Chegou cansado em casa. O silêncio era quase sepulcral. As crianças não foram recebê-lo correndo, como todos os dias, no portão, nem o cheiro da comida que a esposa sempre esquentava já o alcançava no jardim. A esposa... Não havia mais tempo para ela, para a família. Sim, um dia se amaram, mas agora o seu amor se resumia em prover a todos os membros daquela casa o necessário para viver; e se contentava com isso. A casa que moravam foi dada pelos pais dela, mas já havia "gastado" tanto com aquela família que dizia a si mesmo - "Já deu pra comprar num sei quantas casas". Lógico, também tinha casos: mulheres que apareciam e desapareciam para dirimir sua ânsia de macho necessitado de sexo. Sua mulher não o atraía mais - Lavava suas roupas, esquentava a comida, ouvia suas queixas do trabalho, e pronto. Ele não pensava em se separar: "O que diriam as pessoas?" - Pensava. Abriu a porta da sala . Na mesa de jantar, um bilhete:
Quebrei o teu prato, tranquei o meu quarto
Bebi teu licor
Arrumei a sala, já fiz tua mala
Pus no corredor
Eu limpei minha vida, te tirei do meu corpo
Te tirei das entranhas
Fiz um tipo de aborto
E por fim nosso caso acabou, está morto
Jogue a cópia das chaves por debaixo da porta
Que é pra não ter motivo
De pensar numa volta
Fique junto dos teus
Boa sorte e adeus*
* Letra de "Bilhete" (Ivan Lins)
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