Dentro de nós reside um monstro cuja face insistimos em esconder. Nas nossas interações sociais manipulamos papéis no intuito de apresentar aos outros nossas melhores virtudes, encobrindo os piores defeitos e apresentando, sempre, ainda que inconscientemente, a imagem que desejamos os outros terem de nós, nunca a verdadeira, despojada de dramatizações. Sinto, tantas vezes, conviver com um monstro cá dentro, monstro que tento domesticar, mas que tenta emergir a cada contrariedade, a cada decepção, a cada conflito. Egoísmo, ciúme, hipocrisia, fingimento, indiferença: venenos da alma putrefando o corpo. E cada vez que alguém vai se aproximando ao ponto de, ainda que só de soslaio inicialmente, perceber esta besta enfurecida de tantos defeitos, o medo começa a tomar conta de tudo, um pavor incontrolável da descoberta deste terrível segredo: o impostor que vive em mim. Afaste-se! É o que eu tento dizer, mas o grito sai rouco, sem forças. Mas nisto há também sua dose de egoísmo: ninguém quer ficar sozinho (ora bolas!). Dividir a existência com o outro-eu contra quem se há de ter apenas vergonha e decepção, sempre, não é lá uma tarefa que se diga das mais simples, leitor; cansei-me. Dar aos outros a oportunidade de conhecer este outro-vil pode ser a oportunidade para que o lado obscuro envergonhe-se de si e passe a querer uma transformação. Isto mesmo, leitor! É isto mesmo! Eureka! Só dando a conhecer a parte obscura, putrefata de vileza, pode-se buscar a redenção. E a redenção virá na verdade, no amor que ama uma negação, numa tese em busca de uma antítese, em quem não tem medo da verdade. A verdade é crua, não dramatiza, nunca vem enfeitada, mas liberta. Sim, e é isto que eu preciso...
domingo, 8 de junho de 2008
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