sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Poética I

Rua da Moeda, Novo Pina. Alta noite já se ia e eu continuo na mesa pensando nos últimos acontecimentos. De repente, todo aquele vai e vem cessa. Sozinho - não só na mesa pois toda a rua, o mundo, meu coração, também estão vazios - escuto até o barulho do movimentar dos ponteiros de meu relógio. Um coroa boa praça se aproxima, com um copo de uísque nas mãos (e este copo parece ser o seu melhor amigo) toma assento e pergunta:
- Sozinho, camarada?
- Sozinho, companheiro. Respondo.
- De novo?
- Fazer o que? Você mesmo disse: "Tristeza não tem fim, felicidade sim". Lembra?
- (Ele Ri) Trocando em miúdos...
- Trocando em miúdos, tô f...
(Mais risos - dele, é claro)
- Bebe aí um gole. Ele diz empurrando o copo. Eu empurro de volta.
Ele continua a falar, enquanto gira com o dedo as pedras de gelo no copo:
- A área tá nublada, prenúncio de instabilidade. Massa de ar quente bem ao lado. Frente fria que se afastou mas já tá se aproximando.
Agora quem ri sou eu, e emendo:
- "Outros que contem passo por passo: Eu morro ontem"
- Você sempre faz tudo com intensidade!
- Acho que é porque "De manhã escureço De dia tardo De tarde anoiteço De noite ardo"
(Gargalhadas)
Ele pergunta: - Acha que precisa de um tempo?
- Tempo, Vinícius! Eu digo: - "Meu tempo é quando"
Dando o último gole, ele se levanta e caminha até desaparecer na esquina. O vai e vem recomeça. Os primeiros raios do dia já me alcançam. Levanto-me e vou em direção ao meu carro.
- Onde eu deixei ele mesmo? Será que não tô sabendo nem pra onde vou?
Respondo a mim mesmo imediatamente:
- "A oeste a morte Contra quem vivo Do sul cativo o este é meu norte"...

Nenhum comentário: