quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Para mim também

"Aquele que se entrega ao outro como um soldado se constitui prisioneiro, deve antes entregar todas as armas. E, vendo-se sem defesa, não pode deixar de se indagar quando virá o golpe. Posso, portanto, dizer que o amor era para Franz a espera contínua do golpe."

Milan Kundera em "A insustentável leveza do ser"

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Não ligou

Acho q sim. Devo estar um tanto sensível pra estar me importando com isso. Mas quem não tem os seus momentos de sensibilidade, não é mesmo? Pra mim eles são bons, pra que eles contrastem com meus momentos de trovão e façam minha balança da bipolaridade pender para o lado que me compraz.

Cheiro de morte e fragrância de vida

O odor acre da morte me invadiu as narinas.
Tento afastar aquela imagem de minha mente, mas ela volta como um pesadelo ininterrupto.
Reproduzo, inconscientemente, a cena em minha mente na tentativa de dar um novo final à história: eu consigo segurar suas mãos na última hora, ou chego perto e à convenço a não se entregar, não saltar pra eternidade perdida.
Os gritos de pavor ainda ressoam. Aquele dia manchado de morte tardou a acabar. Na minha mente aquele dia ainda volta como uma fita quebrada se repetindo intermitentemente.
Ainda não me sinto bem ao andar por aqueles corredores. Não sei se voltarei a me sentir. Parece que as paredes, o para-peito, as pilastras, o vento, tudo denuncia que ali é um lugar de morte.
Procuro o tapete dentro de minha cabeça para jogar esta sujeira pra debaixo dele. Essa faxina vai demorar a ser feita. Esse pó ainda paira na minha mente, e sufoca.
O fio de vida que aqui nos segura é fugaz. Frágil como uma vela na constante iminência de ser apagada pelo vento.
Li uma crônica de Rubem Alves que falava sobre a glória-da-manhã, uma pequena flor que desabrocha ao amanhecer e logo morre no final do dia. Seu objetivo era somente este: encher os olhos de quem passava, ser uma nota importante na partitura da vida, na música de um dia. Se nossas vidas são para a história como um dia, que sejamos como a glória-da-manhã, fugazes, contudo, marcantes. Que vivamos com a fragrância da vida a nos acompanhar, fragrância trabalhada por um boticário que faz um perfume não para uma ocasião qualquer, mas para a melhor delas: o baile da vida. Que todos possam sentí-la pelo ar. Todos ao meu redor. Todos a quem amo. Todos a quem quero deixar marcados por este cheiro, como um aroma que agarra como uma nódoa, uma nódoa de vida.

Texto escrito após presenciar um suicídio no prédio do CFCH, na UFPE. Era quinta-feira pela manhã e as luzes se apagaram.

domingo, 26 de outubro de 2008

Como são os Românticos

O cenário inspirava. O beijo parecia não ter fim. Nem eles queriam que tivesse. Jurava que podia ouvir uma trilha sonora, não a do restaurante, mas a trilha sonora que eles haviam escolhido. Ainda que aquele lugar estivesse lotado, não importava: Tudo estava parado para os dois. Então eles olham nos olhos um do outro e ela diz: Tira a mão do meu sovaco!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Seco


Sinto-me seco. Não consigo escrever nada, pelo menos nada que goste depois de escrito. Procuro a palavra que emociona. Mas como encontrá-la se cá dentro não tem emoção.
Eu estou seco.
Saudade de quando as palavras saem sem precisar pensar muito, como que jorrando, como que brotando.
Mas de terra seca não brota nada. Só o chão seco, rachado, inerte.
Seco
Espero a chuva, pra fazer renascer o verde, pra fazer correr de novo o rio intermitente das palavras.
Não vejo uma nuvem no céu.
Está tudo seco, seco
Seco
Resta-me a prece do sertanejo
"Ó chuva, vem me dizer, que eu posso ir lá em cima pra derramar você"
Resta-me acreditar que amanhã vai chover
Amanhã, então, quem sabe...

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Um domingo daqueles

Um domingo daqueles em que se podia muito bem passar o dia inteiro na frente da televisão sem se dar falta de nada. Começou às quatro horas da manhã pra ver Massa chegar atrás de Hamilton e, praticamente, deixar o título nas mãos do inglês. Isto eu só soube depois né, porque na hora da corrida, acordei, vi a largada, e não aguentei mais - o sono falou mais alto. Despertei de novo pra ver o Brasil ser Hexa no futsal. Jogo perfeito. E como Hexa é luxo, adorei ver a seleção levantando a taça, ainda mais por ter sido diante dos espanhóis (que vestiam vermelho e preto - argh!). Intervalo para ler um pouquinho de Karl Marx e às três da tarde tem início o melhor jogo que vi neste ano, o São Paulo de Rogério contra o Palmeiras de Denílson. Que jogão! Deu empate. Vale ressaltar o show à parte dos técnicos: o carrancudo Muricy versus o chorão Luxemburgo. Saio de casa - enfim - pra passear um pouquinho: Buscar a namorada em casa pra dar uma passadinha numa livraria, chafurdar nos livros, sentir o cheiro de livro novo, verificar as novidades, sentar naqueles sofás, ler, pegar mais livros, ler mais um pouquinho - é sempre um bom programa(apesar de, desta vez, não ter sido tão bom assim - mas isto é outra histórisa. Antes de chegar na casa dela, ligo o rádio e, tenso, escuto o Clássico dos Clássicos. E veio um gol - vibração total ao volante, quase perco o controle. Como é bom vibrar com um gol de nosso time. Foi uma vibração solitária, porém, intensa: Dirigindo, ali, sozinho, abri o vidro, cerrei os punhos e gritei com a alma - Como é bom! No final também deu empate, ao meu ver com sabor de derrota, mas não foi de todo mal. Clássico é pra quem tem coração e esse mexeu não só com o meu, mas com o coração de uma cidade inteira. Fim de domingo, sala vazia, barulho de teclado, rememoro as provas que terei durante a semana na faculdade e já penso no próximo domingo. Não precisa nem ser tão recheado assim. Só precisa ser um domingo pra depois ter o que falar, lembrar, esquecer e, quem sabe, escrever. Até lá!

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Apenas confio

Oração de Thomas Merton

Senhor Deus,
Não tenho a menor idéia de para onde estou indo,
Não enxergo o caminho à minha frente,
Não sei ao certo onde irá dar esse caminho.
Também não conheço verdadeiramente a mim mesmo,
E o fato de que penso que estou seguindo a Tua vontade
Não significa que realmente esteja seguindo a Tua vontade.
Mas acredito que o meu desejo de Te agradar
Realmente Te agrada.
E espero ter esse desejo em tudo o que fizer,
Espero nunca me afastar desse desejo.
Sei que, se assim o fizer,
Tu me guiarás pelo caminho correto
Embora eu possa nem saber que o estou trilhando.
Assim, confiarei sempre em Ti
Embora eu pareça estar perdido
E caminhando na sombra da morte.
Eu não temerei, porque Tu estás sempre comigo
E nunca deixarás que eu enfrente os perigos sozinho.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Suplício da Suplicy


Quem diria, leitor, que eu estaria torcendo para um DEMo ganhar a eleição? Pois é o que está acontecendo em São Paulo, depois dos golpes baixos desferidos pela candidata do PT, Marta Suplício, a rainha da arrogância. Acostumada a ser colocada como alguém a frente do seu tempo por ter apresentado - como sexóloga que é - um programa sobre o tema, numa época em que este assunto ainda incomodava se exposto de forma pública, desta vez toma uma posição mais do que retrógrada. Marta Suplício, a ministra do relaxa e goza, passou a insinuar na propaganda de sua campanha à prefeitura paulista que Kassab, seu adversário, é homossexual e, por isso, não estaria habilitado a governar a cidade. Se a dama esnobe fosse uma fundamentalista católica, ou uma conservadora evangélica, eu até que entenderia, mas algo assim, vindo de uma candidata que sempre obteve uma votação expressiva do público GLS e que se pretende esclarecida, pegou mal. Muito mal mesmo. Espero que a população entenda que a aptidão de um polítco ao governo vem de sua trajetória pública, de sua capacidade de governar e atrair para si um grupo político disposto a construir um mandato que vise o bem estar público. Não tem nada a ver com a opção sexual. Fica claro que o único objetivo de Marta Suplicy é a vitória como um fim em si mesmo, e, como Maquiavel fez a centenas de anos atrás, separa a dimensão ética da política, comporta-se como raposa e leão, simula e dissimula, enfim, só se importa com uma ética: a dos que vencem a qualquer custo. Bem, resta a mim esta torcida inédita para um candidato do ex-PFL(argh!) ganhar a eleição dando uma boa sova na sua adversária. Que o suplício da Suplicy nos deixe uma boa lição: Enterremos, nós, o preconceito. Prezemos pela ética, sempre.

domingo, 12 de outubro de 2008

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Magra

Por Lenine

Moça
Pernas de pinça
Alta
Corpo de lança
Magra
Olhos de corça
Leve
Toda cortiça
Passa
Como que nua
Calma
Finge que voa
Brasa
Chama na areia
Bela
Como eu queria
Magra, leve, calma
Toda ela bela
Tudo nela chama
Segue
Enquanto suspiro
Toda
Cor de tempero
Cheira
Um cheiro tão raro
Clara
Cura o escuro
Ela
Braços de linha
Dengo
Cheio de manha
Durmo
E peço que venha
Acordo
E sonho que é minha
Magra, leve, calma
Toda ela bela
Tudo nela

domingo, 5 de outubro de 2008

O Oportunista

Hoje, ao votar, me senti num daqueles filmes de ficção científica onde extra-terrestres, após terem destruído vários outros planetas em galáxias distantes, aportam aqui na terra como uma praga de gafanhotos que, de plantação em plantação, vão se alimentado daquilo que foi construído por outros. Já vi gente trocando voto por tudo, de promessa de rua calçada à interesses escusos, sempre se preocupando com o seu próprio umbigo, esquecendo a importância de uma decisão que deveria transcender o âmbito privado para o âmbito da coletividade. Mas na pós-modernidade a coletividade morreu e o super-indivíduo-egoísta-egocêntrico- narcisista-hedonista tem mais de mil umbigos pra olhar. Amigos me disseram que ganhariam tais ou quais vantagens com a vitória do Oportunista. Olhando para eles sempre me vinha à mente a imagem de 45 aves de rapina alimentando-se da carne podre daqueles que substituiram a sua consciência pela mente putrefata da ambição. Vendedores de carne podre: é assim que eu os vejo. O resultado sai hoje. Espero que os extra-terrestres, os gafanhotos e os abutres batam em retirada.