sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Eu te amo, porra!

Sempre fico angustiado quando escuto “Sinal Fechado” de Paulinho da Viola, interpretada (magistralmente!) por Chico e Bethânia. A música é uma dramatização de um encontro acidental entre um homem e uma mulher que não se viam há muito tempo, no trânsito, num sinal fechado, cada um no seu carro. Imagino os dois se entreolhando (É ele? É ela?). Abaixam o vidro e ele começa falando:

– Olá! Como vai?
– Eu vou indo. E você, tudo bem?
– Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... E você?
– Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranqüilo...Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é, quanto tempo!


A minha angústia vem do fato de imaginar que eles, provavelmente, devem ter vivido um grande amor, daquele amor tipo subcutâneo, e, com tanta coisa pra dizer, restam apenas alguns segundos para superar a surpresa do encontro, o coração palpitando, as mil e uma lembranças que vêm na mente, e dizer alguma coisa que fique, que marque. Não sei o que os separou, só sei que ele ainda ambiciona um futuro, e ela só quer um amanhã de descanso (O que será que aconteceu?). Há nas entrelinhas um desejo enorme, uma saudade avassaladora permeando cada palavra, porém eles continuam escravos do trânsito, do sinal, das formalidades:

– Me perdoe a pressa - é a alma dos nossos negócios!
– Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!

Ao ver aquela oportunidade única indo embora (Então eu lembro de quantas já perdi!), ele tenta algo como se dissese: Eu preciso falar alguma coisa, pelo amor de Deus!!!. E, ainda sem graça, diz:

– Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
– Pra semana, prometo, talvez nos vejamos...Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é...quanto tempo!

O sinal vai abrir. Eles não conseguem raciocinar direito:

– Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das ruas...
- Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!


Ele sumiu na poeira das ruas. Não se sabe mais quem é a poeira, quem é ele, quem é a rua. Ela sabe que tem o que dizer, mas não lembra, diz que não lembra, ou prefere não lembrar. Assim, chega o desespero:

– Por favor, telefone
- Eu preciso beber alguma coisa, rapidamente...
– Pra semana...
– O sinal...
– Eu procuro você...
– Vai abrir, vai abrir...
– Eu prometo, não esqueço, não esqueço...
– Por favor, não esqueça, não esqueça...
– Adeus!
– Adeus!
– Adeus!

E fica entalada na minha garganta (como quando agente tá morrendo de vontade de chorar e prende o choro, semelhante à uma erupção sendo contida) a vontade de superar a barreira do bom senso, descer daquele carro, abrir a porta dela, jogar o senso do ridículo às favas, sentir sua pulsação, a porcaria do sinal abrindo( E daí!!!???), todo mundo buzinando e eu dizendo: “Por favor, não esqueça, não esqueça” que EU TE AMO, PORRA!!!

3 comentários:

Anônimo disse...

Carralho!!!!

É o que eu sempre quis escrever e fazer. É a forma como eu acho que as coisas devem ser. Assim...meio adolecentes, irresponsáveis, impetuosas, gostosas de fazer mesmo. Fazer e pronto. Mas...isso é o que eu gostaria...No dia-a-dia, continuo acenando e dando um sorriso amarelo que tenta disfarçar as surpresas desses encontros que geram saudade.

Vc está escrevendo cada vez mais como se estivesse escrevendo por mim. Escrevendo o que eu escrevia, da forma como eu gostaria de escrever se soubesse, tivesse o seu talento e tempo. Eu acho isso muito bom! Assim eu leio o que eu mesmo escreveria se tivesse tempo e talento, sem ter escrito, e ainda consigo me elogiar sem fazer nenhum esforço. Que bom que existem caras como vc!

joanafpires disse...

eu acho que eles são amigos.

Anônimo disse...

Mais que isso. Somos irmãos!