O odor acre da morte me invadiu as narinas.
Tento afastar aquela imagem de minha mente, mas ela volta como um pesadelo ininterrupto.
Reproduzo, inconscientemente, a cena em minha mente na tentativa de dar um novo final à história: eu consigo segurar suas mãos na última hora, ou chego perto e à convenço a não se entregar, não saltar pra eternidade perdida.
Os gritos de pavor ainda ressoam. Aquele dia manchado de morte tardou a acabar. Na minha mente aquele dia ainda volta como uma fita quebrada se repetindo intermitentemente.
Ainda não me sinto bem ao andar por aqueles corredores. Não sei se voltarei a me sentir. Parece que as paredes, o para-peito, as pilastras, o vento, tudo denuncia que ali é um lugar de morte.
Procuro o tapete dentro de minha cabeça para jogar esta sujeira pra debaixo dele. Essa faxina vai demorar a ser feita. Esse pó ainda paira na minha mente, e sufoca.
O fio de vida que aqui nos segura é fugaz. Frágil como uma vela na constante iminência de ser apagada pelo vento.
Li uma crônica de Rubem Alves que falava sobre a glória-da-manhã, uma pequena flor que desabrocha ao amanhecer e logo morre no final do dia. Seu objetivo era somente este: encher os olhos de quem passava, ser uma nota importante na partitura da vida, na música de um dia. Se nossas vidas são para a história como um dia, que sejamos como a glória-da-manhã, fugazes, contudo, marcantes. Que vivamos com a fragrância da vida a nos acompanhar, fragrância trabalhada por um boticário que faz um perfume não para uma ocasião qualquer, mas para a melhor delas: o baile da vida. Que todos possam sentí-la pelo ar. Todos ao meu redor. Todos a quem amo. Todos a quem quero deixar marcados por este cheiro, como um aroma que agarra como uma nódoa, uma nódoa de vida.
Texto escrito após presenciar um suicídio no prédio do CFCH, na UFPE. Era quinta-feira pela manhã e as luzes se apagaram.
Tento afastar aquela imagem de minha mente, mas ela volta como um pesadelo ininterrupto.
Reproduzo, inconscientemente, a cena em minha mente na tentativa de dar um novo final à história: eu consigo segurar suas mãos na última hora, ou chego perto e à convenço a não se entregar, não saltar pra eternidade perdida.
Os gritos de pavor ainda ressoam. Aquele dia manchado de morte tardou a acabar. Na minha mente aquele dia ainda volta como uma fita quebrada se repetindo intermitentemente.
Ainda não me sinto bem ao andar por aqueles corredores. Não sei se voltarei a me sentir. Parece que as paredes, o para-peito, as pilastras, o vento, tudo denuncia que ali é um lugar de morte.
Procuro o tapete dentro de minha cabeça para jogar esta sujeira pra debaixo dele. Essa faxina vai demorar a ser feita. Esse pó ainda paira na minha mente, e sufoca.
O fio de vida que aqui nos segura é fugaz. Frágil como uma vela na constante iminência de ser apagada pelo vento.
Li uma crônica de Rubem Alves que falava sobre a glória-da-manhã, uma pequena flor que desabrocha ao amanhecer e logo morre no final do dia. Seu objetivo era somente este: encher os olhos de quem passava, ser uma nota importante na partitura da vida, na música de um dia. Se nossas vidas são para a história como um dia, que sejamos como a glória-da-manhã, fugazes, contudo, marcantes. Que vivamos com a fragrância da vida a nos acompanhar, fragrância trabalhada por um boticário que faz um perfume não para uma ocasião qualquer, mas para a melhor delas: o baile da vida. Que todos possam sentí-la pelo ar. Todos ao meu redor. Todos a quem amo. Todos a quem quero deixar marcados por este cheiro, como um aroma que agarra como uma nódoa, uma nódoa de vida.
Texto escrito após presenciar um suicídio no prédio do CFCH, na UFPE. Era quinta-feira pela manhã e as luzes se apagaram.
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