Não aguentava mais aquela insistência da 'ex' em rememorar o imemorável. Ligações, e-mails, scraps, cartas, sms(s), comentários em seu blog e tudo o mais com a finalidade de fazer com que ele não esquecesse dela . Percebia até que, de vez em quando, ela descia uma parada antes da costumeira, somente pra passar em frente de sua casa e olhar se não estava conversando com ninguém estranho, ou melhor, estranha. É porque ele tinha este voyerismo: de conversar com suas paqueras na porta de casa – ela mesma já tinha sido a “da vez” que batia papo em frente ao portão dele. Ele até já tinha pensado em aconselhá-la (ironicamente, pressupõe-se) de entrar no MADA (Mulheres que Amam Demais Anônimas) mas não o fez, pois não queria machucá-la. Ele a considerava, de verdade. Passaram muito tempo juntos e não queria vê-la sofrer. Gostava dela e queria apenas que ela seguisse o seu caminho pra que ele seguisse o seu também.
Mas não adiantava: Considerando esta atitude como a cartada final, ela pregou, na porta da casa do rapaz, a letra de uma música. Como sabia que adorava Chico Buarque, foi com essa:
Vem, por favor não evites
Meu amor, meus convites
Minha dor, meus apelos
Vou te envolver nos cabelos
Vem perde-te em meus braços
Pelo amor de Deus
Vem que eu te quero fraco
Vem que eu te quero tolo
Vem que eu te quero todo meu*
Ao sair de casa pra trabalhar cedo, deparou-se com o cartaz pregado na porta. Ficou espantado, sensibilizado até, mas nem mesmo Chico conseguiu demovê-lo de fugir da prisão que aquele relacionamento significava pra ele. Lembrou de como era o seu cotidiano ao lado dela: seu celular funcionava como um gps pra que ela não o perdesse de vista – uma ligação quando saía do trabalho, outra quando chegava na faculdade, mais uma quando saía dela e a derradeira quando chegava em casa e, em todas, as mesmas perguntas: Tá onde? Já chegou? Ainda não? Tá com quem? Eu quero nomes!!! Não cogitava mais viver naquela prisão constante. Retirou o cartaz, e, logo abaixo do trecho da letra escolhida por ela, começou a responder com uma letra do novo Chico.. Escreveu rápido, sem hesitar. Ouvia tanto aquela banda que as letras dela estavam num depósito especial de sua mente. Acabou de escrever e deu dois passos pra trás a fim de verificar se estava tudo legível, certinho. Entrou no carro e foi embora cantando:
Adeus você
Eu hoje vou pro lado de lá
Eu tô levando tudo de mim
Que é pra não ter razão pra chorar
Vê se te alimenta
E não pensa que eu fui por não te amar
Cuida do teu
Pra que ninguém te jogue no chão
Procure dividir-se em alguém
Procure-me em qualquer confusão
Levanta e te sustenta
E não pensa que eu fui por não te amar
Quero ver você maior, meu bem
Pra que minha vida siga adiante
Adeus você
Não venha mais me negacear
Teu choro não me faz desistir
Teu riso não me faz reclinar
Acalma essa tormenta
E se agüenta, que eu vou pro meu lugar
É bom...
Às vezes se perder
Sem ter porque
Sem ter razão
É um dom...
Saber envaidecer
Por si
Saber mudar de tom
Quero não saber de cor, também
Pra que minha vida siga adiante**
****************
* Sem fantasia (Chico Buarque)
** Adeus você (Marcelo Camelo)
2 comentários:
*na verdade, é Sem Fantasia. a música de chico.
sem compromisso é: você só dança com ele e diz que é sem compromisso...
=)
É verdade, Joana. Já tá corrigido. Obrigado!
Postar um comentário