sábado, 28 de julho de 2007

Sobre as palavras humanas e os números exatos.

Amo as letras. Elas falam comigo. Dançam nas páginas num balé interminável. Chamam-me pra dançar, sussurram no meu ouvido. Acho graça nas suas confidências e às vezes acho graça no que elas me contam sobre os outros. Às vezes elas me confrontam e dizem coisas sobre mim, coisas que preferia não ouvir, não pensar, mas é então que as palavras funcionam como centenas de aguilhões perfurando minha alma, querendo chamar minha atenção para o que é ser. Ser nelas.
As palavras são espelho: Mostram-me, sem hesitar, aquilo que sou. Mel e fel, agridem e afagam, fazem-me rir e chorar. Mudam meu jeito de pensar e encarar as coisas as quais antes não percebia, abrem os meus olhos como se estivesse parindo um sentimento novo, emergindo de um mar de escuridão que me puxava pra baixo e que eu vejo puxando tantos ainda. As palavras me ajudam a escapar desse charco de lama e areia movediça, repleta de zumbis repetindo insistente e irritantemente: Sempre foi assim!
As palavras me acordam, excitam. Tiram-me da mesmice, da hipocrisia medíocre. Dão-me coragem: Tudo aquilo que não tenho coragem de falar posso desabafar com as palavras, num embate homérico com a tinta, a caneta e o papel. Não sou tão bom com as palavras, mas elas não tão são exigentes e sempre me chamam para brincar, embalam-me no colo e sempre cantam músicas de ninar. E a guerra que há dentro de mim passa, há um consolo, ainda que momentâneo, mas há.
Sonhei com os números: Corria dentro de um salão repleto de números gigantes. Sentia-me sozinho e angustiado. Queria alguém pra falar comigo e me ouvir, mas os números não falavam. Acho que realmente os números não falam: Eles estão mortos. Tentei sacudir seus ombros para ver se reagiam, estavam inertes, porém. De repente, pela janela, entra um baile de letras acompanhado por uma música orquestral, e a cada vez que uma letra tocava em um número, este era tomado do fôlego da vida. E sorriam! Você já viu um número sorrir? É uma experiência única. Bizarra, porém única. E neste baile com as palavras os números sussurraram três vezes meu nome, contaram a quantidade de flores que preguei em minha lapela, calcularam a aceleração dos meus sonhos e, se não conseguiram expressá-los em metros por segundo, nem descrevê-los pela óptica, pela dinâmica, muito menos pela estática, refrataram meus sentimentos numa acústica infinita, criando ondas partindo de um epicentro formador de círculos concêntricos duma esperança que renova. Dancei com um número, até!!! (Você acredita nisso?). A mágica das palavras possibilitou este milagre, e neste baile os físicos conversavam com os sociólogos, e riam-se. Os antropólogos e os cientistas políticos davam-se às gargalhadas com os biólogos. E as enfermeiras? Estas sempre preocupadas com a nossa saúde falavam pouco, mas olhavam tudo aquilo com um olhar que fala muito. Falavam quase nada, mas dançavam!
O baile estava ótimo, mas já estava terminando! O maestro Marks anuncia a última música: Todo carnaval tem seu fim! A festa acabou, mas os números saíram amigos das palavras. Uma amizade desconfiada, devo ressaltar. Mas será que uma grande amizade não pode começar assim? As palavras se surpreenderam com os números. Mas toda surpresa não faz um bem danado a quem a recebe assim... Prontinha? E eu... Fui embora com as palavras, claro. Mas os números ficaram na memória. Quem sabe se num outro baile desses agente não se encontra?


Uma homenagem às palavras, aos físicos, às enfermeiras, aos meus amigos cientistas sociais e a Gildemarks Santos Silva, professor da cadeira de Introdução à Educação.

Cleonardo

2 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Faltou a homenagem aos Biólogos ^^.
Sempre esquecidos :(