O mundo está pegando fogo. O calor consome até a alma. Sobrou até pra Goethe. “Os sofrimentos do jovem Werther” está segurando o segundo ventilador que coloquei no meu quarto. Um ventilador velho, com a base quebrada e que, por isso, precisa de apoio. Não sei se ”Werther” serve de apoio pra ninguém, mas o ventilador não se queixou ainda. Espero que Goethe não se importe.
sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
Vivendo os detalhes
Adorava o sobrenome dela. Preferia chamá-la mil vezes assim, ainda que o seu nome também fosse lindo. A questão era que o seu sobrenome era diferente e isso o instigava. O que gostava mesmo era de fazer trocadilhos com ele: exercitava sua veia poética ao criar situações com o dito cujo. Uma vez, quando foi parar no hospital com uma dor lancinante nas costas (fruto da idade) ligou pra que ela o acompanhasse (Ninguém merece ficar sozinho no hospital – é o cúmulo do abandono). Já havia sido atendido pelo médico e recebia o remédio direto na veia quando ela chegou, ligando e perguntando onde ele estava. Pediu para que a enfermeira fosse buscá-la. Ao dizer o nome dela, sentiu quase que um êxtase percebendo a cara de surpresa da mulher.
- Diferente, não? – Ele falou.
- Diferente, não? – Ele falou.
Ela sorriu.
Ele continuou com um sorriso prazeroso nos lábios:
– Não dá pra confundir. Não vai haver ninguém com esse nome lá fora.
No Orkut dela várias pessoas tentavam usar o sobrenome como motivo de poesias, piadas, paródias... Mas, independente do que os outros tentassem fazer, ele se vangloriava de ninguém alcançar a dimensão do afeto devotado àquele sobrenome. Quase um fetiche, pode-se dizer. Na verdade, adorava poesia. Era gamado em prosa poética. Gostava, também, de dialética, o contraste que forma um novo conceito. O sobrenome dela significava tudo aquilo: poesia, prosa, dialética. Olhávamos para ela e não imaginávamos aquele sobrenome – era pequenininha demais pra isso, mas esta parte era o ápice de tudo: O prazer de ver a surpresa nos olhos dos outros. O prazer de provocar, de surpreender.
Ele continuou com um sorriso prazeroso nos lábios:
– Não dá pra confundir. Não vai haver ninguém com esse nome lá fora.
No Orkut dela várias pessoas tentavam usar o sobrenome como motivo de poesias, piadas, paródias... Mas, independente do que os outros tentassem fazer, ele se vangloriava de ninguém alcançar a dimensão do afeto devotado àquele sobrenome. Quase um fetiche, pode-se dizer. Na verdade, adorava poesia. Era gamado em prosa poética. Gostava, também, de dialética, o contraste que forma um novo conceito. O sobrenome dela significava tudo aquilo: poesia, prosa, dialética. Olhávamos para ela e não imaginávamos aquele sobrenome – era pequenininha demais pra isso, mas esta parte era o ápice de tudo: O prazer de ver a surpresa nos olhos dos outros. O prazer de provocar, de surpreender.
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
Verbos pra nós dois
Marcar
Participar
Indissociar
Indissolubilizar
Organizar
Bagunçar
Re-organizar
Vivenciar
Trocar
Dedicar
Inesquecer
Eternizar
Subcutaneizar
Aproximar
Suar
Erupcionar
Relaxar
Repetir
Repetir
Olhar
Falar
Chorar
Sorrir
Voltar
Maximizar
Vocêizar
Nossalizar
Iluminar
Continuar, continuar, continuar...
Participar
Indissociar
Indissolubilizar
Organizar
Bagunçar
Re-organizar
Vivenciar
Trocar
Dedicar
Inesquecer
Eternizar
Subcutaneizar
Aproximar
Suar
Erupcionar
Relaxar
Repetir
Repetir
Olhar
Falar
Chorar
Sorrir
Voltar
Maximizar
Vocêizar
Nossalizar
Iluminar
Continuar, continuar, continuar...
domingo, 24 de fevereiro de 2008
O dia em que Carla quase morreu
Liguei pra ela quando saí do trabalho. Tava dirigindo.
- Sofri um acidente.
- Como?
- O carro bateu num micro-ônibus, num cruzamento.
- O que? Você tá bem? – Perguntei já angustiado e esquecendo que eu também tava dirigindo.
- Tô! Tô bem, sim! – Ela respondeu, mas eu não acreditei.
Cheguei em casa, entrei no MSN e ela tava lá:
- Imagina se eu tivesse morrido, Cleo! Agora você estaria no meu enterro abraçando a galera de Ciências Sociais. – Detestei a brincadeira mórbida.
Saí de casa e fui visitá-la. Quando a porta do elevador abriu e ela saiu já fiquei puto da vida porque ela tava andando (devia estar de repouso, lógico – Duas noites antes ela tava desacordada com uma porra de um microônibus porta adentro do seu lado do carro). Na minha cabeça ainda ecoava o que ela havia escrito horas antes: “Imagina...”.
Esse comentário me deixou angustiado, incomodado o dia inteiro. A efemeridade da vida surgiu impassível diante de meus olhos. O que fez a diferença entre a vida e a morte neste caso: Segundos? O cinto que o cara no banco de trás usou impedindo que ele a imprensasse na batida? Todos estes detalhes juntos? Deus? Não era sua hora? Freios ABS? Sei lá!
Só sei que aprendi algumas lições:
1. Danem-se as obrigações do cotidiano! Que tudo se exploda! Os amigos têm que ser mais importantes que toda essa roda-viva;
2. Carla realmente não tem nada na cabeça. Ela fez a tomografia: O médico disse (Mas isso todo mundo já sabia);
3. Usar o cinto de segurança atrás e Nunca mais (Nunca mais!) atravessar o sinal quando este estiver desligado, sem, antes, parar.
Carla ainda vai passar muito tempo, ad eternum, destilando seu jeito “escroto” de ser pelos corredores daquela faculdade.
Ainda bem!
sábado, 23 de fevereiro de 2008
Poética I (II)
Por Vinícius de Moraes
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
Poética I
Rua da Moeda, Novo Pina. Alta noite já se ia e eu continuo na mesa pensando nos últimos acontecimentos. De repente, todo aquele vai e vem cessa. Sozinho - não só na mesa pois toda a rua, o mundo, meu coração, também estão vazios - escuto até o barulho do movimentar dos ponteiros de meu relógio. Um coroa boa praça se aproxima, com um copo de uísque nas mãos (e este copo parece ser o seu melhor amigo) toma assento e pergunta:
- Sozinho, camarada?- Sozinho, companheiro. Respondo.
- De novo?
- Fazer o que? Você mesmo disse: "Tristeza não tem fim, felicidade sim". Lembra?
- (Ele Ri) Trocando em miúdos...
- Trocando em miúdos, tô f...
(Mais risos - dele, é claro)
- Bebe aí um gole. Ele diz empurrando o copo. Eu empurro de volta.
Ele continua a falar, enquanto gira com o dedo as pedras de gelo no copo:
- A área tá nublada, prenúncio de instabilidade. Massa de ar quente bem ao lado. Frente fria que se afastou mas já tá se aproximando.
Agora quem ri sou eu, e emendo:
- "Outros que contem passo por passo: Eu morro ontem"
- Você sempre faz tudo com intensidade!
- Acho que é porque "De manhã escureço De dia tardo De tarde anoiteço De noite ardo"
(Gargalhadas)
Ele pergunta: - Acha que precisa de um tempo?
- Tempo, Vinícius! Eu digo: - "Meu tempo é quando"
Dando o último gole, ele se levanta e caminha até desaparecer na esquina. O vai e vem recomeça. Os primeiros raios do dia já me alcançam. Levanto-me e vou em direção ao meu carro.
- Onde eu deixei ele mesmo? Será que não tô sabendo nem pra onde vou?
Respondo a mim mesmo imediatamente:
- "A oeste a morte Contra quem vivo Do sul cativo o este é meu norte"...
Após o sexo
Porque o sexo subverte, cria expectativas, retira a espontaneidade e confere poder.
Frase dita por Lena (Débora Bloch) a Léo (Dan Stulbach) na minissérie Queridos Amigos, refutando a idéia deste de que eles poderiam ter feito sexo (no passado Léo foi apaixonado por Lena) sem, necessariamente, terem a amizade estragada .
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
Desejo primeiro que você ame...
Por Victor Hugo
"Desejo primeiro, que você ame,
e que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer
e esquecendo não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
que mesmo maus e inconseqüentes,
sejam corajosos e fiéis,
e que em pelo menos num deles
você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
desejo ainda que você tenha inimigos;
Nem muitos, nem poucos,
mas na medida exata para que, algumas vezes,
você se interpele a respeito
de suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
mas não insubstituível. E que nos maus momentos,
quando não restar mais nada,
essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante;
não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
mas com os que erram muito e irremediavelmente,
e que fazendo bom uso dessa tolerância,
você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você sendo jovem
não amadureça depressa demais, e que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
e que sendo velho não se dedique ao desespero. Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor
e é preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste;
não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra que o riso diário é bom;
o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra,
com o máximo de urgência, acima e a despeito de tudo, que existem oprimidos,
injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
alimente um cuco e ouça o joão-de-barro erguer triunfante o seu canto matinal;
porque assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
por mais minúscula que seja,
e acompanhe o seu crescimento,
para que você saiba de quantas
muitas vidas são feitas uma árvore.
Desejo, igualmente, que você tenha dinheiro,
porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
coloque um pouco dele na sua frente
e diga "Isso é meu",
só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum dos seus afetos morra,
por ele e por você,
mas que se morrer, você possa chorar
sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo um homem,
tenha uma boa mulher,
e que sendo uma mulher, tenha um bom homem
e que se amem hoje, amanhã e no dia seguinte,
e quando estiverem exaustos e sorridentes,
ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer, não tenho nada mais a desejar.".
"Desejo primeiro, que você ame,
e que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer
e esquecendo não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
que mesmo maus e inconseqüentes,
sejam corajosos e fiéis,
e que em pelo menos num deles
você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
desejo ainda que você tenha inimigos;
Nem muitos, nem poucos,
mas na medida exata para que, algumas vezes,
você se interpele a respeito
de suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
mas não insubstituível. E que nos maus momentos,
quando não restar mais nada,
essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante;
não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
mas com os que erram muito e irremediavelmente,
e que fazendo bom uso dessa tolerância,
você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você sendo jovem
não amadureça depressa demais, e que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
e que sendo velho não se dedique ao desespero. Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor
e é preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste;
não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra que o riso diário é bom;
o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra,
com o máximo de urgência, acima e a despeito de tudo, que existem oprimidos,
injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
alimente um cuco e ouça o joão-de-barro erguer triunfante o seu canto matinal;
porque assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
por mais minúscula que seja,
e acompanhe o seu crescimento,
para que você saiba de quantas
muitas vidas são feitas uma árvore.
Desejo, igualmente, que você tenha dinheiro,
porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
coloque um pouco dele na sua frente
e diga "Isso é meu",
só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum dos seus afetos morra,
por ele e por você,
mas que se morrer, você possa chorar
sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo um homem,
tenha uma boa mulher,
e que sendo uma mulher, tenha um bom homem
e que se amem hoje, amanhã e no dia seguinte,
e quando estiverem exaustos e sorridentes,
ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer, não tenho nada mais a desejar.".
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
Uma boa receita
Preciso cuidar mais da minha saúde
Cuidar mais de mim mesmo
Preservar-me e viver muito
Pra fazer mais amigos e passar mais tempo com os que já tenho
Tô pensando em comprar uma bicicleta
Detesto academia. A paisagem não muda
Pedalar pode ser mais interessante. E posso, enquanto pedalo, passar mais tempo com os amigos
Acho q comecei a contar a vida pelos amigos que tenho
Quero preservá-los! Aprender a ler em seus semblantes quanto de amor há entre nós
E cultivar esse amor!
Cultivar-me também
Acho que essa minissérie (Queridos Amigos) vai mexer comigo.
Já está!
Menos carboidrato, menos açúcar, bicicleta, mais amigos
Deve ser uma boa receita...
Cuidar mais de mim mesmo
Preservar-me e viver muito
Pra fazer mais amigos e passar mais tempo com os que já tenho
Tô pensando em comprar uma bicicleta
Detesto academia. A paisagem não muda
Pedalar pode ser mais interessante. E posso, enquanto pedalo, passar mais tempo com os amigos
Acho q comecei a contar a vida pelos amigos que tenho
Quero preservá-los! Aprender a ler em seus semblantes quanto de amor há entre nós
E cultivar esse amor!
Cultivar-me também
Acho que essa minissérie (Queridos Amigos) vai mexer comigo.
Já está!
Menos carboidrato, menos açúcar, bicicleta, mais amigos
Deve ser uma boa receita...
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
Clube da Esquina (ll)
Composição: Milton Nascimento- Lô Borges- M.Borges
Por que se chamava moço
Também se chamava estrada
Viagem de ventania
Nem lembra se olhou pra trás
Ao primeiro passo, aço, aço....
Por que se chamava homem
Também se chamava sonhos
E sonhos não envelhecem
Em meio a tantos gases
lacrimogênios
Ficam calmos, calmos
E lá se vai mais um dia
E basta contar compasso
e basta contar consigo
Que a chama não tem pavio
De tudo se faz canção
E o coração
Na curva de um rio, rio...
E o Rio de asfalto e gente
Entorna pelas ladeiras
Entope o meio fio
Esquina mais de um milhão
Quero ver então a gente,
gente, gente...
Por que se chamava moço
Também se chamava estrada
Viagem de ventania
Nem lembra se olhou pra trás
Ao primeiro passo, aço, aço....
Por que se chamava homem
Também se chamava sonhos
E sonhos não envelhecem
Em meio a tantos gases
lacrimogênios
Ficam calmos, calmos
E lá se vai mais um dia
E basta contar compasso
e basta contar consigo
Que a chama não tem pavio
De tudo se faz canção
E o coração
Na curva de um rio, rio...
E o Rio de asfalto e gente
Entorna pelas ladeiras
Entope o meio fio
Esquina mais de um milhão
Quero ver então a gente,
gente, gente...
Esquinas
Composição: Djavan
Só eu sei
As esquinas por que passei
Só eu sei só eu sei
Sabe lá o que é não ter e ter que ter pra dar
Sabe lá
Sabe lá
E quem será
Nos arredores do amor
Que vai saber reparar
Que o dia nasceu
Só eu sei
Os desertos que atravessei
Só eu sei
Só eu sei
Sabe lá
O que e morrer de sede em frente ao mar
Sabe lá
Sabe lá
E quem será
Na correnteza do amor que vai saber se guiar
A nave em breve ao vento vaga de leve e trás
Toda a paz que um dia o desejo levou
Só eu sei
As esquinas por que passei
Só eu sei
Só eu sei
E quem será
Na correnteza do amor...
Só eu sei
As esquinas por que passei
Só eu sei só eu sei
Sabe lá o que é não ter e ter que ter pra dar
Sabe lá
Sabe lá
E quem será
Nos arredores do amor
Que vai saber reparar
Que o dia nasceu
Só eu sei
Os desertos que atravessei
Só eu sei
Só eu sei
Sabe lá
O que e morrer de sede em frente ao mar
Sabe lá
Sabe lá
E quem será
Na correnteza do amor que vai saber se guiar
A nave em breve ao vento vaga de leve e trás
Toda a paz que um dia o desejo levou
Só eu sei
As esquinas por que passei
Só eu sei
Só eu sei
E quem será
Na correnteza do amor...
Clube da Esquina
Lembrei-me do meu tempo de criança aqui na rua onde moro. Sempre morei no mesmo lugar. Cresci aqui na Roberval Luna, perto do Colégio São Judas, e aqui fiz meus primeiros amigos. Era na esquina que nos encontrávamos. Logo após o jantar todos se dirigiam a ela para colocar o papo em dia, enfim, para, somente, estar lá. E na esquina as conversas giravam em torno do que uma conversa de pré-adolescentes nos anos 90 poderia girar: brincadeiras, sexo, brincadeiras... sexo. Na esquina amarrávamos uma nota de dinheiro numa cordinha e puxávamos assim que o primeiro transeunte fazia menção de pegá-la: Adorava aquilo. Era extremamente prazerosa a sensação de pertencimento àquele grupo (tão heterogêneo – hoje percebo isso) a ponto de não temer retaliações dos que não levassem tudo aquilo “na esportiva”.
Na Roberval Luna fazíamos campeonato de futebol, vídeo-game, dramatizávamos “Chaves” no quintal de um dos garotos, jogávamos o “jogo da vida” e tudo o que era possível fazer naquela época e naquele contexto. E o que aconteceu com o clube da esquina? Hoje não passamos, todos nós, de rostos conhecidos uns aos outros. Rostos que se cruzam na rua fazendo gestos de saudação, e apenas isso. Rostos de vidas que tomaram caminhos diferentes. Crescemos, fizemos novos amigos, outros contatos, outros ares. Restou apenas a saudade de uma época que foi congelada num passado cada vez mais distante, que a cada dia perde um pouco de seu significado. Quais deles convidaria hoje para minha formatura? Ou meu casamento? Ou simplesmente para uma mesa de bar? A resposta remete a um Cleonardo que não mais pertence a esta esquina, apesar de ainda morar no mesmo lugar. Provavelmente, numa conversa com qualquer um deles, não seria mais reconhecido. Não pela barba, o brinco e os quilos a mais: Eles não mais poderiam ver aquele menino que tinha medo de jogar bola de gude “à vera” e arriscar sua pipa na “torança”. As estradas da vida me forjaram, as ruas da existência me moldaram, as vielas e os becos do cotidiano serviram a mim como um ferro que aguça o outro. Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, porque, da segunda vez, nem você, nem o rio, serão os mesmos, já disse Heráclito. Com as esquinas deve funcionar da mesma maneira.
A esquina da Roberval Luna continua lá (ou aqui – depende do ponto de vista), freqüentada, agora, por outra geração. Suas amizades resistirão ao tempo? Não sei. Sei que todos passarão por muitas esquinas. E eu... “Só eu sei as esquinas por que passei... Só eu sei”.
Na Roberval Luna fazíamos campeonato de futebol, vídeo-game, dramatizávamos “Chaves” no quintal de um dos garotos, jogávamos o “jogo da vida” e tudo o que era possível fazer naquela época e naquele contexto. E o que aconteceu com o clube da esquina? Hoje não passamos, todos nós, de rostos conhecidos uns aos outros. Rostos que se cruzam na rua fazendo gestos de saudação, e apenas isso. Rostos de vidas que tomaram caminhos diferentes. Crescemos, fizemos novos amigos, outros contatos, outros ares. Restou apenas a saudade de uma época que foi congelada num passado cada vez mais distante, que a cada dia perde um pouco de seu significado. Quais deles convidaria hoje para minha formatura? Ou meu casamento? Ou simplesmente para uma mesa de bar? A resposta remete a um Cleonardo que não mais pertence a esta esquina, apesar de ainda morar no mesmo lugar. Provavelmente, numa conversa com qualquer um deles, não seria mais reconhecido. Não pela barba, o brinco e os quilos a mais: Eles não mais poderiam ver aquele menino que tinha medo de jogar bola de gude “à vera” e arriscar sua pipa na “torança”. As estradas da vida me forjaram, as ruas da existência me moldaram, as vielas e os becos do cotidiano serviram a mim como um ferro que aguça o outro. Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, porque, da segunda vez, nem você, nem o rio, serão os mesmos, já disse Heráclito. Com as esquinas deve funcionar da mesma maneira.
A esquina da Roberval Luna continua lá (ou aqui – depende do ponto de vista), freqüentada, agora, por outra geração. Suas amizades resistirão ao tempo? Não sei. Sei que todos passarão por muitas esquinas. E eu... “Só eu sei as esquinas por que passei... Só eu sei”.
domingo, 17 de fevereiro de 2008
Depois eu escrevo
Eu queria escrever, mas tô com preguiça.
Escrever exige muito da gente. Sinto minhas forças se exaurirem enquanto o texto flui.
É... Não vou escrever, não.
Não sei nem o que dizer,
Por onde começar.
Não tenho nem o que falar.
Pra escrever qualquer coisa é melhor não escrever.
Depois o leitor vai pensar que este blogueiro que vos fala (escreve) não tem o que fazer.
Tão me chamando,
Vou-me embora.
Mais tarde eu escrevo alguma coisa que toque o meu coração.
Porque se for pra escrever tem que ser pra tocar os corações, o do blogueiro e o do leitor.
Já vooou!...
Agora tenho que ir, leitor.
Depois eu escrevo.
Escrever exige muito da gente. Sinto minhas forças se exaurirem enquanto o texto flui.
É... Não vou escrever, não.
Não sei nem o que dizer,
Por onde começar.
Não tenho nem o que falar.
Pra escrever qualquer coisa é melhor não escrever.
Depois o leitor vai pensar que este blogueiro que vos fala (escreve) não tem o que fazer.
Tão me chamando,
Vou-me embora.
Mais tarde eu escrevo alguma coisa que toque o meu coração.
Porque se for pra escrever tem que ser pra tocar os corações, o do blogueiro e o do leitor.
Já vooou!...
Agora tenho que ir, leitor.
Depois eu escrevo.
sábado, 16 de fevereiro de 2008
Guerra Santa
Composição: Gilberto Gil
Ele diz que tem, que tem como abrir o portão do céu
ele promete a salvação
ele chuta a imagem da santa, fica louco-pinel
mas não rasga dinheiro, não
Ele diz que faz, que faz tudo isso em nome de Deus
como um Papa na inquisição
nem se lembra do horror da noite de São Bartolomeu
não, não lembra de nada não
Não lembra de nada, é louco
mas não rasga dinheiro
promete a mansão no paraíso
contanto, que você pague primeiro
que você primeiro pague dinheiro
dê sua doação, e entre no céu
levado pelo bom ladrão
Ele pensa que faz do amor sua profissão de fé
só que faz da fé profissão
aliás em matéria de vender paz, amor e axé
ele não está sozinho não
Eu até compreendo os salvadores profissionais
sua feira de ilusões
só que o bom barraqueiro que quer vender seu peixe em paz
deixa o outro vender limões
Um vende limões, o outro vende o peixe que quero nome de Deus pode ser Oxalá
Jeová, Tupã, Jesus, Maomé
Maomé, Jesus, Tupã, JeováOxalá e tantos mais
sons diferentes, sim, para sonhos iguais
Ele diz que tem, que tem como abrir o portão do céu
ele promete a salvação
ele chuta a imagem da santa, fica louco-pinel
mas não rasga dinheiro, não
Ele diz que faz, que faz tudo isso em nome de Deus
como um Papa na inquisição
nem se lembra do horror da noite de São Bartolomeu
não, não lembra de nada não
Não lembra de nada, é louco
mas não rasga dinheiro
promete a mansão no paraíso
contanto, que você pague primeiro
que você primeiro pague dinheiro
dê sua doação, e entre no céu
levado pelo bom ladrão
Ele pensa que faz do amor sua profissão de fé
só que faz da fé profissão
aliás em matéria de vender paz, amor e axé
ele não está sozinho não
Eu até compreendo os salvadores profissionais
sua feira de ilusões
só que o bom barraqueiro que quer vender seu peixe em paz
deixa o outro vender limões
Um vende limões, o outro vende o peixe que quero nome de Deus pode ser Oxalá
Jeová, Tupã, Jesus, Maomé
Maomé, Jesus, Tupã, JeováOxalá e tantos mais
sons diferentes, sim, para sonhos iguais
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
Eles que sejam o ópio do povo
Sonhei que estava num culto de empresários de uma igreja evangélica formada por um público de, no mínimo, classe média alta. Nesta igreja o púlpito é de mármore, há um desfile exuberante de roupas novas a cada domingo, as reuniões de membros discutem o problema de que não há lugar pra estacionar os carros, e os flanelinhas (esses abusados!), estão se aproveitando disto. Bem... Chamam-me para a leitura bíblica (Não me perguntem o que estou fazendo lá, é um sonho, nem tudo faz sentido). Abro a Bíblia e leio o texto abaixo:
Ouçam agora vocês, ricos! Chorem e lamentem-se, tendo em vista a desgraça que lhes sobrevirá. A riqueza de vocês apodreceu, e as traças corroeram suas roupas. O ouro e a prata de vocês enferrujaram, e a ferrugem deles testemunhará contra vocês e como fogo lhes devorará a carne. Vocês acumularam bens nestes últimos dias. Vejam, o salário dos trabalhadores que ceifaram os seus campos, e que vocês retiveram com fraude, está clamando contra vocês. O lamento dos ceifeiros chegou ao Senhor dos Exércitos. Vocês viveram luxuosamente na terra, desfrutando prazeres, e fartaram-se de comida em dia de abate. Vocês tem condenado e matado o justo sem que ele ofereça resistência. (Tiago 5: 1-8)
Fecho a Bíblia sem mais nada dizer - Não precisava.
Reina o Silêncio.
Olhos me fulminam.
Vou assentar-me com um semblante de êxtase na face.
Sussuro: Eles que sejam o ópio do povo, eu não.
ELE responde: Mandou bem, meu filho!
E sorrimos!
Cleonardo
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
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