quarta-feira, 18 de junho de 2008

Mais um

Mais um ano onde busco me livrar dos desenganos
Já tenho vontade de retroceder na contagem
ou de paralisá-la
Mais um ano de construção de sonhos e colheita de planos
colheita de dias
mais um, amigos
mais um, queridos
pois sem vocês todos eles não seriam nada
e os que virão somente poeira na estrada
e o que fazer?
comemorar
agradecer
chorar
sorrir
viver
mais...
quero me dar um presente: a vitória na partida contra o medo (o medo do futuro)
e ele - o presente - virá embalado numa caixa grande envolta numa fita verde.
dentro da caixa, além da vitória na já falada partida, muitas certezas;
traquitanas, penduricalhos de alegria e firmeza (de caráter);
um frasquinho com uma gargalhada guardada
e um livro, um diário com folhas de ouro e uma caneta mágica.
ela escreveria o resto de meus dias:
pego a caneta
abro o livro
o escuro do meu quarto se ilumina
e começo a escrever...

terça-feira, 17 de junho de 2008

Valeu a pena

Tenho me tornado outro. Paulatinamente moldei um outro em mim mesmo: novos objetivos, novos sonhos, novos amigos, nova vida- Há quem diga que passei por uma metamorfose. Venho me despindo, gradativamente, de um 'eu' e vestindo-me deste 'eu-outro'. Daquele que já estudou economia, trabalhou no quadro gerencial de uma banco e foi líder de jovens em uma igreja evangélica não sobrou quase nada. No final deste mês dispo-me da última peça das velhas roupas. A iminência disto me dá ansiedade, medo, angústia. Porque não haverá como voltar e correr em busca da roupa já despida. Novas peças no cabide me esperam - Ansiedade, medo, angústia. Que a esperança possa emergir sobrepujando tudo. Esperança, Fé e Amor - As três coisas mais importantes da vida aplainando os caminhos tortuosos. E no final espero encontrar o palco montado, o microfone ligado e a banda afinada pra que eu cante: " Valeu a pena!!!..."

domingo, 15 de junho de 2008

Paixão


Amo tua voz e tua cor
E teu jeito de fazer amor
Revirando os olhos e o tapete
Suspirando em falsete
Coisas que eu nem sei contar...

Ser feliz é tudo que se quer
Ah! Esse maldito fecheclair
De repente
A gente rasga a roupa
E uma febre muito louca
Faz o corpo arrepiar...

Depois do terceiro
Ou quarto copo
Tudo que vier eu topo
Tudo que vier, vem bem
Quando bebo perco o juízo
Não me responsabilizo
Nem por mim
Nem por ninguém...

Não quero ficar na tua vida
Como uma paixão mal resolvida
Dessas que a gente tem ciúme
E se encharca de perfume
Faz que tenta se matar...

Vou ficar até o fim do dia
Decorando tua geografia
E essa aventura
Em carne e osso
Deixa marcas no pescoço
Faz a gente levitar...

Tens um não sei que
De paraíso
E o corpo mais preciso
Que o mais lindo dos mortais
Tens uma beleza infinita
E a boca mais bonita
Que a minha já tocou...

Kleiton e Kledir

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Rogo-vos

Amigos podem mudar o curso de nossas vidas. Tolstói poderia dizê-lo com todas as forças. Após decidir se retirar de cena, desistir da literatura, e viver recluso em uma de suas propriedades, ele recebe uma carta de um grande amigo, Turgueniêv. Não era uma carta qualquer, Turgueniêv estava à beira da morte e suas letras continham um último pedido: Tolstói, meu amigo, volte para a literatura! Não há como se certificar se foi por causa desta carta que Tolstói voltou a escrever, pode-se dizer, no entanto, que, após ela, “A morte de Ivan Ilitich”, considerada pelos críticos uma das maiores novelas da história, surgiu para agraciar leitores no mundo inteiro. Dentre eles, eu. Só pude agradecer a Turgueniêv por esta carta, a Tolstói por este livro e aos meus amigos, sim, àqueles que presenciaram as alterações no curso de minha vida, influenciaram, foram influenciados, trouxeram esperanças, levaram conselhos e os trouxeram de volta, chegaram com ouvidos de compreensão, palavras de admoestação, choraram com as minhas conquistas, sorriram sorrisos de comunhão, preocuparam-se com minhas derrotas, regozijaram-se com as voltas por cima, amaram, foram amados, abraçaram, foram abraçados, quiseram, foram queridos, e, mesmo indo embora, deixaram um pouco de si, por terem feito de mim um outro-eu superior ao 'eu' que eu seria sem eles. Agora, já não sou mais eu. Sou eu-com-um-pouco-deles. Por favor, meus amigos, nunca deixem a literatura de vocês, seja ela qual for. Sei que vocês sabem quais as vossas literaturas: Não as deixem. Peço com a mesma intensidade de Turgueniêv. Peço, ainda, meus amigos: Não me deixem. Ainda que muitas vezes tenham vontade de fazê-lo. Como sou um outro após conhecê-los, tornei-me dependente de vós, parasita do que sou ao estar convosco. Como numa hemodiálise, renovo meu sangue repleto de toxinas de tristeza ao compartilhar nossos projetos de um futuro que cada vez mais se encurta e se torna realidade. Como um pretenso grande sábio tentarei gravar nas tábuas de vossos corações esta máxima: Nunca deixem seus propósitos e, ao chegarem lá, roguem para que seus amigos não tenham ficado pra trás.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Foi Drummond quem disse

Este o nosso destino: amor sem conta,

distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,

doação ilimitada a uma completa ingratidão,

e na concha vazia do amor a procura medrosa,

paciente, de mais e mais amor.


Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa

amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.


Carlos Drummond de Andrade em "Amar"

domingo, 8 de junho de 2008

O impostor que vive em mim


Dentro de nós reside um monstro cuja face insistimos em esconder. Nas nossas interações sociais manipulamos papéis no intuito de apresentar aos outros nossas melhores virtudes, encobrindo os piores defeitos e apresentando, sempre, ainda que inconscientemente, a imagem que desejamos os outros terem de nós, nunca a verdadeira, despojada de dramatizações. Sinto, tantas vezes, conviver com um monstro cá dentro, monstro que tento domesticar, mas que tenta emergir a cada contrariedade, a cada decepção, a cada conflito. Egoísmo, ciúme, hipocrisia, fingimento, indiferença: venenos da alma putrefando o corpo. E cada vez que alguém vai se aproximando ao ponto de, ainda que só de soslaio inicialmente, perceber esta besta enfurecida de tantos defeitos, o medo começa a tomar conta de tudo, um pavor incontrolável da descoberta deste terrível segredo: o impostor que vive em mim. Afaste-se! É o que eu tento dizer, mas o grito sai rouco, sem forças. Mas nisto há também sua dose de egoísmo: ninguém quer ficar sozinho (ora bolas!). Dividir a existência com o outro-eu contra quem se há de ter apenas vergonha e decepção, sempre, não é lá uma tarefa que se diga das mais simples, leitor; cansei-me. Dar aos outros a oportunidade de conhecer este outro-vil pode ser a oportunidade para que o lado obscuro envergonhe-se de si e passe a querer uma transformação. Isto mesmo, leitor! É isto mesmo! Eureka! Só dando a conhecer a parte obscura, putrefata de vileza, pode-se buscar a redenção. E a redenção virá na verdade, no amor que ama uma negação, numa tese em busca de uma antítese, em quem não tem medo da verdade. A verdade é crua, não dramatiza, nunca vem enfeitada, mas liberta. Sim, e é isto que eu preciso...