sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Aquela que desvenda as almas

Como sempre Clarice tem a capacidade de dizer o que a gente quer, mas não consegue. Ela devia ser algum ser transcendental, um extraterrestre, quem sabe um anjo? Imaginar que ela viveu no Recife, cruzou as pontes nas quais tanto andamos, e que usou , para se inspirar - mesmo criança - as mesmas paisagens que usamos, dá uma coisa. Clarice mexe na minha alma como mexe na alma de qualquer um que dela se aproximar: Seu olhar é penetrante e suas palavras desconcertam. Eu não sei o que há nela, nem o que há em mim quando, lendo os seus escritos, falo com ela. Clarice constrange, incomoda, mais que isso, assusta. Assusta porque ela adivinha os pensamentos. Quem pode não temer alguém que lê os pensamentos? Cuidado! Cuidado com Clarice, meu amor! Ela pode transformar-nos naquilo que já somos e não sabemos, melhor, sabemos, mas temos vergonha de falar...
E como isso é verdade: não posso falar quem eu sou. Eu sei quem sou, sim, ninguém mais do que eu sabe... Mas não posso dizê-lo. Não, não posso, pois o fazendo permito aos interlocutores terem a posse de minha essência e de posse dela o que esperar deles? Verbalizar a minha essência é, ao mesmo tempo, transformá-la, não mais conhecê-la, perder a capacidade de dominá-la. E isso assusta! Como assusta. Clarice me assusta, me impressiona. Deveria ser proibido, sim, deveria ser instituído, internacionalmente, pecado passível de esconjuração, passar por essa vida sem ler Clarice, aquela que desvenda as almas!
...E Parabéns! Por deixar Clarice falar por você. De experiência própria posso dizer que ela fará isso melhor que você mesma.
BjuS
Scrap enviado para Juli assim que vi no "quem sou eu" do seu Orkut uma frase de Clarice Lispector

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