Hoje, quando desci do ônibus, estava chovendo. E quando a chuva começou a escorrer pelo meu corpo, lembrei que nem sempre foi assim. Nem sempre a chuva me apanhou de salto, como quem está à espreita numa tocaia. Caminhávamos, voltando pra casa ou saíndo dela, e se as nuvens prenunciassem que lá vinha um toró daqueles, lá vinha eu também com uma segurança invejável: - Não vai chover, só vai chover quando a gente chegar. - Tem certeza, Cleonardo? Não é melhor a gente correr? - Não, Tiago. Pode ficar tranquilo. Só vai chover quando a gente chegar. E por mais que o céu parecesse estar abarrotado de água, sem que as comportas do firmamento conseguissem segurar uma gota sequer, as primeiras só caíam após batermos o portão atrás de nós. Tiago dizia: - Essa tua mania ainda vai fazer com que a gente leve um toró. E eu sentia o medo em suas palavras. O medo de ter uma amigo que conseguia segurar os céus e conter a chuva, como um super-herói. Imaginava-o pensando: Como ele faz isso? Minha convicção: "Não vai chover até que cheguemos", eu sei, deixava-o aturdido. E esta cena se repetiu várias vezes, e eu sempre conseguia segurar a chuva até chegarmos em nosso destino. Arrogância de adolescente, leitor? Não sei. Só sei que foi assim.
Já na baixa adolescência, quase juventude, quando não sabíamos que os próximos acontecimentos e nossas escolhas seguintes afastariam aquela inseparável dupla dinâmica ,aconteceu, para mim, o inesperado. Voltando de não-me-lembro-onde o céu parecia, desta vez, não estar muito disposto a segurar as pancadas de água. Continuei com minha segurança costumeira: - Só vai chover quando chegarmos. Descemos a ladeira da rua da igreja correndo como loucos, com a chuva a ensopar nossas roupas. O barulho da água caindo e furando minha cabeça como uma broca só não era maior que os gritos de júbilo deTiago: - Você errou! Você errou! Não deu certo desta vez! Eu sabia, Eu sabia que isto ia acontecer um dia! Senti-me como o super-homem diante da criptonita e, ao mesmo tempo, percebi o alívio dele em se certificar que eu não tinha poderes coisíssima nenhuma. era apenas sorte-inocência-arrogância de adolescente.
Pois é, Tiago. A chuva, desde então, já não mais espera que eu chegue em casa. Acredito que com você deva acontecer o mesmo (O poder era meu, afinal) . Muita chuva já escorreu por minha face, lavando lágrimas escondidas, decepções enferrujadas, desilusões jogadas para debaixo do tapete, gritos calados, amores perdidos, arrependimentos que matam. Tanta chuva já passou e deixou um cara diferente daquele que ousava controlar o tempo. Não ouso mais. reconciliei-me com a chuva e já não a evito. Aprendi a ser pequeno, porque a chuva já caiu tanto sobre mim que entendi sua intenção: lavar a sujeira que ninguêm vê. E depois da tempestade, meu amigo, vem uma sensação de bonança inigualável. Andemos juntos novamente, mas você nã verá mais esta arrogância disfarçada de ousadia. Aprendi a inclinar-me diante daquilo que é maior do que eu: Fui entortado pelo ferreiro, quebrado e restaurado como um oleiro faz com um vaso que não mais o apreciava. Tenho histórias para te contar, e enquanto eu estiver falando, se as nuvens se prepararem para derramar suas torrentes, eu serei o primeiro a correr. Corramos juntos, mas se a chuva nos pegar apenas agradeça e sinta que ela está levando embora tuas frustrações, medos, inseguranças, derrotas, pra te deixar pronto para o que vem.
Já na baixa adolescência, quase juventude, quando não sabíamos que os próximos acontecimentos e nossas escolhas seguintes afastariam aquela inseparável dupla dinâmica ,aconteceu, para mim, o inesperado. Voltando de não-me-lembro-onde o céu parecia, desta vez, não estar muito disposto a segurar as pancadas de água. Continuei com minha segurança costumeira: - Só vai chover quando chegarmos. Descemos a ladeira da rua da igreja correndo como loucos, com a chuva a ensopar nossas roupas. O barulho da água caindo e furando minha cabeça como uma broca só não era maior que os gritos de júbilo deTiago: - Você errou! Você errou! Não deu certo desta vez! Eu sabia, Eu sabia que isto ia acontecer um dia! Senti-me como o super-homem diante da criptonita e, ao mesmo tempo, percebi o alívio dele em se certificar que eu não tinha poderes coisíssima nenhuma. era apenas sorte-inocência-arrogância de adolescente.
Pois é, Tiago. A chuva, desde então, já não mais espera que eu chegue em casa. Acredito que com você deva acontecer o mesmo (O poder era meu, afinal) . Muita chuva já escorreu por minha face, lavando lágrimas escondidas, decepções enferrujadas, desilusões jogadas para debaixo do tapete, gritos calados, amores perdidos, arrependimentos que matam. Tanta chuva já passou e deixou um cara diferente daquele que ousava controlar o tempo. Não ouso mais. reconciliei-me com a chuva e já não a evito. Aprendi a ser pequeno, porque a chuva já caiu tanto sobre mim que entendi sua intenção: lavar a sujeira que ninguêm vê. E depois da tempestade, meu amigo, vem uma sensação de bonança inigualável. Andemos juntos novamente, mas você nã verá mais esta arrogância disfarçada de ousadia. Aprendi a inclinar-me diante daquilo que é maior do que eu: Fui entortado pelo ferreiro, quebrado e restaurado como um oleiro faz com um vaso que não mais o apreciava. Tenho histórias para te contar, e enquanto eu estiver falando, se as nuvens se prepararem para derramar suas torrentes, eu serei o primeiro a correr. Corramos juntos, mas se a chuva nos pegar apenas agradeça e sinta que ela está levando embora tuas frustrações, medos, inseguranças, derrotas, pra te deixar pronto para o que vem.
4 comentários:
eu nunca corri com medo que a chuva me pegasse. pelo contrário, quando chovia era a maior festa, sinal de uma brincadeira que apenas a chuva nos concedia. os pingos da chuva representam, de fato, aguas que limpam, purificam nossas almas. sempre tive essa impressão. infelizmente, hoje, esses dias de banho trancendental são menos frequente.
:)lindo texto! lindo mesmo!
sinto saudade de um tempo que não volta...
@@
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