quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Trocando em miúdos

Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde.
Chico Buarque (Trocando em Miúdos)

Mas era justamente o fraco que devia saber ser forte
e partir quando o forte fosse fraco demais
para poder ofender o fraco.
Milan Kundera (A insustentável leveza do ser)


Eram diferentes demais. Eduardo e Mônica só existem na música de Renato Russo mesmo.
Sim, ele sabia disso, mas estava sozinho e solidão é coisa com a qual ele não sabia conviver.
Bem, ela tava sozinha, ele também, por que não tentar?
Uma vez dentro, percebeu que o mundo dela era tão distante do seu que sentia estar falando tcheco enquanto ela entendia em húngaro, respondia em mandarim e gravava as coisas em russo.
Minha gente! Este negócio que os opostos se atraem é conversa! Não acreditem nisso, pelo amor de Deus! Era o seu mais novo conselho aos amigos.
Não o condenem. Ele fez força para manter o imantível. Sentia-se como um malabarista que via seus pratos, antes bem equilibrados, caindo um a um sem mais ter braços para aparar sua queda. A sensação era sufocante. Queria sair dali desesperadamente mas não conseguia fazê-lo. Sim leitor, ele era covarde, fraco. Desde o primeiro momento sabia que iria dar nisso. Mas atire a primeira pedra quem nunca errou, amou errado, ou amou demais porque tem muito amor guardado; e amor guardado apodrece se não encontrar um coração-destino.
Quando saiu de lá sentiu alívio e cantou, mesmo com o peito dilacerado, zerado de amor, mesmo sem as sobras de tudo, cantou, mesmo sem marcas de amor nos lençóis, cantou, mesmo sem ela ter levado seu Neruda, cantou, trocando em miúdos, cantou.

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