Conversando com uma amiga (muito especial!) que compartilhou comigo um texto( e que texto!) de sua autoria sobre o "se sentir sem amigos" me veio a memória uma reflexão que escrevi em fevereiro deste ano. Compartilho-a, então, agora.
Para Carla de Paula, que está ciente de que às vezes nos setimos sós, mas há, sempre, a quem recorrer:
Será que sou um egoísta, narcisista, egocêntrico? Tão insuportável ao ponto das pessoas me abandonarem?
Ou não tenho a mínima habilidade em cativar? Será que estou condenado a repelir todos que de mim se aproximam?
Um bicho anti-social, recluso num mundo por mim criado, rodeado de paredes concretadas?
Sinto-me tão sozinho. Pareço não ter amigos.
Veja mesmo! Agora. Neste exato instante... Eu queria ter alguém para conversar. E então esse alguém ouviria que estou com vontade de chorar, mas não sei por quê. Que tenho muito medo, não sei dizer ao certo do que. A insegurança, a incerteza e a ansiedade tentam invadir minha alma e eu não tenho ninguém pra engrossar as fileiras comigo e dar cabo a esta covarde peleja de três contra um. Alguém com o intuito de ligar pra mim somente para perguntar o que vou fazer amanhã. Onde estão meus amigos? Eu os tenho?
Não quero ser injusto com um grande amigo meu. Sei de suas ocupações... Mas será, que até com suas ocupações, ou com as ocupações de qualquer um dos que considero amigos, não poderíamos nos ver mais? Esta corrida louca obriga-nos a abdicar dos momentos realmente importantes desta nossa pequena e efêmera jornada. Não, amigos! Devemos passar mais tempo juntos do que nas filas dos bancos, nos engarrafamentos, nos ônibus, discutindo com o nosso cônjuge, falando mal do nosso chefe, reclamando por que está chovendo, e se não chove por que está calor, o dinheiro não dá, queria trocar de carro, de casa, de esposa, marido, sogra, cachorro, celular. Menos shopings, mais noites conversando nos terraços de nossas casas. Menos “preciso disso”, mais “preciso deles”, Menos “vamos marcar”, mais “vamos mesmo”, menos “E aí?”, mais “estou aqui”.
Sinto falta de vocês, amigos!
Eu não tenho, agora, quem me ouça. Somente estas páginas podem me ouvir, e elas me entendem! Gostaria de dá-las melhores palavras, mais bem selecionadas, verbetes que as afagassem da mesma forma como o carinho que agora me falta. Gostaria de receber um abraço neste momento, ou alguém dizendo: Calma! Estou aqui! Eu sei amigas páginas, vocês não sabem falar, mas são boas em ouvir, e eu agradeço.
Não que eu não tenha uma turma pra sair. Não que se eu fizer uma ligação agora não encontre quem conversar. É que eu quero meus amigos! Fidelidade! Cumplicidade! “Hasta la muerte”! Uma parceria igual a de Tom e Vinicius, ou Tom, Vinicius, Elis, Toquinho, Chico e Milton. Como a de Moisés e Arão, Isaias e Ezequias, Davi e Jônatas, Barnabé e Paulo. Eu e Wellington, ou eu, Wellington, Sávio, Nemésio, Rafael, Helton, Paulinho, Ana Teresa e Mônica.
Sinto falta de vocês, amigos!
Mas espera aí... Alguém bate a minha porta! Abro. Ele entra, senta ao meu lado e me diz que no momento de maior desespero de sua vida foi abandonado pelos seus. Fala-me sobre uma aflição tamanha por ele sentida, quase sobre-humana, a ponto de seus vasos capilares se romperem e o sangue sair pelos poros, e, exatamente neste instante, seus amigos estavam dormindo ao invés de estarem compartilhando tal sofrimento. E no momento extremo, nem a presença de seu Pai pôde compartilhar. Ele me dá um abraço e diz: “Calma! Estou aqui!”. Não sei mais o que dizer... Apenas choro! Deito minha cabeça em seu colo, percebo o seu carinho, suas mãos estão afagando minha cabeça. E ele começa a me contar uma história...