quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Discussão

se você pretende sustentar opinião
e discutir por discutir
só para ganhar a discussão
eu lhe asseguro, pode crer
que quando fala o coração
as vezes é melhor perder
do que ganhar, você vai ver
já percebi a confusão
você quer prevalecer
a opinião sobre a razão
não pode ser, não pode ser
pra que trocar o sim por não
se o resultado é solidão
em vez de amor uma saudade
vai dizer quem tem razão

João Gilberto

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

domingo, 1 de novembro de 2009

Assim é mais gostoso


Clássico é clássico e vice-versa, já dizia Jardel. Não dá pra fazer prognóstico. Não interessa quem está num melhor momento, pode-se apostar em qualquer um. Quem cometer menos erros, acertar mais detalhes, tiver mais sangue frio, leva. Só quem nao sabe disso são os torcedores da cachorra de peruca que tem o hábito de cantar vitória antes do tempo. Já davam os 3 pontos da vitória sobre o Náutico, nos Aflitos, como certa. Jogo acabado e eu fico imaginando como devem estar agora as caras dos torcedores da Susie do mangue que já preenchiam mais uma vitória na sua tabelinha de jogos do campeonato brasileiro. Pra vocês só sobrou uma lanterna. E não esqueçam, continuem assim... Ganhar desse jeito é mais gostoso.
Pra cima deles, timbu!!

domingo, 25 de outubro de 2009

travessia

lutando contra o demônio da distância
sofrendo o pão que a saudade amassou
arguindo o deus do tempo
reclamando pros arquitetos do desencontro
chorando ao anjo da presença
debatendo-se contra o espírito da dúvida
clamando por não sei mais o que
gritando por socorro
pedindo reforços
aprendendo a voar e andar sobre as águas do atlântico
brigando pra acreditar
afundando na solidão de um mais um domingo à noite
segurando uma mão que nunca chega, que não me deixe submergir
curvando-se à entidade ceticismo mas apelando à deusa do reencontro
40 dias e 40 noites no deserto da desistência
mas confiando sempre no que acredita ser o amor

conversas

ei, tu é legal
sou?
é, sim
sempre me achei chato
mas tu é tão engraçado
eu sou engraçado?
por que o espanto?
eu sempre me achei chato, quase um anti-social, do tipo "pareço legal, mas sou metido"
que história! nem combina contigo
oxe, que estranho. mas pensando bem, quem me conhece mesmo gosta de mim
tá vendo!
e por que eu sempre achei que sou chato?
te fizeram pensar isso. mas fizeram errado
po, valeu
de nada. xau, chato
¬¬ xau

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Duas recomendaçoes e um agradecimento

Tem sido constante minha resistência aos ícones da cultura pseudo-cult, no Brasil e no mundo. Porque me dá raiva quando a pessoa nunca leu um livro sequer de tal ou qual autor, nunca viu um quadro daquele pintor, nunca leu um poema do escritor que apareceu naquela reportagem da Globo (e que só conhece porque apareceu na globo), mas cita as obras como se fosse íntimo dela.s Qual o problema em dizer que nunca leu um poema de Bukowski, não entende os filmes de David Linch, ou acha que os quadros de Miró poderiam ser pintados por uma criança? (É, eu acho isso tudo mesmo). Qual o problema de dizer "não vi", "não li", "não gostei"? Na música acontece a mesma coisa: Sempre tem aquela bandinha cult do momento que você não pode dizer "não gostao" sob pena de ser fuzilado pelos olhares raivosos dos ativistas cults de plantão. A bandinha do momento se chama Beirut, grupo americano que faz uma mistura nada comum com ritmos oriundos dos balcãs - muito sopro, muita percussão e vocais quase gregorianos. A banda é boa, ou melhor, muito boa.Mas justamente por estar nesta fase "ojeriza dos ícones cult" deixei de ouvir esta banda mais atentamente (e de desfrutar também). Mas, convenhamos, haja radicalismo. Peço, porém, que exercite sua alteridade, leitor, e entenda minha situação, meu contexto. Eu não estava mais conseguindo lidar com os pseudo-cults e tudo o que vinha deles me irritava de antemão. Mas, no que diz respeito ao Beirut, fui salvo a tempo. Gabriela começou com uma afirmativa contundente "Não sei como tu não gosta". Fiquei pensando nisso: Ela foi tão incisiva. E aquilo ficou na minha mente: não sei como tu não gosta, não sei como tu não gosta, não sei... E, paulatinamente, me deixava links de clipes no youtube, falava daquela música e daquela outra, de suas nuances e peculiaridades, enfim. Tem mais: Ela estava com crédito, leitor. Escutei o cd novo de Eddie por causa dela e agora não paro de ouvir, quase não sobra nada. Foi aí que aconteceu o clímax desta história: escutei "post card from italy" e posso dizer que foi algum tipo de êxtase que senti quando isto aconteceu. Um mundo paralelo se formou enquanto ouvia esta música no camaragibe\cdu à caminho da faculdade. Eu ficava balançando a cabeça, batendo com as mãos nas pernas, cantarolando sem saber se estava sendo ouvido ou nao, e sem ligar nem um pouco pra isso também. visto eu estava sendo, com certeza, naquele outro mundo criado entre mim e meu mp4, mas esqueci de tudo, só sentia aqueles acordes. Aconteceu parecido quando li o começo de "a insustentável leveza do ser" de Milan Kundera, quando vi "os girassóis "de van gogh, quando assisti o final de cegueira, quando ouvi lenine tocando "só o que me interessa" no teatro da ufpe, quando ouvi los hermanos, de olhos fechados (e fazendo o gesto do trompete), durante o solo de "além do que se vê" num show no internacional. Qual a arte que mais nos comove? Qual a arte mais arte, que mais toca o coraçao? Música, literatura, pintura, cinema? É possível responder esta pergunta? Cada um deve ter a sua preferida. Ainda bem que não preciso escolher, que posso ficar com todas e me emocionar com cada uma. E pra concluir esta salada que foi este texto, leitor, duas recomendaçoes e um agradecimento: Leia, escute, veja. Procure músicas de artistas que você ainda não conhece na internet, leia autores novos, se você um dia for na europa não pense nas farras apenas, visite os melhores museus do mundo, vá ao cinema, se achar caro, baixe na net também. Seja mais humilde, não se torne um pseudo-cult. Nunca vi, nunca li, não sei, não matam ninguém. E obrigado, amor, por me conhecer mais do que eu mesmo, às vezes.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Sai daí

E hoje me deu vontade de ler Clarice, Caio Fernando Abreu, essas coisas.
Por que tem gente que quando tá sofrendo quer alimentar o sofrimento?
Pra mim sofrimento é parasita: se alimenta de força vital. Empurra pra baixo. Puxa um cobertor de sombras.
Mas os poetas devem saber o que fazem...
Se você pensar bem, falar de sofrimento deve servir pra expurgá-lo, não pra alimentá-lo, domesticá-lo, sei lá.
Porque quando você fala dele, ou com ele, desperta este bicho que está arraigado lá dentro num recôndito no qual você não encontraria se o deixasse quieto. Aí você senta na sala com ele, cara a cara, tal qual uma acareação. E aí você força um movimento pra fora, como quem força um vômito
Sai daí!
Não vou te dar sossego!
Pra matar verme só remédio, Clarice, Caio Fernando Abreu...

Juntos

E hoje eu achei uma graça que só se acha juntos
mas não tinha ninguém que achasse a mesma graça comigo
e tive vontade de comer comida gostosa
mas que só fica gostosa comendo juntos
e tive vontade de assistir um filme, mas filme que é bom mesmo se assiste juntos
e eu cheguei em casa com coisas pra contar
mas coisas pra contar só se contam juntos
e eu entrei no quarto
tranquei a porta
pra chorar escondido
mas até isso só presta juntos

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Por debaixo da porta

"Coloquei minha cópia da chave por debaixo da porta"

Frio assim. Simples assim. Estranho assim
Vai-se ele. A quem nunca consegui entender.
Enviou e-mail para os colegas com este aviso.
Triste.
As coisas acabam assim,
Com as chaves por debaixo da porta

sábado, 25 de julho de 2009

Eu tô voltando

Pode ir armando o coreto
E preparando aquele feijão preto
Eu tô voltando

Põe meia dúzia de Brahma pra gelar
Muda a roupa de cama
Eu tô voltando

Leva o chinelo pra sala de jantar
Que é lá mesmo que a mala eu vou largar
Quero te abraçar, pode se perfumar
Porque eu tô voltando

Dá uma geral, faz um bom defumador
Enche a casa de flor
Que eu tô voltando

Pega uma praia, aproveita, tá calor
Vai pegando uma cor
Que eu tô voltando

Faz um cabelo bonito pra eu notar
Que eu só quero mesmo é despentear
Quero te agarrar
Pode se preparar porque eu tô voltando

Põe pra tocar na vitrola aquele som
Estréia uma camisola
Eu tô voltando

Dá folga pra empregada
Manda a criançada pra casa da avó
Que eu to voltando

Diz que eu só volto amanhã se alguém chamar
Telefone não deixa nem tocar
Quero lá, lá, lá, ia, porque eu to voltando!
g
Paulo César Pinheiro e Mauricio Tapajós

terça-feira, 7 de julho de 2009

Crônicas daqui (II) ou E eles o chamaram de "O Iluminado"

Primeira viagem na Europa. Expectativa em alta. Queria conhecer o muro de Berlim e respirar aquela atmosfera densa como se um livro de história esquecido no canto da estante fosse aberto repentina e bruscamente, e a poeira que dele saísse, empapando o ar, nos transportasse para a época tratada e retratada naquelas linhas e fotos. E foi assim que me senti andando pelas ruas, vendo o portal de Brandenburgo de perto, nos museus, na beira do Spree, no monumento aos judeus, no obelisco da vitória. Mas o que realmente ficou desta viagem foi o que a fatídica noite do sábado tinha reservado pra mim . Enquanto meus colegas foram participar do pub crawl (uma peregrinacao à alguns bares e boates da cidade - fiz isso em Londres, mas disso eu falo depois), fiquei no albergue sofrendo com uma dor horrível no estômago. Deise também ficou, nao queria participar do tal evento. E enquanto eu me contorcia na cama, pois a dor me obrigava a ficar curvado, a gente conversava e discutia se iríamos ou nao à algum hospital. Como eu ia dizer o que estava sentindo em alemao? Só sabia dizer o que era dor, mas estômago aprendi só no dia, procurei no dicionário. Bem, ia ser difícil, mas Deise estava comigo e ela sabe falar muito bem. Pois bem, Deise desceu pra perguntar onde era o hospital mais próximo e a gente foi. Naquela noite fria, procurando o hospital, lembro que ela me olhava com medo de me ver desmaiar, tamanha era a cara de dor que fazia: - Tu tá bem? (imagine o sotaque gaúcho), lembro dela dizer a cada esquina que eu fazia mencao de desisitir e ficar por ali mesmo. E nada de acharmos o hospital. Depois de perguntarmos a uns garotos na rua e deles ouvirmos "immer geradeaus" (sempre em frente - parece que todo mundo tem esta resposta pronta quando perguntamos sobre alguma direcao), achamos o hospital. Sentei na recepcao porque nao aguentava mais ficar em pé de dor. Depois de várias perguntas que ela me fez, respondidas por Deise, já que eu nao aguentava nem falar, a atendendente pegou meus documentos e me perguntou de onde eu era: - Ich komme aus Brasilien, eu disse. Um médico entrou na conversa e, rindo aquele sorriso das coincidencias, disse: - Kommst du aus Brasilien? - Genau (isso mesmo), respondi. E aí, leitor, aconteceu a coisa mais inesperada (ou engracada, ou bizarra) de toda esta viagem que ainda nem acabou: - Eu 'fala' portugues "fluentximentxi", disse o médico. Eu vou te atender, completou. Só podiamos rir, sem saber o que fazer com aquela situacao que nos levou a um médico, dentre tantos outros médicos alemaes, que sabia falar portugues por ter feito, soubemos durante a consulta, residência na USP. Sorte? Pode até ser, mas o que dizer do que aconteceu numa das minhas primeiras noites em Dresden, quando me perdi e no meio da parte antiga da cidade, bem longe do caminho de casa, vagando desesperado por um ponto conhecido que me colocasse de volta na direcao certa, parei ofegante diante de duas garotas que conversavam na rua. Já cheguei falando inglês sem perguntar se podia. Geralmente perguntamos se o interlocutor pode falar inglês antes de comecarmos a usar este idioma em terras germânicas, mas o desespero, que trava o meu (já parco) alemao por completo, fez-me pular a parte da polidez e ir direto ao assunto: Como raios eu sairia dali. Uma das garotas perguntou-me onde morava, respondi e ela disse: - Eu estou de carro, levo você lá. O meu "an?" veio automaticamente, a fim de saber se eu havia entendido corretamente que aquela desconhecida iria me levar de carro, um desconhecido, até em casa. Era isso mesmo, leitor. Fui levado de carro em casa por uma alema que já havia feito viagens até ao Zimbábue e que planejava conhecer o Brasil. Falei-lhe de Recife, do Carnaval e me despedi agradecendo efusivamente já na porta de casa. Você, leitor, poderia dizer que o raio caiu duas vezes no mesmo lugar, mas se eu te contasse que no pub crawl de Londres, dentre tantos garcons que lá havia, fui atendido por um brasileiro, que depois dos cumprimentos recheados de saudades do Brasil, passou a oferecer, a mim e a Pedro, bebidas por conta da casa. Voltei do pub com Pedro repetindo, e rindo, insistentemente: Isso tem que ser com o Cleo! Se eu te dissesse que ainda em Berlim, esperando na fila pra comprar o ingresso do museu do cinema, uma alema, atrás de mim na fila, me abordou dizendo que falava portugues, interrompendo-me quando eu perguntava se a atendente também falava, pois eu havia ficado curioso ao vê-la atender o cliente à minha frente em espanhol, e já havia brincado com Deise que eu iria testar se esta coisa de atrair pessoas falantes de portugues funcionava mesmo. Se eu te dissesse também que, mais uma vez perdido em Dresden (é, nao sou bom de me localizar, você percebeu), após ter pego o bonde errado e ter ido parar num lugar nunca dantes visto por mim, saí correndo atrás dos passageiros que haviam descido ali também (detalhe: todos desceram, era o terminal) e consegui alcancar um deles a fim de pedir ajuda pra sair daquela enrascada. Este "um", após ouvir minha pergunta desesperada, em alemao, de como pegaria o caminho de casa, perguntou: - Você é brasileiro? Por que nao falou em portugues, porra! Se eu te dissesse isso tudo, o que você pensaria? Que o acaso me escolheu para ser agraciado? Nao sei. Sei que um dos brasileiros que estao aqui, nao lembro qual, preferiu me chamar de iluminado. E isso se tornou uma brincadeira recorrente sempre que saímos juntos. Todos ficam na expectativa de que algo deste tipo aconteca, como se eu fosse portador de alguma bem-aventuranca que revertesse situacoes de trevas em luz. Será?

quinta-feira, 2 de julho de 2009


"...as metáforas são perigosas.Não se brinca com as metáforas.O amor pode nascer de uma simples metáfora."

Milan Kudera - A insustentável leveza do ser

terça-feira, 30 de junho de 2009

Quando se apaga a luz dos olhos

Quando se apaga a luz dos olhos
nao se corre mais atrás da presenca
nao há mais frio na barriga na iminência
nem dor na ausência

Quando se apaga a luz dos olhos
a voz nao mais afaga os ouvidos
na comunicacao, só ruídos
e um buraco engole a voz, só se ouvem grunhidos
e um muro separa os corpos, agora perdidos

Quando se apaga a luz dos olhos
só um grito lancinante pra acordar da dor de um pesadelo
porque um sopro nao adianta pra manter a brasa que fumega
tem que ter um vento impetuoso pra varrer o desespero

Ei! Quero voltar pro tempo em que um sorriso bastava pra mandar embora minha dor

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Pensamentos do (meu) dia

melancolia
me.lan.co.li.a
sf (gr melagkholía)
1 Psicose maníaco-depressiva.
2 Estado de humor caracterizado por uma tristeza vaga e persistente.
Dicionário Michaelis

As cordas da morte me envolveram,
as angústias do inferno vieram sobre mim;
aflição e tristeza me dominaram
Salmos 116:3

Eu nao sou tao triste assim,
é que hoje acordei cansada
Clarice Lispector

Se sou amado,
quanto mais amado
mais correspondo ao amor.
Se sou esquecido,
devo esquecer também,
Pois amor é feito espelho:
-tem que ter reflexo.
Pablo Neruda

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
Mário Quintana

Vou dormir, tô cansado
Eu

Tem coisa que é óbvia, nao vê quem nao quer

terça-feira, 23 de junho de 2009

Onde há fumaça há fogo

É Sao Joao
A fumaca das fogueiras atravessa o atlantico, entra pelas narinas
e encontra o caminho do coracao
que queima de saudade
batendo no compasso do forró
dois pra lá, dois pra cá
no auge da saudade que queima cheguei a sentir o cheiro da fumaca
o gosto da canjica e do milho
o cheiro do cangote no compasso do forró
dois pra lá, dois pra cá
Saudade queima a gente
vou ver se aproveito as brasas pra fazer de conta que tô comendo milho assado

Canção do amor imprevisto

Eu sou um homem fechado.
O mundo me tornou egoísta e mau.
E a minha poesia é um vício triste,
Desesperado e solitário
Que eu faço tudo por abafar.

Mas tu apareceste com a tua boca fresca de madrugada,
Com o teu passo leve,
Com esses teus cabelos...

E o homem taciturno ficou imóvel, sem compreender
nada, numa alegria atônita...

A súbita, a dolorosa alegria de um espantalho inútil
Aonde viessem pousar os passarinhos.

Mario Quintana

Crônicas daqui

Esse povo daqui é meticuloso. Você chega na estacao pra apanhar o trem, ou o ônibus, e tao lá os minutos que você precisa esperar pra pegá-los. E quando o tempo destinado à esperá-los acaba o que acontece? Eles chegam! É verdade! Levanta os olhos que você vai ver o danado apontando no horizonte no minuto final. E quando ele chega, como num ritual protagonizado por máquinas educadas, todo mundo espera quem tá dentro descer pra poder entrar. E lá dentro fala-se pouco, os olhares nao se cruzam. Um dos meus passatempos preferidos é encarar as pessoas, só de relance - o que já é mais do que suficiente - e vê-las baixando o olhar (juro, é engracado). Por aqui espera-se sempre, também, o semáforo do pedestre abrir para se atravessar a rua. Há lugar pro pedestre atravessar e pra quem está de bicicleta atravessar. As calcadas também têm seus espacos divididos entre pedestres e ciclistas, os quais têm sua parte construída de tijolinhos vermelhos pra poder diferenciar da parte do pedestre, e eu já perdi a conta das vezes que levei fino de bicicleta porque tava andando no lugar à elas reservado. Pois é, tudo no seu devido lugar como o quarto de alguém que tem TOC por arrumacao. Mas há um lugar que destoa no meio desta mesmice mórbida: Quando se atravessa a Hauptbahnhof (estacao principal) em direcao ao supermercado, o Rewe, a gente dá numa rua em que os semáforos estao bem distantes do local mais cômodo de travessia e o povo (aquele mesmo povo que nao olha nos olhos, espera sempre o semáforo e pinta a calcada de vermelho para as bicicletas andarem) atravessa no meio dos carros sob o som do buzinaco, apertado entre a reforma que estao fazendo na lateral da hauptbahnhof e o terminal do outro lado da rua, de onde saem ônibus diariamente até berlim, onde sempre há aquele furdunco de feira com gente colocando as malas nos ônibus, descendo e subindo, saindo e voltando. E é aí, leitor, neste cenário que acabo de descrever, onde me sinto melhor durante o dia. Sim, porque passo nessa rua quase todo dia, exercitando o velho "agora dá" que tanto pratico na minha terra. Esta descontrucao da meticulosidade germânica alimenta minha alma com a sensacao de algo muito familiar. É engracado ver os sisudos cidadaos de Dresden dando carreira pra atravessar, entre um carro e outro, driblando os ônibus, constrangidos por nao estarem sobre a faixa de pedestres nem respaldados pela luz verde do semáforo. Meu dia se regozija em ver quebrado este ritmo de linha de producao indefectível. Esta ilha de improviso no meio de um mar de tédio-certinho-demais enche de graca o dia que vou ter pela frente ajudando-me a sacudir a poeira da melancolia e levantar os olhos pro que há de vir, pensar em quem me espera, olhar pros lados e sorrir, e seguir em frente.

Como eu gostaria que já fosse amanha

Você acordou, agitado, no meio da noite:
- Tive um sonho horrível. Conto amanhã, quando estivermos vivos. Quero que já seja amanhã. Por que você não faz que agora seja amanhã? Como eu gostaria que já fosse amanhã.

Eduardo Galeano

domingo, 21 de junho de 2009

Dízima Periódica

Atravessamos a rua na frente da hauptbahnhof. Sería a última vez que faríamos isso juntos. Nos dirigíamos até o fast food que há dentro da estacao. Já sentia na boca o gosto amargo da despedida que aconteceria dali a algumas horas. Estávamos pra fazer o que mais faziamos aqui em Dresden, também pela última vez: Comer sem se preocupar em "viver-rer-ver-mais diminuindo a quantidade de gudú-de-gudúra". A gente sempre se contentou com pouco: Bastava nos juntarmos para rirmos, e alto, até dos vídeos do you tube, antes pra mim sem graca, confesso. Este foi o clímax desta história toda: Apenas estarmos juntos já era um filme de comédia, ou às vezes um drama compartilhado. Deise encontrou Rodrigo e Priscila no supermercado enquanto eles falavam português achando que ninguém estava entendendo, e a partir daí só nos separamos na frente daquele trem que levou vocês até o aeroporto. E agora sem o "meu" e o "terrrca" de vocês vai ficar difícil achar graca em tudo por aqui. O drama pode até continuar, já as comédias, com certeza, tornar-se-ao mais raras. Mas tenho certeza que a gente vai se encontrar de novo, porque nosso senso apurado de justica nao vai permitir que alguém pague a conta do burguer king mais que os outros. A conta, vocês lembram, deu uma dízima periódica: 3,66666... pra cada. E agora teremos que nos reunir indefinidamente para pagarmos esses 0,6666 que nos amarrou num nó que nao desata. Vocês podem até arranjar uma maneira fácil de resolver este problema. Pra mim nao dá, conta nao é comigo. Quero ver resolver o problema da conta da saudade, que já está crescendo, e, eu sei, aumentará páginas e páginas ainda. Mas nossa amizade, dividindo por quatro, nunca acaba. Resulta num número de casas decimais infinitas. O que sentimos uns pelos outros nada mais é que uma dízima periódica.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

A Bad Dream (ou O que sinto hoje)

"I wake up, it's a bad dream, no one on my side
I was fighting but I just feel too tired to be fighting
Guess I'm not the fighting kind
Wouldn't mind it if you were by my side
But you're long gone, yes you're long gone now"

domingo, 31 de maio de 2009

quinta-feira, 28 de maio de 2009

I promess

- I love you, Penny. I always loved you. I´m so sorry. I love you.
- I love you too.
- I don´t know where I am but...
- I found you, Des...
- I promess...
- No matter what...
- I´ll come back to you
- I won´t give up
- I promess.
- I promess.
- I love you!!!
- I love you!!!

- Eu te amo, Penny. Eu sempre te amei. Eu sinto muito. Eu te amo.
- Eu também te amo.
- Eu nao sei onde eu estou mas...
- Eu vou te encontrar, Des...
- Eu prometo...
- Nao importa o que aconteca...
- Eu voltarei pra você...
- Nao vou desistir...
- Eu prometo.
- Eu prometo.
- Eu te amo!!!
- Eu te amo!!!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

O amor só é bom se doer (?)

Vai, vai, vai, vai amar
Vai, vai, vai, vai sofrer
Vai, vai, vai, vai chorar
Vai, vai, vai, vai viver

sem til nem cedilhas

Comecei a pensar que meu cérebro encolhera na travessia do atlântico. Nao consigo escrever. Pelo menos nao com a frequencia que fazia em casa. Desde que fiquei sabendo que viria para cá e os preparativos comecaram, e nao falo só dos burocráticos, parece que minha criatividade entrou em recesso. Já pensei em tudo na tentativa de entender o que se sucede, mas a melhor das conjecturas foi a de responsabilizar o teclado deste computador. Acho que o meu cérebro ainda nao se acostumou com ele: Penso que ele ainda nao se acostumou a escrever sem til nem cedilha. Fazer o que?

domingo, 17 de maio de 2009

Pedaço de Mim



Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Oh, pedaço de mim

Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus


Chico Buarque

terça-feira, 14 de abril de 2009

Saudade é dor

Aprendi aqui o significado do termo psicossomático. Sintomas psicossomáticos sao consequencias físicas de um mau psicológico. É como se voce tomasse um tapa num sonho e o sentisse de verdade. A dor no rosto, consequencia de um tapa que só se passa na mente, é psicossomática. Saudade dói assim. Nao se identifica sua origem numa radiografia, numa tomografia, ou no que quer que seja, mas dói, enfurecidamente. Como uma broca perfurando o coracao, como um grito que nao consegue sair, e preso, sufoca. Como um corte na garganta sangrando até a morte, lenta e cruelmente. Como eu longe de quem amo. Dá um vazio dentro, como uma dor que te impede de andar ereto, te obrigando a ficar curvado enquanto a hemorragia consome tuas forcas, teu sorriso, tua vontade, teu paladar, tua capacidade de distinguir as cores e sentir os aromas, até. E nao tem cura, nao existem analgésicos, nao há alívio.

De desejo somos


A vida, sem nome, sem memória, estava sozinha. Tinha maos mas nao tinha em quem tocar. tinha boca, mas nao tinha com quem falar. a vida era uma, e sendo uma era nenhuma.

Entao o desejo disparou sua flecha. E a flecha do desejo partiu a vida pela metade, e a vida tornou-se duas.

As duas metades se encontraram e riram. Ao se ver, riam; e ao se tocar, também.

Eduardo Galeano

À Gabriela, a outra metade partida de minha vida

Daqui eu vejo até a Europa

Quando crianca era conhecido por minhas tiradas consideradas espertas demais para minha idade. Era o divertimento da família. Já ouvi muitas histórias a esse respeito e elas sao realmente engracadas, como da vez em que fui assistir à uma aula na faculdade de meu pai e respondi uma pergunta da professora, para deleite de todos. Mas uma destas tiradas, que me foi contada por minha vó na última visita que a fiz antes de viajar, é o motivo deste post.
Contou-me que, há muitos anos atrás, ela queria deixar de morar no mesmo prédio no qual funcionava o colégio que era proprietária. Numa conversa com meu pai, na qual estava presente - e prestando atencao, como os adultos nunca acham que estao as criancas - meu pai teve a idéia de construir um primeiro andar em nossa casa para que minha vó morasse.
Intervi na conversa com uma pergunta: "Vovó, a senhora quer morar no chao (igual a térreo) ou no céu (igual a primeiro andar)". Minha vó falou-me que preferia o "chao", devido à já avancada idade. E eu, do alto dos meus cinco anos, vibrei: "É bom, porque daqui eu vejo até a Europa". Disse minha vó, nesta visita, que desde ali eu já previa o que iria acontecer mais de vinte anos depois. Nao sei, só sei que é da Europa que escrevo este post, confirmando a provável profecia de uma crianca. Nao sei, só sei que tenho que me lembrar de nunca subestimar o que uma delas diz.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Navegar

Sei que há léguas a nos separar. Tanto mar, tanto mar. Sei, também, que é preciso, pá, Navegar, navegar...

Chico Buarque em Tanto Mar

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Tá perdoado

Defumei o corredor
Perfumei o elevador
Pra tirar de vez o mal olhado
A saudade me esquentou
Consertei o ventilador
Pro teu corpo não ficar suado
Nessa onda de calor
Eu até peguei uma cor
Tô com o corpo todo bronzeado...

Seja do jeito que for
Eu te juro meu amor
Se quiser voltar
Tá Perdoado!...

Fui a pé a Salvador
De joelho ao Redentor
Pra ver nosso amor abençoado
Nosso lar se esquentou
A esperança germinou
Ah! Tem muita flor
Pra todo lado
Pra curar a minha dor
Procurei um bom doutor
Me mandou beijar
Teu beijo mais molhado...

Seja do jeito que for
Eu te juro meu amor
Se quiser voltar
Tá Perdoado!...

E se voltar te dou café
Preliminar com cafuné
Pra deixar teu dia mais gostoso
Pode almoçar o que quiser
E repetir, te dou colher
Faz aquele jeito carinhoso
Deixa pintar o entardecer
E o sol brincar de se esconder
Tarde e chuva eu fico mais fogosa
E vá ficando pro jantar
Tu vai ver só, pode esperar
Que a noite será maravilhosa...

Música de Arlindo Cruz e Franco interpretada por Maria Rita

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Como são os românticos III

- Eu quero cheirar o seu pum!
- Como é, menina?
- O cheiro do seu pum. Só quando duas pessoas chegam à tal intimidade elas estão realmente conectadas
- Não, pelo amor de Deus
- Que besteira, xxx!! Não devemos ter esse tipo de reserva entre nós.
- Eu não quero cheirar teu pum coisíssima nenhuma!
- Vai, sim!
- Não, não!
- Se não cheirar meu pum não me ama!
- Agora pronto!
- Meu pum é cheiroso, amor
- Vai me dizer que tu fica de baixo dos lençóis soltando e cheirando, né?
- Eu não!!
- Acaba com essa história de cheirar pum, pelo amor de Deus!
- Ah não, amor! Eu tenho que cheirar, sim! E você também! Quem não cheira não ama!!!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Era uma casa muito engraçada...

Os garfos, facas e colheres estão todos postos em suas subdivisões nas gavetas. Cada talher em sua subdivisão. Os maiores em baixo, os menores em cima.
Abrindo-se o armário das panelas ver-se-á todas dispostas simetricamente. Algumas penduradas pelo cabo nas portas. A mesma panela sempre no mesmo suporte.
No armário das comidas, entra feira, sai feira e o trigo, o açucar ou os biscoitos(ainda não abertos), ou o que quer que seja estará sempre no mesmo lugar.
Cada tipo de alimento estará sempre no seu lugar tradicional dentro do armário.
Cada biscoito, ou tempero, ou cereal, ou qualquer comidinha que seja tem o seu recipiente específico. A maioria deles com uma etiqueta para evitar a troca de sal por açúcar ou algo similar.
Cada comida também tem o seu lugar na geladeira. Sempre o mesmo lugar. Nunca coloque algo na geladeira no lugar que não é devido. Todos perceberão a troca indevida.
Há panelas de diferentes tipos para diferentes usos.
Há panelas somente para estralar ovos.
Há lugar para tudo: se você deixar a caixa de fósforo fora do lugar alguém vai passar e guardá-la em seu devido lugar.
Há, sim, lugar especial para as caixas de fósforos. E mais especial ainda para a caixa de fósforo em uso.
Não se colocam copos em cima dos móveis de madeira, a não ser que seja sobre um suporte.
Nunca, Nunca, sob hipótese alguma, coloque um copo em cima de um móvel de madeira sem o suporte.
Para cada prato ou copo em cima da mesa da cozinha há um suporte.
Para escrever num caderno em cima da mesa também há um suporte.
Há pratos de diferentes tipos: para entrada, prato principal e sobremesa. Ah, sim! Há pratos para os farelos também.
Há pavor contra os farelos. Não se come deixando vestígios.
As pastas de dente são apertadas de baixo pra cima. Sempre são encontradas assim.
As toalhas estão dobradas nas argolas dos banheiros.
Ninguém deixa o banheiro molhado após usá-lo. Se você esquecer a tampa do vaso numa posição diferente da usual (fechada), todos irão perceber imediatamente.
Os tapetes do banheiro estão sempre branquinhos.
Todos forram a cama imediatamente após se levantarem dela. Ainda que apenas se sente na cama um pouco que seja, para fazer o mínimo que seja, ela deve permanecer perfeitamente forradinha.
Há uma espécie de capa sobre o sofá da sala que também precisa ser milimetricamente ajustada assim que o último que estava sentado se levantar.
Há copos especiais para cada integrante da casa. Não se atreva a beber em um desses copos, que, por sinal, ficam nos suportes para copos, ao alcance de todos.
Todo e qualquer eletrodoméstico é desligado imediatamente após seu uso. As luzes nunca são esquecidas acesas.
Sim, há gente nesta casa. Tem teto, tem tudo, entra-se nela e tem chão, pode-se dormir na rede, há parede. Tudo com muito esmero. Tudo assim, com jeito de TOC.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Recado aos meus (poucos) amigos

Ricardo Gondim

Comam brócolis.
Não fujam do exame de próstata.
Leiam bons romances.
Façam exercício.
Sacramentem amizades com um Cabernet.
Evitem o Diogo Mainardi.
Não tomem café depois das dez.
Andem descalços em casa.
Visitem um hospital para crianças com câncer uma vez por ano.
Não esqueçam do aniversário de quem vocês amam.
Comprem um dicionário – e consultem.
Desliguem a televisão.
Não discutam com quem “se acha”.
Recitem um poema em voz alta toda semana.
Não falem em corda em casa de enforcado.
Leiam a Bíblia para um enfermo.
Meditem com a porta do quarto trancada.
Anotem endereços de blogs alternativos.
Sejam moderados no açúcar e na gordura saturada - torresmo, nem pensar.
Leiam o Alysson Amorim, o Elienai, a Geruza e o Paulo Brabo.
Não percam as edições diárias do Pavablog nem quando estiverem na Manchúria.
Nunca pilotem motocicleta, nem aceitem carona na garupa.
Aprendam a gostar de música clássica – Johan Sebastian Bach é um bom começo.
Reciclem o lixo de casa, do escritório, da igreja - e do coração.
Não morram logo, por favor; preciso de vocês por perto.

Soli Deo Gloria.

Tudo Bem

És parte ainda do que me faz mais forte
E pra ser honesto
Só um pouquinho infeliz

Giz - Legião Urbana

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Ninguém é de Ninguém


Não, leitor. Não me refiro ao Carnaval. Ou talvez sim, se assim considerarmos o que acabou de acontecer na disputa pela presidência do senado brasileiro. O PSDB e os DEMos apoiando o candidato do PT, juntamente com Jarbas. Isso mesmo, não se assuste: Tucanos + DEMos + Jarbas, os ícones do anti-petismo, agora sorrindo diante das câmeras junto com Tião Viana, do PT, na disputa contra o guloso PMDB pela terceira posição na sucessão presidencial. Há outra palavra pra classificar, se não de constrangimento, a foto de Jarbas e Sérgio Guerra abraçando Viana? Quem diria, hein? Quando se trata de poder e carnaval, ninguém é de ninguém.
O PMDB, menos Jarbas, tinha o seu candidato: Aquele que apoiou o regime militar, o governo de Fernando Henrique(PSDB) e agora apóia o governo de Lula(PT). E quem é este ser sem identidade, leitor? O imortal José Sarney. Aliás, sua identidade deve ser com o poder. Não importa quem esteja lá, eu também quero estar: esta é a lição de Sarney para todos nós. Ganhou Sarney porque o PSDB e os DEMos estavam cheio de traidores(??). Mas espera aí... Traidores de quem? Não tô entendendo mais nada. É melhor falar do Carnaval.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Elogiarum bonno est

Por que tem gente que não te elogia de forma alguma? Nunca. Eu não entendo. Existe, leitor, na sua vida, alguém de quem você tenta arrancar um elogio, por mais simples que seja com o que você fala, faz ou escreve? O que será que passa pela cabeça de alguém que está tão próximo, comenta sobre o que você diz, faz ou escreve mas nunca diz nem um "valeu!"? Não entendo, leitor. Não entendo. Será que estas pessoas acham que ao elogiar serão absorvidas por um sentimento de inferioridade ao colocarem para fora uma expressão de agrado em relação àquilo que você disse, fez, ou escreveu, mas elas não fizeram, disseram ou escreveram? Ou será que se escondem atrás do velho jargão: "não vou falar pra você não ficar convencido por causa do que você disse, fez ou escreveu", mas na verdade são incapacitadas de reconhecer virtude além do que elas mesmas dizem, fazem ou escrevem. Somos tão rápidos em criticar, discordar, machucar, mas tão lerdos para elogiar, parabenizar, se alegrar com o que o outro disse, fez ou escreveu. Diga, faça, escreva. Depois escute, veja, leia e diga: Gostei! Gostei mesmo do que você disse, fez e escreveu. Simples, não?

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Sobre a chuva

Hoje, quando desci do ônibus, estava chovendo. E quando a chuva começou a escorrer pelo meu corpo, lembrei que nem sempre foi assim. Nem sempre a chuva me apanhou de salto, como quem está à espreita numa tocaia. Caminhávamos, voltando pra casa ou saíndo dela, e se as nuvens prenunciassem que lá vinha um toró daqueles, lá vinha eu também com uma segurança invejável: - Não vai chover, só vai chover quando a gente chegar. - Tem certeza, Cleonardo? Não é melhor a gente correr? - Não, Tiago. Pode ficar tranquilo. Só vai chover quando a gente chegar. E por mais que o céu parecesse estar abarrotado de água, sem que as comportas do firmamento conseguissem segurar uma gota sequer, as primeiras só caíam após batermos o portão atrás de nós. Tiago dizia: - Essa tua mania ainda vai fazer com que a gente leve um toró. E eu sentia o medo em suas palavras. O medo de ter uma amigo que conseguia segurar os céus e conter a chuva, como um super-herói. Imaginava-o pensando: Como ele faz isso? Minha convicção: "Não vai chover até que cheguemos", eu sei, deixava-o aturdido. E esta cena se repetiu várias vezes, e eu sempre conseguia segurar a chuva até chegarmos em nosso destino. Arrogância de adolescente, leitor? Não sei. Só sei que foi assim.
Já na baixa adolescência, quase juventude, quando não sabíamos que os próximos acontecimentos e nossas escolhas seguintes afastariam aquela inseparável dupla dinâmica ,aconteceu, para mim, o inesperado. Voltando de não-me-lembro-onde o céu parecia, desta vez, não estar muito disposto a segurar as pancadas de água. Continuei com minha segurança costumeira: - Só vai chover quando chegarmos. Descemos a ladeira da rua da igreja correndo como loucos, com a chuva a ensopar nossas roupas. O barulho da água caindo e furando minha cabeça como uma broca só não era maior que os gritos de júbilo deTiago: - Você errou! Você errou! Não deu certo desta vez! Eu sabia, Eu sabia que isto ia acontecer um dia! Senti-me como o super-homem diante da criptonita e, ao mesmo tempo, percebi o alívio dele em se certificar que eu não tinha poderes coisíssima nenhuma. era apenas sorte-inocência-arrogância de adolescente.
Pois é, Tiago. A chuva, desde então, já não mais espera que eu chegue em casa. Acredito que com você deva acontecer o mesmo (O poder era meu, afinal) . Muita chuva já escorreu por minha face, lavando lágrimas escondidas, decepções enferrujadas, desilusões jogadas para debaixo do tapete, gritos calados, amores perdidos, arrependimentos que matam. Tanta chuva já passou e deixou um cara diferente daquele que ousava controlar o tempo. Não ouso mais. reconciliei-me com a chuva e já não a evito. Aprendi a ser pequeno, porque a chuva já caiu tanto sobre mim que entendi sua intenção: lavar a sujeira que ninguêm vê. E depois da tempestade, meu amigo, vem uma sensação de bonança inigualável. Andemos juntos novamente, mas você nã verá mais esta arrogância disfarçada de ousadia. Aprendi a inclinar-me diante daquilo que é maior do que eu: Fui entortado pelo ferreiro, quebrado e restaurado como um oleiro faz com um vaso que não mais o apreciava. Tenho histórias para te contar, e enquanto eu estiver falando, se as nuvens se prepararem para derramar suas torrentes, eu serei o primeiro a correr. Corramos juntos, mas se a chuva nos pegar apenas agradeça e sinta que ela está levando embora tuas frustrações, medos, inseguranças, derrotas, pra te deixar pronto para o que vem.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Longe

Hoje caiu a ficha. Vou ficar longe, muito longe de quem amo.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Conversações

e: eu te amo
m: tu me ama muito?
e: sim
m: mas muito quanto?
e: muito muito, ora
m: não, você não me ama
e: oxe
m: se você me amasse você diria quanto
e: tá bom. eu te amo do tamanho do planeta terra
m: só isso!!!???
e: ¬¬
m: é pq se vc me amasse de verdade vc diria que me ama do tamanho do infinito
e: eu te amo do tamanho do infinito
m: agora não vale, eduardo. eu sei q vc não me ama
e: Pqp, mônica, deixa de ser complicada. Tu num sabe q eu te amo
m: Pqp, não. tá pensando q tá falando com tuas pareceiras?
e: não
m: VC TEM PARECEIRAS, EDUARDO????
e: Não, mônica. Eu só tô dizendo q não penso q estou falando com vc como uma pareceira
m: mas se vc pensa q não está falando comigo como uma pareceira é pq vc tem uma, ou umas
e: tá bom, mônica
m: Eu sabia!!!
e: amanhã eu não vou
m: An??
e: desculpa. janela errada
m: com quem vc estava falando Eduardo??? Pra onde vc não vai???? Posso saber??
e: Dá pra parar com isso!! vou embora. amanhã tenho q acordar cedo
m: pra ir pro lugar q vc disse q não ia?
e: se eu disse q não ia é pq não vooou. Agora chega, vou de verdade
m: perae. vai embora assim? sem se despedir?
e: xau
m: é assim é? sem bju
e: =*
m: só deu bju pq eu falei. vc naum me ama. agora tenho certeza
e: té manhã, mô. te amo

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Primeiro Andar

Já vou, será
eu quero ver
o mundo eu sei
não é esse lá

por onde andar
eu começo por onde a estrada vai
e nao culpo a cidade, o pai

vou lá, andar
e o que eu vou ver
eu sei lá

não faz disso esse drama essa dor
é que a sorte é preciso tirar pra ter
perigo é eu me esconder em você
e quando eu vou voltar, quem vai saber

se alguem numa curva me convidar
eu vou lá
que andar é reconhecer
olhar

eu preciso andar
um caminho só
vou buscar alguém
que eu nem sei quem sou

Eu escrevo e te conto o que eu vi
e me mostro de lá pra você
guarde um sonho bom pra mim

eu preciso andar
um caminho só
vou buscar alguém
que eu nem sei quem sou

Los Hermanos

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Quero ler em 2009

1. Admirável Mundo Novo - Aldous Huxley
2. Intermitências da Morte - José Saramago
3. O Estrangeiro - Albert Camus
4. Grande Sertão Veredas - Guimarães Rosa
5. Crime e Castigo - Fiódor Dostoiévski
6. A Montanha Mágica - Thomas Mann
7. Em Busca do Tempo Perdido - Marcel Proust
8. Todos os Homens são Mortais - Simone de Beauvoir

Li em 2008

1. Ensaio sobre a Cegueira - José Saramago
Este livro me assustou. "Dentro de nós há uma coisa que não tem nome. Esta coisa é o que somos". Li o livro, assisti o filme, chorei com os dois.

2. O Apanhador no Campo de Centeio - J. D. Salinger
Salinger nos apresenta o adolescente Holden Caufield, que nos ensina a odiar a hipocrisia e a arrogância. Lembrei do tempo em que ser um apanhador no campo de centeio era o que mais queria.

3. Quando Nietzsche Chorou - Yrvin Yalom
Foi bom pra entender um pouco mais sobre a psicanálise e sobre a vida e as teorias de Nietzsche.

4. A metamorfose - Franz Kafka
assustador. Sentia-me mal, de verdade, ao acompanhar a trajetória de Gregor Samsa, que num dia como outro qualquer acorda e percebe que se transformou num inseto.

5. A Insustentável Leveza do Ser - Milan Kundera
Há frases neste livro que desconcertam e nos viram pelo avesso. Incrível.

6. A Hora da Estrela - Clarice Lispector
Clarice diz coisas que até Deus duvida.

7. Carta a D - André Gorz
Emocionante. Uma declaração de amor à vida

8. Aos Meus Amigos - Maria Adelaide Amaral
Assisti a mini-série. Gostei tanto que comprei o livro. Vale a pena.

9. O Príncipe - Maquiavel
Um clássico do Absolutismo. Achei engraçado. Me divertia mesmo com as recomendações de Maquiavel ao Príncipe.

10. Ensaio sobre a Dádiva - Marcel Mauss
Viajei com a explicação de Mauss sobre a troca-dádiva. O interesse disfarçado de presente e o presente disfarçado de interesse permeiam todas as nossas relações.

11. Questões Fundamentais de Sociologia - Georg Simmel
Li duas vezes pra entender uma. Na faculdade já estavam me chamando de Simmeliano.

12. O bandido que virou Pregador - Mariana Côrtes
A autora analisa os bandidos que se converteram à religião evangélica e passaram a ter uma carreira de pregadores itinerantes.

13. Teoria do Conhecimento - Johannes Hessen
Empirismo, Racionalismo, Criticismo, Intelectualismo, Kant e outros. Precisava entender isso. Se quiser entender também pode ler este livro.