sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Vivendo os detalhes

Adorava o sobrenome dela. Preferia chamá-la mil vezes assim, ainda que o seu nome também fosse lindo. A questão era que o seu sobrenome era diferente e isso o instigava. O que gostava mesmo era de fazer trocadilhos com ele: exercitava sua veia poética ao criar situações com o dito cujo. Uma vez, quando foi parar no hospital com uma dor lancinante nas costas (fruto da idade) ligou pra que ela o acompanhasse (Ninguém merece ficar sozinho no hospital – é o cúmulo do abandono). Já havia sido atendido pelo médico e recebia o remédio direto na veia quando ela chegou, ligando e perguntando onde ele estava. Pediu para que a enfermeira fosse buscá-la. Ao dizer o nome dela, sentiu quase que um êxtase percebendo a cara de surpresa da mulher.
- Diferente, não? – Ele falou.
Ela sorriu.
Ele continuou com um sorriso prazeroso nos lábios:
– Não dá pra confundir. Não vai haver ninguém com esse nome lá fora.
No Orkut dela várias pessoas tentavam usar o sobrenome como motivo de poesias, piadas, paródias... Mas, independente do que os outros tentassem fazer, ele se vangloriava de ninguém alcançar a dimensão do afeto devotado àquele sobrenome. Quase um fetiche, pode-se dizer. Na verdade, adorava poesia. Era gamado em prosa poética. Gostava, também, de dialética, o contraste que forma um novo conceito. O sobrenome dela significava tudo aquilo: poesia, prosa, dialética. Olhávamos para ela e não imaginávamos aquele sobrenome – era pequenininha demais pra isso, mas esta parte era o ápice de tudo: O prazer de ver a surpresa nos olhos dos outros. O prazer de provocar, de surpreender.

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