segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Das coisas que compartilhamos


Quantas pessoas já viram você chorar? Há momentos, situações ou palavras que ao serem trocadas transformam colegas em amigos, relacionamentos efêmeros em profundos, contatos fugazes em constantes, o gostar em amar, o passageiro no perene. Quando um alguém, ainda que seja só um alguém, vê tuas lágrimas - não de soslaio, mas olho no olho; não acidentalmente ou à revelia de quem chora, mas um chorar realmente compartilhado - deixa de ser um simples alguém para entrar definitivamente na tua história. Quem quer que tenha recolhido as tuas lágrimas recebeu um pouco da tua alma, e pra entrega de alma não há devolução. O momento do derramar de lágrimas é um momento de nudez sem reservas. Nudez da alma. quem já recolheu tuas lágrimas, ainda que vá embora, um dia voltará, porque um substrato da alma sempre volta ao seu todo, ainda que seja no fim, no fim de tudo. Sinta-se um privilegiado ao ver alguém, rendido, chorar sem pudores na sua presença. Recolha reverentemente estas lágrimas. Elas escorrerão para a tua alma e vocês estarão ligados para sempre, porque um dia, estas gotas de alma, ainda que você esteja distante, voltarão com um pouco de você para a sua origem. Nunca esqueça disso

2 comentários:

c. disse...

Nunca tinha parado pra pensar no valor de quem compartilha conosco as lágrimas. Faz todo o sentido. Parece que quando deixamos as lágrimas caírem perto de alguém, estamos deixando a porta da nossa alma aberta. "e pra entrega de alma não há devolução".

Fantástica a comparação de derramar lágrimas com "nudez sem reservas". Cada frase desse texto é valiosa.

E "quem já recolheu tuas lágrimas, ainda que vá embora, um dia voltará, porque um substrato da alma sempre volta ao seu todo". Essa passagem é a tua cara. Ficou fascinante o texto, parabéns.

Gabriela Máxima disse...

"Nudez da alma. quem já recolheu tuas lágrimas, ainda que vá embora, um dia voltará(...)"
isso me lembra o trecho da música de Camelo "É de se entregar a sorte e todo mundo vai saber e ver
Que o vai e vem pode ser eterno"

de certo, lágrima é a vulnerabilidade estrangulada.