Tem sido constante minha resistência aos ícones da cultura pseudo-cult, no Brasil e no mundo. Porque me dá raiva quando a pessoa nunca leu um livro sequer de tal ou qual autor, nunca viu um quadro daquele pintor, nunca leu um poema do escritor que apareceu naquela reportagem da Globo (e que só conhece porque apareceu na globo), mas cita as obras como se fosse íntimo dela.s Qual o problema em dizer que nunca leu um poema de Bukowski, não entende os filmes de David Linch, ou acha que os quadros de Miró poderiam ser pintados por uma criança? (É, eu acho isso tudo mesmo). Qual o problema de dizer "não vi", "não li", "não gostei"? Na música acontece a mesma coisa: Sempre tem aquela bandinha cult do momento que você não pode dizer "não gostao" sob pena de ser fuzilado pelos olhares raivosos dos ativistas cults de plantão. A bandinha do momento se chama Beirut, grupo americano que faz uma mistura nada comum com ritmos oriundos dos balcãs - muito sopro, muita percussão e vocais quase gregorianos. A banda é boa, ou melhor, muito boa.Mas justamente por estar nesta fase "ojeriza dos ícones cult" deixei de ouvir esta banda mais atentamente (e de desfrutar também). Mas, convenhamos, haja radicalismo. Peço, porém, que exercite sua alteridade, leitor, e entenda minha situação, meu contexto. Eu não estava mais conseguindo lidar com os pseudo-cults e tudo o que vinha deles me irritava de antemão. Mas, no que diz respeito ao Beirut, fui salvo a tempo. Gabriela começou com uma afirmativa contundente "Não sei como tu não gosta". Fiquei pensando nisso: Ela foi tão incisiva. E aquilo ficou na minha mente: não sei como tu não gosta, não sei como tu não gosta, não sei... E, paulatinamente, me deixava links de clipes no youtube, falava daquela música e daquela outra, de suas nuances e peculiaridades, enfim. Tem mais: Ela estava com crédito, leitor. Escutei o cd novo de Eddie por causa dela e agora não paro de ouvir, quase não sobra nada. Foi aí que aconteceu o clímax desta história: escutei "post card from italy" e posso dizer que foi algum tipo de êxtase que senti quando isto aconteceu. Um mundo paralelo se formou enquanto ouvia esta música no camaragibe\cdu à caminho da faculdade. Eu ficava balançando a cabeça, batendo com as mãos nas pernas, cantarolando sem saber se estava sendo ouvido ou nao, e sem ligar nem um pouco pra isso também. visto eu estava sendo, com certeza, naquele outro mundo criado entre mim e meu mp4, mas esqueci de tudo, só sentia aqueles acordes. Aconteceu parecido quando li o começo de "a insustentável leveza do ser" de Milan Kundera, quando vi "os girassóis "de van gogh, quando assisti o final de cegueira, quando ouvi lenine tocando "só o que me interessa" no teatro da ufpe, quando ouvi los hermanos, de olhos fechados (e fazendo o gesto do trompete), durante o solo de "além do que se vê" num show no internacional. Qual a arte que mais nos comove? Qual a arte mais arte, que mais toca o coraçao? Música, literatura, pintura, cinema? É possível responder esta pergunta? Cada um deve ter a sua preferida. Ainda bem que não preciso escolher, que posso ficar com todas e me emocionar com cada uma. E pra concluir esta salada que foi este texto, leitor, duas recomendaçoes e um agradecimento: Leia, escute, veja. Procure músicas de artistas que você ainda não conhece na internet, leia autores novos, se você um dia for na europa não pense nas farras apenas, visite os melhores museus do mundo, vá ao cinema, se achar caro, baixe na net também. Seja mais humilde, não se torne um pseudo-cult. Nunca vi, nunca li, não sei, não matam ninguém. E obrigado, amor, por me conhecer mais do que eu mesmo, às vezes.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
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Um comentário:
Gostei da parte de Miró...!
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