terça-feira, 30 de junho de 2009

Quando se apaga a luz dos olhos

Quando se apaga a luz dos olhos
nao se corre mais atrás da presenca
nao há mais frio na barriga na iminência
nem dor na ausência

Quando se apaga a luz dos olhos
a voz nao mais afaga os ouvidos
na comunicacao, só ruídos
e um buraco engole a voz, só se ouvem grunhidos
e um muro separa os corpos, agora perdidos

Quando se apaga a luz dos olhos
só um grito lancinante pra acordar da dor de um pesadelo
porque um sopro nao adianta pra manter a brasa que fumega
tem que ter um vento impetuoso pra varrer o desespero

Ei! Quero voltar pro tempo em que um sorriso bastava pra mandar embora minha dor

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Pensamentos do (meu) dia

melancolia
me.lan.co.li.a
sf (gr melagkholía)
1 Psicose maníaco-depressiva.
2 Estado de humor caracterizado por uma tristeza vaga e persistente.
Dicionário Michaelis

As cordas da morte me envolveram,
as angústias do inferno vieram sobre mim;
aflição e tristeza me dominaram
Salmos 116:3

Eu nao sou tao triste assim,
é que hoje acordei cansada
Clarice Lispector

Se sou amado,
quanto mais amado
mais correspondo ao amor.
Se sou esquecido,
devo esquecer também,
Pois amor é feito espelho:
-tem que ter reflexo.
Pablo Neruda

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
Mário Quintana

Vou dormir, tô cansado
Eu

Tem coisa que é óbvia, nao vê quem nao quer

terça-feira, 23 de junho de 2009

Onde há fumaça há fogo

É Sao Joao
A fumaca das fogueiras atravessa o atlantico, entra pelas narinas
e encontra o caminho do coracao
que queima de saudade
batendo no compasso do forró
dois pra lá, dois pra cá
no auge da saudade que queima cheguei a sentir o cheiro da fumaca
o gosto da canjica e do milho
o cheiro do cangote no compasso do forró
dois pra lá, dois pra cá
Saudade queima a gente
vou ver se aproveito as brasas pra fazer de conta que tô comendo milho assado

Canção do amor imprevisto

Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau.
E a minha poesia é um vício triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.

Mas tu apareceste com a tua boca fresca de madrugada,
Com o teu passo leve,
Com esses teus cabelos...

E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender
nada, numa alegria atônita...

A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos.

Mario Quintana

Crônicas daqui

Esse povo daqui é meticuloso. Você chega na estacao pra apanhar o trem, ou o ônibus, e tao lá os minutos que você precisa esperar pra pegá-los. E quando o tempo destinado à esperá-los acaba o que acontece? Eles chegam! É verdade! Levanta os olhos que você vai ver o danado apontando no horizonte no minuto final. E quando ele chega, como num ritual protagonizado por máquinas educadas, todo mundo espera quem tá dentro descer pra poder entrar. E lá dentro fala-se pouco, os olhares nao se cruzam. Um dos meus passatempos preferidos é encarar as pessoas, só de relance - o que já é mais do que suficiente - e vê-las baixando o olhar (juro, é engracado). Por aqui espera-se sempre, também, o semáforo do pedestre abrir para se atravessar a rua. Há lugar pro pedestre atravessar e pra quem está de bicicleta atravessar. As calcadas também têm seus espacos divididos entre pedestres e ciclistas, os quais têm sua parte construída de tijolinhos vermelhos pra poder diferenciar da parte do pedestre, e eu já perdi a conta das vezes que levei fino de bicicleta porque tava andando no lugar à elas reservado. Pois é, tudo no seu devido lugar como o quarto de alguém que tem TOC por arrumacao. Mas há um lugar que destoa no meio desta mesmice mórbida: Quando se atravessa a Hauptbahnhof (estacao principal) em direcao ao supermercado, o Rewe, a gente dá numa rua em que os semáforos estao bem distantes do local mais cômodo de travessia e o povo (aquele mesmo povo que nao olha nos olhos, espera sempre o semáforo e pinta a calcada de vermelho para as bicicletas andarem) atravessa no meio dos carros sob o som do buzinaco, apertado entre a reforma que estao fazendo na lateral da hauptbahnhof e o terminal do outro lado da rua, de onde saem ônibus diariamente até berlim, onde sempre há aquele furdunco de feira com gente colocando as malas nos ônibus, descendo e subindo, saindo e voltando. E é aí, leitor, neste cenário que acabo de descrever, onde me sinto melhor durante o dia. Sim, porque passo nessa rua quase todo dia, exercitando o velho "agora dá" que tanto pratico na minha terra. Esta descontrucao da meticulosidade germânica alimenta minha alma com a sensacao de algo muito familiar. É engracado ver os sisudos cidadaos de Dresden dando carreira pra atravessar, entre um carro e outro, driblando os ônibus, constrangidos por nao estarem sobre a faixa de pedestres nem respaldados pela luz verde do semáforo. Meu dia se regozija em ver quebrado este ritmo de linha de producao indefectível. Esta ilha de improviso no meio de um mar de tédio-certinho-demais enche de graca o dia que vou ter pela frente ajudando-me a sacudir a poeira da melancolia e levantar os olhos pro que há de vir, pensar em quem me espera, olhar pros lados e sorrir, e seguir em frente.

Como eu gostaria que já fosse amanha

Você acordou, agitado, no meio da noite:
- Tive um sonho horrível. Conto amanhã, quando estivermos vivos. Quero que já seja amanhã. Por que você não faz que agora seja amanhã? Como eu gostaria que já fosse amanhã.

Eduardo Galeano

domingo, 21 de junho de 2009

Dízima Periódica

Atravessamos a rua na frente da hauptbahnhof. Sería a última vez que faríamos isso juntos. Nos dirigíamos até o fast food que há dentro da estacao. Já sentia na boca o gosto amargo da despedida que aconteceria dali a algumas horas. Estávamos pra fazer o que mais faziamos aqui em Dresden, também pela última vez: Comer sem se preocupar em "viver-rer-ver-mais diminuindo a quantidade de gudú-de-gudúra". A gente sempre se contentou com pouco: Bastava nos juntarmos para rirmos, e alto, até dos vídeos do you tube, antes pra mim sem graca, confesso. Este foi o clímax desta história toda: Apenas estarmos juntos já era um filme de comédia, ou às vezes um drama compartilhado. Deise encontrou Rodrigo e Priscila no supermercado enquanto eles falavam português achando que ninguém estava entendendo, e a partir daí só nos separamos na frente daquele trem que levou vocês até o aeroporto. E agora sem o "meu" e o "terrrca" de vocês vai ficar difícil achar graca em tudo por aqui. O drama pode até continuar, já as comédias, com certeza, tornar-se-ao mais raras. Mas tenho certeza que a gente vai se encontrar de novo, porque nosso senso apurado de justica nao vai permitir que alguém pague a conta do burguer king mais que os outros. A conta, vocês lembram, deu uma dízima periódica: 3,66666... pra cada. E agora teremos que nos reunir indefinidamente para pagarmos esses 0,6666 que nos amarrou num nó que nao desata. Vocês podem até arranjar uma maneira fácil de resolver este problema. Pra mim nao dá, conta nao é comigo. Quero ver resolver o problema da conta da saudade, que já está crescendo, e, eu sei, aumentará páginas e páginas ainda. Mas nossa amizade, dividindo por quatro, nunca acaba. Resulta num número de casas decimais infinitas. O que sentimos uns pelos outros nada mais é que uma dízima periódica.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

A Bad Dream (ou O que sinto hoje)

"I wake up, it's a bad dream, no one on my side
I was fighting but I just feel too tired to be fighting
Guess I'm not the fighting kind
Wouldn't mind it if you were by my side
But you're long gone, yes you're long gone now"