital mais próximo e a gente foi. Naquela noite fria, procurando o hospital, lembro que ela me olhava com medo de me ver desmaiar, tamanha era a cara de dor que fazia: - Tu tá bem? (imagine o sotaque gaúcho), lembro dela dizer a cada esquina que eu fazia mencao de desisitir e ficar por ali mesmo. E nada de acharmos o hospital. Depois de perguntarmos a uns garotos na rua e deles ouvirmos "immer geradeaus" (sempre em frente - parece que todo mundo tem esta resposta pronta quando perguntamos sobre alguma direcao), achamos o hospital. Sentei na recepcao porque nao aguentava mais ficar em pé de dor. Depois de várias perguntas que ela me fez, respondidas por Deise, já que eu nao aguentava nem falar, a atendendente pegou meus documentos e me perguntou de onde eu era: - Ich komme aus Brasilien, eu disse. Um médico entrou na conversa e, rindo aquele sorriso das coincidencias, disse: - Kommst du aus Brasilien? - Genau (isso mesmo), respondi. E aí, leitor, aconteceu a coisa mais inesperada (ou engracada, ou bizarra) de toda esta viagem que ainda nem acabou: - Eu 'fala' portugues "fluentximentxi", disse o médico. Eu vou te atender, completou. Só podiamos rir, sem saber o que fazer com aquela situacao que nos levou a um médico, dentre tantos outros médicos alemaes, que sabia falar portugues por ter feito, soubemos durante a consulta, residência na USP. Sorte? Pode até ser, mas o que dizer do que aconteceu numa das minhas primeiras noites em Dresden, quando me perdi e no meio da parte antiga da cidade, bem longe do caminho de casa, vagando desesperado por um ponto conhecido que me colocasse de volta na direcao certa, parei ofegante diante de duas garotas que conversavam na rua. Já cheguei falando inglês sem perguntar se podia. Geralmente perguntamos se o interlocutor pode falar inglês antes de comecarmos a usar este idioma em terras germânicas, mas o desespero, que trava o meu (já parco) alemao por completo, fez-me pular a parte da polidez e ir direto ao assunto: Como raios eu sairia dali. Uma das garotas perguntou-me onde morava, respondi e ela disse: - Eu estou de carro, levo você lá. O meu "an?" veio automaticamente, a fim de saber se eu havia entendido corretamente que aquela desconhecida iria me levar de carro, um desconhecido, até em casa. Era isso mesmo, leitor. Fui levado de carro em casa por uma alema que já havia feito viagens até ao Zimbábue e que planejava conhecer o Brasil. Falei-lhe de Recife, do Carnaval e me despedi agradecendo efusivamente já na porta de casa. Você, leitor, poderia dizer que o raio caiu duas vezes no mesmo lugar, mas se eu te contasse que no pub crawl de Londres, dentre tantos garcons que lá havia, fui atendido por um brasileiro, que depois dos cumprimentos recheados de saudades do Brasil, passou a oferecer, a mim e a Pedro, bebidas por conta da casa. Voltei do pub com Pedro repetindo, e rindo, insistentemente: Isso tem que ser com o Cleo! Se eu te dissesse que ainda em Berlim, esperando na fila pra comprar o ingresso do museu do cinema, uma alema, atrás de mim na fila, me abordou dizendo que falava portugues, interrompendo-me quando eu perguntava se a atendente também falava, pois eu havia ficado curioso ao vê-la atender o cliente à minha frente em espanhol, e já havia brincado com Deise que eu iria testar se esta coisa de atrair pessoas falantes de portugues funcionava mesmo. Se eu te dissesse também que, mais uma vez perdido em Dresden (é, nao sou bom de me localizar, você percebeu), após ter pego o bonde errado e ter ido parar num lugar nunca dantes visto por mim, saí correndo atrás dos passageiros que haviam descido ali também (detalhe: todos desceram, era o terminal) e consegui alcancar um deles a fim de pedir ajuda pra sair daquela enrascada. Este "um", após ouvir minha pergunta desesperada, em alemao, de como pegaria o caminho de casa, perguntou: - Você é brasileiro? Por que nao falou em portugues, porra! Se eu te dissesse isso tudo, o que você pensaria? Que o acaso me escolheu para ser agraciado? Nao sei. Sei que um dos brasileiros que estao aqui, nao lembro qual, preferiu me chamar de iluminado. E isso se tornou uma brincadeira recorrente sempre que saímos juntos. Todos ficam na expectativa de que algo deste tipo aconteca, como se eu fosse portador de alguma bem-aventuranca que revertesse situacoes de trevas em luz. Será?
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