segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

De 2007, o que fica?

Fica o prazer de ter escolhido fazer o que realmente amo. O futuro como sociólogo reserva, além de apreensão - sempre fico apreensivo quanto ao futuro -, a sensação da iminência de um grande sentimento de realização e dever cumprido, como não seria em nenhuma outra profissão.

Fica a lição de que o cristianismo transcende os muros das instituições. Estas instituições conseguiram cristalizar o conceito de ser cristão e reduzi-lo ao cumprimento de um sem número de exigências que têm a ver muito menos com o caráter do que com a manutenção de uma aparência de santidade: Aparência indispensável para a manutenção dos cargos, posições e papéis nestas instituições.

Fica a decepção de saber que o projeto do qual fiz parte, e me dediquei, mais do que a qualquer outra coisa na minha vida, durante dez anos, está, hoje, na mão de pessoas que não têm a mínima consideração pelos que contribuíram para a história deste grupo. O Ministério de Mocidade da IBMC (Igreja Batista Missionária em Camaragibe), que tem mais de 10 anos, e não apenas 02(como seus líderes comemoraram a pouco), tornou-se um reduto de evangélicos intolerantes, conservadores e monolíticos, onde as idéias divergentes são escanteadas de pronto. Esqueceram de Wellington e Ângela, fundadores do grupo, e antes deles, de Simone e George, os precursores, de Nemésio, que assumiu num período de transição conturbado, além de Helton, Wallace, Lourdes Gama, Sávio Gama, Beto Borba, Rafael Pereira, Daniel Silva e tantos outros que a este grupo dedicaram uma vida.

Fica outra lição de negar veementemente quando alguém me chamar pra uma reunião onde vão dizer que todo mundo está “fora de controle” ganhando dinheiro com um pó que emagrece. Fuja disso, você também, pelo amor de Deus!!! É furada!

Fica a nota 10 na prova de Maria Eduarda e a sensação inusitada de uma aula ser melhor do que uma farra, um filme, uma partida de futebol ou qualquer outra coisa.

Ficam as idas ao cavanhaque(bar) para comemorar o que quer que seja com o pessoal da faculdade.

Fica o privilégio de ter conhecido um novo amor, quando do amor não esperava nada mais. Passar os dias com você, meu amor, é ansiar pela paralisação do tempo, é conviver com a substituição imediata da despedida pela saudade e desfrutar da certeza de que dias melhores virão.

Fica a alegria de ter descoberto grandes amigos e companheiros de farra dentro da minha própria casa. De ter feito novos amigos, como os camaradas (Eu, Diogo, Emanuel, Rafael e Diego). De ter mantido velhas amizades como as de Wellington, Sávio, Delane, Ana Teresa e Mônica; De ter solidificado outras na faculdade: com Bernardo, Carla de Paula e Pedrinho; De ter re-solidificado outros laços com Nemésio e Helton.

Fica a lembrança das palhaçadas com os camaradas nos shows de Academia da Berlinda. Até de stripers nós atacamos na concha acústica da UFPE. Só loucura ao som de “Ivete Canivete, não corte as relações comigo...”

Fica a permanência do Náutico na 1º divisão.

Fica o objetivo de aprender a falar alemão.

Fica a promessa cumprida de aprender a tocar alfaia.

Ficam as leituras de Drummond, Clarice e Vinícius.
Ficam as músicas de Chico e Los Hermanos.

Fica a descoberta do samba.

Fica a feliz idéia de ter criado este blog: Minha terapia.

Fica reeditada a indignação contra a injustiça e a desigualdade. Fica retravada a luta contra quem quer jogar esta sujeira pra debaixo do tapete.

Fica mantida a esperança contida nos planos que atravessam o ano até 2008. Tenho eles bem traçados. Lutarei para cumpri-los e quando 2008 acabar nos encontraremos aqui novamente para festejá-los. Se Deus quiser!!!

Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? passa telegramas?)

Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados,
começando pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo,
eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Ó Deus! Quem és tu?

Ó Deus! Quem és tu?
Que nomes moram no teu mistério sem fim?
Ninguém jamais te viu.
Passas como o Vento, e só ficam as marcas da tua passagem, gravadas na memória: o sentimento de beleza, o sentimento de tristeza, o corpo que espera, sem certeza, com um poema na carne. Tua face, nunca a vi. Só conheço as muitas faces da minha saudade. E, se te chamas pelo nome de Pai e pelo nome de Mãe, é porque estes são os nomes da minha nostalgia, no bater binário do desejo.

Rubem Alves em "Pai Nosso".

domingo, 23 de dezembro de 2007

Combinação lacrimejante

Chego em casa sozinho
Uma taça de vinho
O sorriso de Mona Lisa
Lágrimas

sábado, 22 de dezembro de 2007

O Haiti é aqui

Quando você for convidado pra subir no adro da Fundação Casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos
E outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados...

... E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina
111 presos indefesos
Mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos
Ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres
E todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti
Reze pelo Haiti

O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

Trechos de “Haiti” (Gilberto Gil e Caetano Veloso)

Iluminar sempre

Del, guardei este scrap que me enviaste porque ele me fez perceber que ainda sou capaz de iluminar, e isto me emocionou um tanto. Lembra? Foi quando coloquei uma foto nossa no meu albúm do orkut dizendo que você é a irmã que nunca tive. Sim, você é! Coloco-o aqui pra comemorar o teu aniversário e te dar meus parabéns, minha irmã. Feliz aniversário!

Vim te deixar um recado avisando que ia te mandar por e-mail a nossa foto de sábado...porque eu adorei a foto, sua companhia na farra, sua energia e porque adoro nossa amizade e vc sabe que é meu amigo, meu anjo, meu irmão...
Então, vou conferir seu álbum e agora estou emocionada.. vixe que hoje estou uma chorona sem precedentes, mas é só hoje, viu????.. e vc me veio com palavras tão lindas quanto doces e principalmente importantes.. e mesmo sem saber iluminou um dia nublado para mim, na verdade, mais um... eu te amo e vc sabe disso!!!
beijooooo

"Iluminar, iluminar sempre, iluminar tudo, iluminar todos, apenas iluminar, esse é o meu lema, e o do Sol." Vladimir Mayakovsky

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

O melhor remédio é cantar

Podem os homens vir
que não vão me abalar
O cães farejam o medo,
logo não vão me encontrar
Não se trata de coragem
Mas meus olhos estão distantes
Me camuflam na paisagem
Dando um tempo pra cantar.

Trecho de "Me deixa" (O Rappa)

Mensagem numa garrafa à Clarice


Uma das minhas maiores angústias e decepções é não ter te conhecido. Pior, nunca vou poder te conhecer. Sim, tenho os teus livros, mas queria poder ouvir a tua voz. Estar perto. E você me diria como consegues ler meus pensamentos, tanto que se acreditasse em vidas passadas juraria termos sido grandes amigos em muitas delas, e você, minha confidente, saberia tudo de mim, e é assim que essas memórias, regressas de outrora, desfilam na tua caneta como numa adivinhação assustadora. Tenho medo de você, mas te desejo. Repeles-me e atrais-me, tudo ao mesmo tempo agora. Queria passear com você pelas pontes do Recife, e bebericar um pouco contigo no Catamarã e ver o teu sorriso brotar desses lábios que tudo sabem, tudo dizem. Quem sabe sairíamos para conversar: Eu, você e Drummond. E aí ouviria você falar sem parar e embolar as palavras, resultado da garrafa de vinho já seca. E aí eu te levaria em casa, viria você tirando as sandálias e olharia para teus pés ucranianos (devem ser grandes - nada delicados), mas provavelmente prestaria mais atenção na tua silhueta já abrasileirada, nos teus lábios universais e pediria, só mais um pouquinho, que não dormisses e ficasse ali comigo conversando, porque quando amanhecesse e eu acordasse, descobriria que tudo não passou de um sonho. Tudo se dissiparia. Hoje, quando acordei estiquei os braços para apanhar “a hora da estrela”, a fim de começar bem o dia. Ao abrir reconheci tua letra: Obrigado por sua companhia ontem à noite, Cleo. Por isso te escrevo, pra te dizer: Obrigado, também. Por tudo.


Cleonardo

21/12/2007

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Só isso

Eu só quero você nos meus braços sem hora pra chegar em casa
Só isso!
Que os relógios se explodam!
Que a tortura do correr dos ponteiros se vá!
Só isso!
Ver o sol nascendo ao seu lado
E de novo, de novo, de novo
Só isso!
Criar um mundo paralelo onde os celulares não toquem
Não nos chamem
Que toquem a trilha sonora que a gente escolheu
Pra embalar nosso amor
Pra esquecer do temor
Pra suavizar o pudor, pra aquecer o ardor
Só isso mesmo!
Só isso

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

A CPMF, A Veja e Eu

Todos os veículos de comunicação brasileiros se esqueceram de dizer que a CPMF é o imposto mais transversal da carga tributária brasileira, ou seja, pega a todos, de cima a baixo, e bem mais os de cima que os de baixo. Sim, é errado o fato de a alíquota cobrada ser a mesma tanto para os mais ricos quanto para os mais pobres, o princípio deveria ser o mesmo do imposto de renda. Esqueceram também da propriedade que tem a CPMF de “pegar” os sonegadores. Praticamente não há como fugir: Movimentou o dinheiro, lá está ela! Não discordo, e nem poderia, do fato de que a carga tributária é elevadíssima no nosso país, nem da necessidade de ser fazer uma reforma neste quesito. Só não dá pra aturar a capa da Veja desta semana, a do leãozinho com um chapéu de Papai Noel festejando os 40 bilhões de presente de Natal para os brasileiros! Que brasileiros? O leão piscou para os sonegadores: Estes, sim, estão fazendo a festa. E como os grandes sonegadores, os grandes de verdade, devem ser anunciantes da Veja, ela também faz a festa. Deve ter gostado do presente.

Poupe-me!


Mas pra uma coisa a Veja é boa: Pra me fazer rir.

Tem alguma coisa errada

Sou a favor da Transposição do Rio São Francisco. Sempre fui, desde o início. Li esta semana um defesa veemente do projeto na "Veja". Eu e "Veja" concordamos, enfim, com alguma coisa.

Mas... Espera aí! A "Veja"... Deve ter alguma coisa errada aí! Ah, se tem!

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Mensagem Anônima

Hoje recebi uma mensagem no celular, anônima, com o texto abaixo. Claro, sei que é um trecho de uma música de Los Hermanos, como não saberia! Só não entendi:

O vento vai dizer
lento o que virá,
e se chover demais,
a gente vai saber,
claro de um trovão,
se alguém depois
sorrir em paz.
Só de encontrar...

O Vento (Los Hermanos)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Terapia

Sem ter o que dizer
Sem ter o que escrever
Mas, ainda assim, passei só pra dizer:
Este lugar é minha terapia.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Poema de uma face

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Cleonardo! ser chato e "do contra" na vida.

"Poema de sete faces", de Drummond, adaptado para a minha realidade.

domingo, 9 de dezembro de 2007

O que eu quero

Eu quero é amar, apesar do amor não mais aparecer pra mim pintado de ilusões, e os defeitos de quem amamos insistirem em nos ensinar a lição de amar “apesar de”.

Eu quero é amar “apesar de”.

Eu quero é fazer amigos ainda que muitos deles tenham ficado no passado, alguns deles terem me decepcionado e vários deles não possam mais assim ser chamados.

Eu quero é fazer mais amigos.

Eu quero é acordar com esperança e com os sonhos intactos, ainda que a noite anterior tenha sido de pesadelos. E esperar pelo amanhã, aguardando que a sua luz possa iluminar as trevas da noite, sempre ansiando que a tristeza da alta madrugada seja substituída pela alegria do amanhecer.

Eu quero é andar com Deus, ainda que uma pseudo-intelectualidade-atéia chame de alienado alguém que busque Aquele que É maior que todos nós.

Eu quero é descrer da igreja (institucional), maior responsável pelo descrédito dos que crêem.

Eu quero é crer na igreja (transcendental), formada pelos que crêem, mas têm dúvidas e fraquezas, sabem que as têm (não fingem), sabem que os outros também as têm (não são hipócritas) e não tem medo de dizer que as têm (não temem serem descobertos como fracos). É a igreja formada pelos que conhecem o significado da palavra “Graça”.

Eu quero é fugir dos fundamentalistas sejam eles evangélicos, católicos, ateus ou o que quer que sejam, e atravessar a rua pro outro lado, pra bem longe, assim que perceber o menor risco de cruzar com um deles.

Eu quero é continuar nadando contra a maré, contestando o sistema e os seus valores tão arraigados em nossa sociedade a ponto de todos acharem que “foi sempre assim”, “não vai mudar”; e ser chamado de chato quando criticar aquilo que todos acham “normal”, porque a Globo disse que era normal.

Eu quero é criticar

Eu quero é ser chato

Eu quero é que a Globo se exploda! E a Veja (Não veja!) também!

Eu quero é continuar mostrando que os problemas do “eu” têm tudo a ver com os problemas do mundo.

Eu quero é falar de justiça até que ela corra como um rio que não seca.

Eu quero é justiça. Viver num país onde não se ache normal alguém ter um rolex enquanto outros não podem nem comer três vezes ao dia. E que todos saibam que uma coisa (a concentração de renda) tem tudo a ver com a outra (a profunda desigualdade).

Eu quero é explodir de raiva sempre que preciso, sem jamais perder a ternura.

Eu quero é ler poesia. Degustar a literatura. Sentar numa mesa de bar com Drummond e Vinicius, falar da vida com Clarice, alfinetar os hipócritas com Machado.

Eu quero é não ter vergonha de chorar com os filmes, as músicas e os livros que tocam o meu coração.

Eu quero é dançar, mesmo sem música ou mesmo que o único lugar que eu tenha para fazer isso seja sozinho no meu quarto.

Eu quero é viver muito, ter filhos, plantar uma árvore, escrever um livro e quando estiver bem velhinho dizer que tudo valeu a pena.
Eu quero é fazer valer a pena.

Eu quero é me preocupar com o que realmente importa.

Eu quero é que você, ao acabar de ler isso tudo, comece a pensar no que você quer, no que você ama, com o que você se preocupa e se você está fazendo valer a pena.

E você? O que você quer?

sábado, 8 de dezembro de 2007

Eis o texto

Esta é a citação de Clarice que originou o texto anterior:

"É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo!"
Clarice Lispector

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Aquela que desvenda as almas

Como sempre Clarice tem a capacidade de dizer o que a gente quer, mas não consegue. Ela devia ser algum ser transcendental, um extraterrestre, quem sabe um anjo? Imaginar que ela viveu no Recife, cruzou as pontes nas quais tanto andamos, e que usou , para se inspirar - mesmo criança - as mesmas paisagens que usamos, dá uma coisa. Clarice mexe na minha alma como mexe na alma de qualquer um que dela se aproximar: Seu olhar é penetrante e suas palavras desconcertam. Eu não sei o que há nela, nem o que há em mim quando, lendo os seus escritos, falo com ela. Clarice constrange, incomoda, mais que isso, assusta. Assusta porque ela adivinha os pensamentos. Quem pode não temer alguém que lê os pensamentos? Cuidado! Cuidado com Clarice, meu amor! Ela pode transformar-nos naquilo que já somos e não sabemos, melhor, sabemos, mas temos vergonha de falar...
E como isso é verdade: não posso falar quem eu sou. Eu sei quem sou, sim, ninguém mais do que eu sabe... Mas não posso dizê-lo. Não, não posso, pois o fazendo permito aos interlocutores terem a posse de minha essência e de posse dela o que esperar deles? Verbalizar a minha essência é, ao mesmo tempo, transformá-la, não mais conhecê-la, perder a capacidade de dominá-la. E isso assusta! Como assusta. Clarice me assusta, me impressiona. Deveria ser proibido, sim, deveria ser instituído, internacionalmente, pecado passível de esconjuração, passar por essa vida sem ler Clarice, aquela que desvenda as almas!
...E Parabéns! Por deixar Clarice falar por você. De experiência própria posso dizer que ela fará isso melhor que você mesma.
BjuS
Scrap enviado para Juli assim que vi no "quem sou eu" do seu Orkut uma frase de Clarice Lispector

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Virou vício

Escrever virou um vício. Mas é um vício doloroso. Porque escrever é doloroso. Escrever é sofrer em cada palavra, é parir cada frase, cada linha, chegar à quase exaustão após cada parágrafo. Já me angustio no minuto seguinte à concepção da idéia sobre a qual vou escrever o próximo texto: Prenúncio de uma labuta incansável, um queimar de pestanas que envereda pela madrugada. Escrever é ruminar idéias, regurgitar pensamentos e engoli-los novamente, para, num refluxo, deparar-se com eles de novo. E depois que os pensamentos tomam a forma de tinta, ou melhor, de bits, são como filhos adolescentes: nem bem deixaram as fraldas já querem ser independentes, ganham o mundo e se esquecem da gente. Mal agradecem por terem nascido, ainda assim, continuamos a amá-los e, deles, termos orgulho. Este mesmo veio sem nenhum planejamento familiar. Foi só pra matar o vício, e dormir mais tranqüilo, sem crise de abstinência.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Até a última gota...

Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor. Que tem que ser vivido até a última gota. Sem nenhum medo. Não mata.

Clarice Lispector

Faltando um pedaço

O amor é um grande laço, um passo pr'uma armadilha
Um lobo correndo em círculos pra alimentar a matilha
Comparo sua chegada com a fuga de uma ilha:
Tanto engorda quanto mata feito desgosto de filha

O amor é como um raio galopando em desafio
Abre fendas cobre vales, revolta as águas dos rios
Quem tentar seguir seu rastro se perderá no caminho
Na pureza de um limão ou na solidão do espinho

O amor e a agonia cerraram fogo no espaço
Brigando horas a fio, o cio vence o cansaço
E o coração de quem ama fica faltando um pedaço
Que nem a lua minguando, que nem o meu nos seus braços
Djavan