domingo, 8 de junho de 2008

O impostor que vive em mim


Dentro de nós reside um monstro cuja face insistimos em esconder. Nas nossas interações sociais manipulamos papéis no intuito de apresentar aos outros nossas melhores virtudes, encobrindo os piores defeitos e apresentando, sempre, ainda que inconscientemente, a imagem que desejamos os outros terem de nós, nunca a verdadeira, despojada de dramatizações. Sinto, tantas vezes, conviver com um monstro cá dentro, monstro que tento domesticar, mas que tenta emergir a cada contrariedade, a cada decepção, a cada conflito. Egoísmo, ciúme, hipocrisia, fingimento, indiferença: venenos da alma putrefando o corpo. E cada vez que alguém vai se aproximando ao ponto de, ainda que só de soslaio inicialmente, perceber esta besta enfurecida de tantos defeitos, o medo começa a tomar conta de tudo, um pavor incontrolável da descoberta deste terrível segredo: o impostor que vive em mim. Afaste-se! É o que eu tento dizer, mas o grito sai rouco, sem forças. Mas nisto há também sua dose de egoísmo: ninguém quer ficar sozinho (ora bolas!). Dividir a existência com o outro-eu contra quem se há de ter apenas vergonha e decepção, sempre, não é lá uma tarefa que se diga das mais simples, leitor; cansei-me. Dar aos outros a oportunidade de conhecer este outro-vil pode ser a oportunidade para que o lado obscuro envergonhe-se de si e passe a querer uma transformação. Isto mesmo, leitor! É isto mesmo! Eureka! Só dando a conhecer a parte obscura, putrefata de vileza, pode-se buscar a redenção. E a redenção virá na verdade, no amor que ama uma negação, numa tese em busca de uma antítese, em quem não tem medo da verdade. A verdade é crua, não dramatiza, nunca vem enfeitada, mas liberta. Sim, e é isto que eu preciso...

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