domingo, 30 de março de 2008

Promessa

Fiz uma promessa pra São Venceslau dos corações volúveis! Acho que agora vai dar certo! :)

sexta-feira, 28 de março de 2008

Adeus você

Não aguentava mais aquela insistência da 'ex' em rememorar o imemorável. Ligações, e-mails, scraps, cartas, sms(s), comentários em seu blog e tudo o mais com a finalidade de fazer com que ele não esquecesse dela . Percebia até que, de vez em quando, ela descia uma parada antes da costumeira, somente pra passar em frente de sua casa e olhar se não estava conversando com ninguém estranho, ou melhor, estranha. É porque ele tinha este voyerismo: de conversar com suas paqueras na porta de casa – ela mesma já tinha sido a “da vez” que batia papo em frente ao portão dele. Ele até já tinha pensado em aconselhá-la (ironicamente, pressupõe-se) de entrar no MADA (Mulheres que Amam Demais Anônimas) mas não o fez, pois não queria machucá-la. Ele a considerava, de verdade. Passaram muito tempo juntos e não queria vê-la sofrer. Gostava dela e queria apenas que ela seguisse o seu caminho pra que ele seguisse o seu também.
Mas não adiantava: Considerando esta atitude como a cartada final, ela pregou, na porta da casa do rapaz, a letra de uma música. Como sabia que adorava Chico Buarque, foi com essa:

Vem, por favor não evites
Meu amor, meus convites
Minha dor, meus apelos
Vou te envolver nos cabelos
Vem perde-te em meus braços
Pelo amor de Deus
Vem que eu te quero fraco
Vem que eu te quero tolo
Vem que eu te quero todo meu*

Ao sair de casa pra trabalhar cedo, deparou-se com o cartaz pregado na porta. Ficou espantado, sensibilizado até, mas nem mesmo Chico conseguiu demovê-lo de fugir da prisão que aquele relacionamento significava pra ele. Lembrou de como era o seu cotidiano ao lado dela: seu celular funcionava como um gps pra que ela não o perdesse de vista – uma ligação quando saía do trabalho, outra quando chegava na faculdade, mais uma quando saía dela e a derradeira quando chegava em casa e, em todas, as mesmas perguntas: Tá onde? Já chegou? Ainda não? Tá com quem? Eu quero nomes!!! Não cogitava mais viver naquela prisão constante. Retirou o cartaz, e, logo abaixo do trecho da letra escolhida por ela, começou a responder com uma letra do novo Chico.. Escreveu rápido, sem hesitar. Ouvia tanto aquela banda que as letras dela estavam num depósito especial de sua mente. Acabou de escrever e deu dois passos pra trás a fim de verificar se estava tudo legível, certinho. Entrou no carro e foi embora cantando:


Adeus você
Eu hoje vou pro lado de lá
Eu tô levando tudo de mim
Que é pra não ter razão pra chorar
Vê se te alimenta
E não pensa que eu fui por não te amar
Cuida do teu
Pra que ninguém te jogue no chão
Procure dividir-se em alguém
Procure-me em qualquer confusão
Levanta e te sustenta
E não pensa que eu fui por não te amar
Quero ver você maior, meu bem
Pra que minha vida siga adiante
Adeus você
Não venha mais me negacear
Teu choro não me faz desistir
Teu riso não me faz reclinar
Acalma essa tormenta
E se agüenta, que eu vou pro meu lugar
É bom...
Às vezes se perder
Sem ter porque
Sem ter razão
É um dom...
Saber envaidecer
Por si
Saber mudar de tom
Quero não saber de cor, também
Pra que minha vida siga adiante**
****************
* Sem fantasia (Chico Buarque)
** Adeus você (Marcelo Camelo)

segunda-feira, 24 de março de 2008

Macarrão, ovo e cerveja

Muitos dizem que podemos contar nossas vidas através das músicas, criando uma trilha sonora para cada momento, seja ele especial ou triste. Os aromas, os cheiros, também nos remetem a lembranças que foram gravadas em nossas memórias, não havendo mais como apagá-las ou como deixarmos de relacionar tal cheiro àquela determinada pessoa ou situação. Domingo desses estava fazendo macarrão com ovo na cozinha. Assim que misturei tudo na panela o gatilho de minha memória foi ativado imediatamente. É impossível não lembrar de meu pai chegando em casa, num domingo qualquer, com fragância de cerveja e fazendo a mesma coisa: macarrão com ovo. Pois é... Macarrão, ovo e cerveja: Heranças genéticas. Se me perguntassem, então, qual o cheiro do meu pai responderia, agora, sem titubear: Macarrão, ovo e cerveja. Combinação irresistível.

domingo, 9 de março de 2008

A massai branca

É impossível que exista uma massai branca. Quem já assistiu o filme, ou leu o livro, sabe do que estou falando: Carola deixa seu namorado, durante uma viagem ao Quênia, para ficar com um guerreiro da tribo Massai, e, a partir de então, acompanhamos o choque entre duas culturas impossibilitando o desenrolar de uma paixão, bloqueando a transformação da paixão em amor. A incompatibilidade entre culturas cria um abismo tornando a convivência insustentável, porém, essa distância enorme na maneira em que duas pessoas são socializadas não ocorre apenas entre povos diferentes: Pode acontecer no mesmo país, na mesma cidade, no mesmo lugar. O que quero dizer é que a paixão não resiste à falta de afinidades. Cosmovisões completamente diferentes, percepções do certo e do errado insistentemente discrepantes, opiniões relativas a Deus, sexo, amizade, família, relacionamento, absolutamente incronguentes não permitem uma convivência, no mínimo, saudável. A paixão entre Peri e Ceci, a Bela e a Fera, Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Fernando e Isaura, Chicó e Rosinha, é coisa da literatura, e só. No mundo real buscam-se afinidades mínimas, cumplicidades que permeiem a metamorfose da paixão em amor, do vulcão do sexo na serenidade da boa companhia, das madrugadas ardentes em tardes de filme e pipoca. Não acredito mais na paixão cega (já faz tempo) - a teoria sociológica me retirou esta inocência. Sua cara-metade não existe, mas há, dentro dos seus grupos de afinidade, dos grupos e redes de relacionamento com os quais você se identifica, alguém que vai te interessar. Não a (o) desperdice!

sexta-feira, 7 de março de 2008

Que venha a hora da paixão

Que venha, que venha
a hora da paixão.
Tenho tido paciência,
nunca esquecerei.
Temores, dores
para o céu se foram.
E uma sede insana tolda as minhas veias.
Que venha, que venha
a hora da paixão.

Rimbaud, "Canção da mais alta torre"

quarta-feira, 5 de março de 2008

Porque todo final é péssimo, ainda que você o queira

Chegou cansado em casa. O silêncio era quase sepulcral. As crianças não foram recebê-lo correndo, como todos os dias, no portão, nem o cheiro da comida que a esposa sempre esquentava já o alcançava no jardim. A esposa... Não havia mais tempo para ela, para a família. Sim, um dia se amaram, mas agora o seu amor se resumia em prover a todos os membros daquela casa o necessário para viver; e se contentava com isso. A casa que moravam foi dada pelos pais dela, mas já havia "gastado" tanto com aquela família que dizia a si mesmo - "Já deu pra comprar num sei quantas casas". Lógico, também tinha casos: mulheres que apareciam e desapareciam para dirimir sua ânsia de macho necessitado de sexo. Sua mulher não o atraía mais - Lavava suas roupas, esquentava a comida, ouvia suas queixas do trabalho, e pronto. Ele não pensava em se separar: "O que diriam as pessoas?" - Pensava. Abriu a porta da sala . Na mesa de jantar, um bilhete:

Quebrei o teu prato, tranquei o meu quarto
Bebi teu licor
Arrumei a sala, já fiz tua mala
Pus no corredor
Eu limpei minha vida, te tirei do meu corpo
Te tirei das entranhas
Fiz um tipo de aborto
E por fim nosso caso acabou, está morto
Jogue a cópia das chaves por debaixo da porta
Que é pra não ter motivo
De pensar numa volta
Fique junto dos teus
Boa sorte e adeus
*

* Letra de "Bilhete" (Ivan Lins)