segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

De 2007, o que fica?

Fica o prazer de ter escolhido fazer o que realmente amo. O futuro como sociólogo reserva, além de apreensão - sempre fico apreensivo quanto ao futuro -, a sensação da iminência de um grande sentimento de realização e dever cumprido, como não seria em nenhuma outra profissão.

Fica a lição de que o cristianismo transcende os muros das instituições. Estas instituições conseguiram cristalizar o conceito de ser cristão e reduzi-lo ao cumprimento de um sem número de exigências que têm a ver muito menos com o caráter do que com a manutenção de uma aparência de santidade: Aparência indispensável para a manutenção dos cargos, posições e papéis nestas instituições.

Fica a decepção de saber que o projeto do qual fiz parte, e me dediquei, mais do que a qualquer outra coisa na minha vida, durante dez anos, está, hoje, na mão de pessoas que não têm a mínima consideração pelos que contribuíram para a história deste grupo. O Ministério de Mocidade da IBMC (Igreja Batista Missionária em Camaragibe), que tem mais de 10 anos, e não apenas 02(como seus líderes comemoraram a pouco), tornou-se um reduto de evangélicos intolerantes, conservadores e monolíticos, onde as idéias divergentes são escanteadas de pronto. Esqueceram de Wellington e Ângela, fundadores do grupo, e antes deles, de Simone e George, os precursores, de Nemésio, que assumiu num período de transição conturbado, além de Helton, Wallace, Lourdes Gama, Sávio Gama, Beto Borba, Rafael Pereira, Daniel Silva e tantos outros que a este grupo dedicaram uma vida.

Fica outra lição de negar veementemente quando alguém me chamar pra uma reunião onde vão dizer que todo mundo está “fora de controle” ganhando dinheiro com um pó que emagrece. Fuja disso, você também, pelo amor de Deus!!! É furada!

Fica a nota 10 na prova de Maria Eduarda e a sensação inusitada de uma aula ser melhor do que uma farra, um filme, uma partida de futebol ou qualquer outra coisa.

Ficam as idas ao cavanhaque(bar) para comemorar o que quer que seja com o pessoal da faculdade.

Fica o privilégio de ter conhecido um novo amor, quando do amor não esperava nada mais. Passar os dias com você, meu amor, é ansiar pela paralisação do tempo, é conviver com a substituição imediata da despedida pela saudade e desfrutar da certeza de que dias melhores virão.

Fica a alegria de ter descoberto grandes amigos e companheiros de farra dentro da minha própria casa. De ter feito novos amigos, como os camaradas (Eu, Diogo, Emanuel, Rafael e Diego). De ter mantido velhas amizades como as de Wellington, Sávio, Delane, Ana Teresa e Mônica; De ter solidificado outras na faculdade: com Bernardo, Carla de Paula e Pedrinho; De ter re-solidificado outros laços com Nemésio e Helton.

Fica a lembrança das palhaçadas com os camaradas nos shows de Academia da Berlinda. Até de stripers nós atacamos na concha acústica da UFPE. Só loucura ao som de “Ivete Canivete, não corte as relações comigo...”

Fica a permanência do Náutico na 1º divisão.

Fica o objetivo de aprender a falar alemão.

Fica a promessa cumprida de aprender a tocar alfaia.

Ficam as leituras de Drummond, Clarice e Vinícius.
Ficam as músicas de Chico e Los Hermanos.

Fica a descoberta do samba.

Fica a feliz idéia de ter criado este blog: Minha terapia.

Fica reeditada a indignação contra a injustiça e a desigualdade. Fica retravada a luta contra quem quer jogar esta sujeira pra debaixo do tapete.

Fica mantida a esperança contida nos planos que atravessam o ano até 2008. Tenho eles bem traçados. Lutarei para cumpri-los e quando 2008 acabar nos encontraremos aqui novamente para festejá-los. Se Deus quiser!!!

Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? passa telegramas?)

Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados,
começando pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo,
eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Ó Deus! Quem és tu?

Ó Deus! Quem és tu?
Que nomes moram no teu mistério sem fim?
Ninguém jamais te viu.
Passas como o Vento, e só ficam as marcas da tua passagem, gravadas na memória: o sentimento de beleza, o sentimento de tristeza, o corpo que espera, sem certeza, com um poema na carne. Tua face, nunca a vi. Só conheço as muitas faces da minha saudade. E, se te chamas pelo nome de Pai e pelo nome de Mãe, é porque estes são os nomes da minha nostalgia, no bater binário do desejo.

Rubem Alves em "Pai Nosso".

domingo, 23 de dezembro de 2007

Combinação lacrimejante

Chego em casa sozinho
Uma taça de vinho
O sorriso de Mona Lisa
Lágrimas

sábado, 22 de dezembro de 2007

O Haiti é aqui

Quando você for convidado pra subir no adro da Fundação Casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos
E outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados...

... E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina
111 presos indefesos
Mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos
Ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres
E todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti
Reze pelo Haiti

O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

Trechos de “Haiti” (Gilberto Gil e Caetano Veloso)

Iluminar sempre

Del, guardei este scrap que me enviaste porque ele me fez perceber que ainda sou capaz de iluminar, e isto me emocionou um tanto. Lembra? Foi quando coloquei uma foto nossa no meu albúm do orkut dizendo que você é a irmã que nunca tive. Sim, você é! Coloco-o aqui pra comemorar o teu aniversário e te dar meus parabéns, minha irmã. Feliz aniversário!

Vim te deixar um recado avisando que ia te mandar por e-mail a nossa foto de sábado...porque eu adorei a foto, sua companhia na farra, sua energia e porque adoro nossa amizade e vc sabe que é meu amigo, meu anjo, meu irmão...
Então, vou conferir seu álbum e agora estou emocionada.. vixe que hoje estou uma chorona sem precedentes, mas é só hoje, viu????.. e vc me veio com palavras tão lindas quanto doces e principalmente importantes.. e mesmo sem saber iluminou um dia nublado para mim, na verdade, mais um... eu te amo e vc sabe disso!!!
beijooooo

"Iluminar, iluminar sempre, iluminar tudo, iluminar todos, apenas iluminar, esse é o meu lema, e o do Sol." Vladimir Mayakovsky

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

O melhor remédio é cantar

Podem os homens vir
que não vão me abalar
O cães farejam o medo,
logo não vão me encontrar
Não se trata de coragem
Mas meus olhos estão distantes
Me camuflam na paisagem
Dando um tempo pra cantar.

Trecho de "Me deixa" (O Rappa)

Mensagem numa garrafa à Clarice


Uma das minhas maiores angústias e decepções é não ter te conhecido. Pior, nunca vou poder te conhecer. Sim, tenho os teus livros, mas queria poder ouvir a tua voz. Estar perto. E você me diria como consegues ler meus pensamentos, tanto que se acreditasse em vidas passadas juraria termos sido grandes amigos em muitas delas, e você, minha confidente, saberia tudo de mim, e é assim que essas memórias, regressas de outrora, desfilam na tua caneta como numa adivinhação assustadora. Tenho medo de você, mas te desejo. Repeles-me e atrais-me, tudo ao mesmo tempo agora. Queria passear com você pelas pontes do Recife, e bebericar um pouco contigo no Catamarã e ver o teu sorriso brotar desses lábios que tudo sabem, tudo dizem. Quem sabe sairíamos para conversar: Eu, você e Drummond. E aí ouviria você falar sem parar e embolar as palavras, resultado da garrafa de vinho já seca. E aí eu te levaria em casa, viria você tirando as sandálias e olharia para teus pés ucranianos (devem ser grandes - nada delicados), mas provavelmente prestaria mais atenção na tua silhueta já abrasileirada, nos teus lábios universais e pediria, só mais um pouquinho, que não dormisses e ficasse ali comigo conversando, porque quando amanhecesse e eu acordasse, descobriria que tudo não passou de um sonho. Tudo se dissiparia. Hoje, quando acordei estiquei os braços para apanhar “a hora da estrela”, a fim de começar bem o dia. Ao abrir reconheci tua letra: Obrigado por sua companhia ontem à noite, Cleo. Por isso te escrevo, pra te dizer: Obrigado, também. Por tudo.


Cleonardo

21/12/2007

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Só isso

Eu só quero você nos meus braços sem hora pra chegar em casa
Só isso!
Que os relógios se explodam!
Que a tortura do correr dos ponteiros se vá!
Só isso!
Ver o sol nascendo ao seu lado
E de novo, de novo, de novo
Só isso!
Criar um mundo paralelo onde os celulares não toquem
Não nos chamem
Que toquem a trilha sonora que a gente escolheu
Pra embalar nosso amor
Pra esquecer do temor
Pra suavizar o pudor, pra aquecer o ardor
Só isso mesmo!
Só isso

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

A CPMF, A Veja e Eu

Todos os veículos de comunicação brasileiros se esqueceram de dizer que a CPMF é o imposto mais transversal da carga tributária brasileira, ou seja, pega a todos, de cima a baixo, e bem mais os de cima que os de baixo. Sim, é errado o fato de a alíquota cobrada ser a mesma tanto para os mais ricos quanto para os mais pobres, o princípio deveria ser o mesmo do imposto de renda. Esqueceram também da propriedade que tem a CPMF de “pegar” os sonegadores. Praticamente não há como fugir: Movimentou o dinheiro, lá está ela! Não discordo, e nem poderia, do fato de que a carga tributária é elevadíssima no nosso país, nem da necessidade de ser fazer uma reforma neste quesito. Só não dá pra aturar a capa da Veja desta semana, a do leãozinho com um chapéu de Papai Noel festejando os 40 bilhões de presente de Natal para os brasileiros! Que brasileiros? O leão piscou para os sonegadores: Estes, sim, estão fazendo a festa. E como os grandes sonegadores, os grandes de verdade, devem ser anunciantes da Veja, ela também faz a festa. Deve ter gostado do presente.

Poupe-me!


Mas pra uma coisa a Veja é boa: Pra me fazer rir.

Tem alguma coisa errada

Sou a favor da Transposição do Rio São Francisco. Sempre fui, desde o início. Li esta semana um defesa veemente do projeto na "Veja". Eu e "Veja" concordamos, enfim, com alguma coisa.

Mas... Espera aí! A "Veja"... Deve ter alguma coisa errada aí! Ah, se tem!

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Mensagem Anônima

Hoje recebi uma mensagem no celular, anônima, com o texto abaixo. Claro, sei que é um trecho de uma música de Los Hermanos, como não saberia! Só não entendi:

O vento vai dizer
lento o que virá,
e se chover demais,
a gente vai saber,
claro de um trovão,
se alguém depois
sorrir em paz.
Só de encontrar...

O Vento (Los Hermanos)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Terapia

Sem ter o que dizer
Sem ter o que escrever
Mas, ainda assim, passei só pra dizer:
Este lugar é minha terapia.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Poema de uma face

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Cleonardo! ser chato e "do contra" na vida.

"Poema de sete faces", de Drummond, adaptado para a minha realidade.

domingo, 9 de dezembro de 2007

O que eu quero

Eu quero é amar, apesar do amor não mais aparecer pra mim pintado de ilusões, e os defeitos de quem amamos insistirem em nos ensinar a lição de amar “apesar de”.

Eu quero é amar “apesar de”.

Eu quero é fazer amigos ainda que muitos deles tenham ficado no passado, alguns deles terem me decepcionado e vários deles não possam mais assim ser chamados.

Eu quero é fazer mais amigos.

Eu quero é acordar com esperança e com os sonhos intactos, ainda que a noite anterior tenha sido de pesadelos. E esperar pelo amanhã, aguardando que a sua luz possa iluminar as trevas da noite, sempre ansiando que a tristeza da alta madrugada seja substituída pela alegria do amanhecer.

Eu quero é andar com Deus, ainda que uma pseudo-intelectualidade-atéia chame de alienado alguém que busque Aquele que É maior que todos nós.

Eu quero é descrer da igreja (institucional), maior responsável pelo descrédito dos que crêem.

Eu quero é crer na igreja (transcendental), formada pelos que crêem, mas têm dúvidas e fraquezas, sabem que as têm (não fingem), sabem que os outros também as têm (não são hipócritas) e não tem medo de dizer que as têm (não temem serem descobertos como fracos). É a igreja formada pelos que conhecem o significado da palavra “Graça”.

Eu quero é fugir dos fundamentalistas sejam eles evangélicos, católicos, ateus ou o que quer que sejam, e atravessar a rua pro outro lado, pra bem longe, assim que perceber o menor risco de cruzar com um deles.

Eu quero é continuar nadando contra a maré, contestando o sistema e os seus valores tão arraigados em nossa sociedade a ponto de todos acharem que “foi sempre assim”, “não vai mudar”; e ser chamado de chato quando criticar aquilo que todos acham “normal”, porque a Globo disse que era normal.

Eu quero é criticar

Eu quero é ser chato

Eu quero é que a Globo se exploda! E a Veja (Não veja!) também!

Eu quero é continuar mostrando que os problemas do “eu” têm tudo a ver com os problemas do mundo.

Eu quero é falar de justiça até que ela corra como um rio que não seca.

Eu quero é justiça. Viver num país onde não se ache normal alguém ter um rolex enquanto outros não podem nem comer três vezes ao dia. E que todos saibam que uma coisa (a concentração de renda) tem tudo a ver com a outra (a profunda desigualdade).

Eu quero é explodir de raiva sempre que preciso, sem jamais perder a ternura.

Eu quero é ler poesia. Degustar a literatura. Sentar numa mesa de bar com Drummond e Vinicius, falar da vida com Clarice, alfinetar os hipócritas com Machado.

Eu quero é não ter vergonha de chorar com os filmes, as músicas e os livros que tocam o meu coração.

Eu quero é dançar, mesmo sem música ou mesmo que o único lugar que eu tenha para fazer isso seja sozinho no meu quarto.

Eu quero é viver muito, ter filhos, plantar uma árvore, escrever um livro e quando estiver bem velhinho dizer que tudo valeu a pena.
Eu quero é fazer valer a pena.

Eu quero é me preocupar com o que realmente importa.

Eu quero é que você, ao acabar de ler isso tudo, comece a pensar no que você quer, no que você ama, com o que você se preocupa e se você está fazendo valer a pena.

E você? O que você quer?

sábado, 8 de dezembro de 2007

Eis o texto

Esta é a citação de Clarice que originou o texto anterior:

"É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo!"
Clarice Lispector

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Aquela que desvenda as almas

Como sempre Clarice tem a capacidade de dizer o que a gente quer, mas não consegue. Ela devia ser algum ser transcendental, um extraterrestre, quem sabe um anjo? Imaginar que ela viveu no Recife, cruzou as pontes nas quais tanto andamos, e que usou , para se inspirar - mesmo criança - as mesmas paisagens que usamos, dá uma coisa. Clarice mexe na minha alma como mexe na alma de qualquer um que dela se aproximar: Seu olhar é penetrante e suas palavras desconcertam. Eu não sei o que há nela, nem o que há em mim quando, lendo os seus escritos, falo com ela. Clarice constrange, incomoda, mais que isso, assusta. Assusta porque ela adivinha os pensamentos. Quem pode não temer alguém que lê os pensamentos? Cuidado! Cuidado com Clarice, meu amor! Ela pode transformar-nos naquilo que já somos e não sabemos, melhor, sabemos, mas temos vergonha de falar...
E como isso é verdade: não posso falar quem eu sou. Eu sei quem sou, sim, ninguém mais do que eu sabe... Mas não posso dizê-lo. Não, não posso, pois o fazendo permito aos interlocutores terem a posse de minha essência e de posse dela o que esperar deles? Verbalizar a minha essência é, ao mesmo tempo, transformá-la, não mais conhecê-la, perder a capacidade de dominá-la. E isso assusta! Como assusta. Clarice me assusta, me impressiona. Deveria ser proibido, sim, deveria ser instituído, internacionalmente, pecado passível de esconjuração, passar por essa vida sem ler Clarice, aquela que desvenda as almas!
...E Parabéns! Por deixar Clarice falar por você. De experiência própria posso dizer que ela fará isso melhor que você mesma.
BjuS
Scrap enviado para Juli assim que vi no "quem sou eu" do seu Orkut uma frase de Clarice Lispector

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Virou vício

Escrever virou um vício. Mas é um vício doloroso. Porque escrever é doloroso. Escrever é sofrer em cada palavra, é parir cada frase, cada linha, chegar à quase exaustão após cada parágrafo. Já me angustio no minuto seguinte à concepção da idéia sobre a qual vou escrever o próximo texto: Prenúncio de uma labuta incansável, um queimar de pestanas que envereda pela madrugada. Escrever é ruminar idéias, regurgitar pensamentos e engoli-los novamente, para, num refluxo, deparar-se com eles de novo. E depois que os pensamentos tomam a forma de tinta, ou melhor, de bits, são como filhos adolescentes: nem bem deixaram as fraldas já querem ser independentes, ganham o mundo e se esquecem da gente. Mal agradecem por terem nascido, ainda assim, continuamos a amá-los e, deles, termos orgulho. Este mesmo veio sem nenhum planejamento familiar. Foi só pra matar o vício, e dormir mais tranqüilo, sem crise de abstinência.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Até a última gota...

Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor. Que tem que ser vivido até a última gota. Sem nenhum medo. Não mata.

Clarice Lispector

Faltando um pedaço

O amor é um grande laço, um passo pr'uma armadilha
Um lobo correndo em círculos pra alimentar a matilha
Comparo sua chegada com a fuga de uma ilha:
Tanto engorda quanto mata feito desgosto de filha

O amor é como um raio galopando em desafio
Abre fendas cobre vales, revolta as águas dos rios
Quem tentar seguir seu rastro se perderá no caminho
Na pureza de um limão ou na solidão do espinho

O amor e a agonia cerraram fogo no espaço
Brigando horas a fio, o cio vence o cansaço
E o coração de quem ama fica faltando um pedaço
Que nem a lua minguando, que nem o meu nos seus braços
Djavan

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Sede

O amor é sede depois de se ter bem bebido

Guimarães Rosa

Nos telhados da vida

Por esses dias lembrei que, quando criança, o lugar onde mais brincava era uma escola. Minha vó tinha um colégio, bem pertinho de minha casa, onde minha mãe era secretária. Sendo assim vivia por lá e o meu passatempo mais corriqueiro era brincar nas salas de aula com o giz e os quadros: Já se plantava dentro de mim uma vocação, da qual tentei, numa época, fugir, mas pra qual voltei, ainda a tempo. Lembrei, mais, que minha aventura principal era subir no telhado dessa escola. O telhado era grande e podia-se chegar até o de um vizinho, sobre sua garagem, e se aproximar do quintal de outro, onde havia árvores frondosas habitados por macacos sagüis. Aquilo tinha um sentido de liberdade enorme pra mim, ao fazer algo que não faria em casa sob a supervisão dos meus pais (Aliás, a casa de minha vó era o local onde fazia estas coisas como assar o queijo coalho espetado num garfo à beira do fogão, sair de casa sem ter que dizer pra onde e jogar bola no campinho da frente sem ter hora pra voltar). No telhado eu sonhava acordado, a adrenalina da aventura me fazia sentir um desbravador de territórios inalcançados e inimagináveis: Era o meu “Fantástico mundo de Bobby”, minha “Nárnia”. Lá no telhado, eu, mesmo criança, pensava na vida. Sentia-me capaz, cheio de vida pela frente e cheio de projetos a serem realizados. Lá eu era muito mais. Podia tudo, enfrentava tudo, não temia nada. No telhado eu era herói e salvava a mocinha. Eu não tinha receio da vida e das suas intempéries. No telhado as pessoas não me machucavam, nem eu a elas. Lá, no telhado, o amanhã não batia à porta com a incerteza debaixo do braço, porque no telhado eu era amigo das certezas. No telhado não havia a dor e a decepção, porque lá os problemas se resolviam e eu não fugia deles, aliás, eles eram muito pequenos, pois lá de cima eu enxergava o mundo, e os problemas, de igual pra igual. No telhado eu me preocupava com ser e não com ter, em amar e não em ser amado, em sorrir, e não em discutir, em brincar, e não em me preocupar. Preocupar? Não havia este verbete no telhado. Lá só havia um céu mais azul, um sentimento de colher o dia e viajar no tempo seguro nas asas da contemplação do belo, do simples, do que realmente importa. Estou distante do telhado há muito tempo. Deve ser por isso que quase perdi os sonhos que lá sonhava, e a realidade pintou-se de dureza e crueldade, parecendo ser um monstro maior do que realmente o é. Estou precisando do telhado urgentemente pra renovar meu estoque de esperança e pra entender que a vida, daqui de baixo também nos sorri e acolhe, nos abraça e nos envolve através dos braços dos que nos têm como preciosidade incomercializável, insubstituível, imexível, imutável. Se, então, você passar e me ver em cima do telhado, por favor, não me peça pra descer nem me ache um insensato: É que de lá eu vejo a vida passar com mais graça, e o lamento vira festa, e o pranto vira canto, e o choro, encanto. Lá de cima, no telhado...

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Pensar em quem se ama

"Mas, pensar na pessoa que se ama, é como querer ficar à beira d'água esperando que o riacho, alguma hora, pousoso esbarre de correr."
Guimarães Rosa

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Na próxima esquina

Hoje minha alma é angústia
e dúvida
e medo
e dor
e incerteza
É um não sei como nem por que
É um “sei lá, entende”
E é desilusão
e busca
e pranto
e vontade de sumir
e de viver minha vida novamente
É... Hoje eu acordei com vontade de voltar no tempo!
Mas as horas são nossas inimigas, cada minuto é passado, e tudo o que eu faço
tudo o que eu penso
tudo o que eu digo
volta-se contra mim com uma imparcialidade fria e pragmática
Agora só quero dormir e esquecer
Amanhã, quem sabe, um broto de esperança possa tentar me convencer
de que a vida não nos espreita na próxima esquina, de tocaia pra ver se agente num tá sorrindo demais, e corre pra preparar um armadilha daquelas que não há como não cair
E agente cai
e chora
e levanta
e sorri de novo
e a vida corre para a próxima esquina...

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Se for...

Se for pra sorrir, que seja com Chico Buarque
Se for pra chorar, que seja com Cartola
Se for pra se impressionar, que seja com Clarice Lispector
Se for pra se encantar, que seja com Marisa Monte
Se for pra beber, que seja com Vinicius de Moraes
Se for pra instigar, que seja com Nação
Se for pra farrear, que seja com a Academia da Berlinda
Se for pra ficar em casa, que seja com Quintana
Se for pra viajar, que seja com os Hermanos
Se for pra acordar, que seja com Maria Bethânia
Se for pra voar, que seja com Drummond
Se for pra se revoltar, que seja com Marx
Se for pra lutar, que seja com Florestan
Se for ter esperança, que seja com Paulo Freire
Se for pra gostar mais da vida, que seja com Rubem Alves
Se for pra sonhar, que seja com Luther King
Se for pra rir de um idiota, que seja de Diogo Mainardi
Se for pra falar: “Você não me engana!”, que seja pra Arnaldo Jabor
Se for pra perder a paciência, que seja com Faustão
Se for pra bradar: “Você, sim, é um fanfarrão!”, que seja com o Capitão Nascimento
Se for pra dizer: “Tenha vergonha mesmo é da desigualdade”, que seja a Luciano Huck
Se for pra gritar: “Pega ladrão!”, que seja no Congresso
Se for pra fazer de novo, que seja o Tzedaka
Se for pra estudar pra sempre, que seja Sociologia
Se for pra sentir saudades, que seja de Ana Júlia
Se for pra se orgulhar, que seja dos meus pais
Se for pra brigar e reconciliar, que seja com Diogo
Se for pra parecer comigo, que seja Emanuel
Se for pra sair e conversar, que seja com Wellington
Se for pra falar sério, que seja com Sávio
Se for pra dar gargalhadas, que seja com Nemésio
Se for pra ser amigo de mulher, que seja de Delane, Ana Teresa e Mônica
Se for para o tempo parar, que seja com Juli
Se for pra amar, que seja a Deus
Se for pra viver, que seja intensamente
Se for pra morrer, que seja feliz!!!

Vai gostar de escrever assim...


“Cheguei mesmo à conclusão de que escrever é a coisa que mais desejo no mundo, mesmo mais que amor.”

Clarice Lispector

Minha reconciliação com Quintana

Tinha brigado com Quintana. Foi quando li um de seus livros, o qual me incomodou demais: Ficava com insônia. O motivo da reconciliação vem logo abaixo:

Poeminha Sentimental

O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.


Mário Quintana

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Utopia Real

Você já imaginou Petrúcio Amorim cantando numa igreja evangélica? E as pessoas formando pares pra dançar? Só no “boi com sede bebe lama, barriga seca não dá sono...”?
E nesta mesma igreja um grupo de dança, formado por crianças, apresentar uma coreografia dançando frevo?
E o grupo de adolescentes desta mesma igreja coreografando “se os meus joelhos não doessem mais...”?
E trovadores declamando suas poesias?
Repentistas dedilhando suas violas?
Raper´s fazendo sua arte?
Mestre Salu mandando ver na sua rabeca encantada?
Presenciar a reconciliação do evangelho com a cultura popular, sem a divisão maniqueísta criada pelos religiosos (argh!) entre o que é santo e o que é profano?
Eu achava que só veria isto acontecendo quando moresse: Quando chegasse ao céu e visse os anjos tocando alfaia, outros numa roda de samba, outros, ainda, frevando para a eternidade. Não agüento mais (não agüento mesmo!) a hipocrisia nojenta dos fariseus de plantão dizendo o que vem de Deus e o que não vem. Isso me dá asco!
E mais...
Ver pastores e padres juntos (isso mesmo!) discutindo temas como: Trabalho escravo, prostituição infantil, entre outras coisas, para lembrarmos que a igreja tem a missão não só de transformar a alma do homem, a sua dimensão espiritual, mas transformar também as dimensões bio-psico-sociais deste mesmo homem (o homem todo, em todo seu contexto), anunciando a justiça e denunciando a injustiça?
Você nunca viu nada disso que falei?
Pois eu vi. Eu estava lá. Ninguém me contou.
Quer ver também?
Vá à Primeira Igreja Batista em Bultrins: Um pedaço do céu na terra!

Escrito por ocasião do VI Fórum Popular de Reflexão Teológica realizado pela igreja citada no texto.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Tentativas

Queria escrever algo que ficasse gravado no teu coração
Queria coisificar sentimentos e permitir que, pelo tato, você sentisse o que só pode ser percebido nas letras de uma canção, de um poema,ou na amplitude de um olhar.
Queria reificar meu sorriso, brotando só de saber que vou te ver, nestas palavras. Transpor para as letras a ebulição na minha visão, a perturbação que há no meu tato, a confusão causada em meu olfato, quando vejo teu cheiro, sinto teus olhos e cheiro tua boca como um boticário que degusta um tesouro de olhos vendados.
Não consigo colocar isso no papel. As letras param de me obedecer assim que prenunciam minha tentativa de sobre este assunto escrever. Elas fogem, brincam comigo rindo da minha angústia de não conseguir me expressar à altura. Quem sabe se tentasse criar uma equação!? Os números não falam, mas podem representar alguma coisa: ainda que seja uma tentativa, já aviso frustrada, de quantificar toda esta sinestesia.
Quem sabe se tentasse falar.Porém, acho que pareceria mais com um ogro do que com um poeta. Não, não... Fica com estas letras mesmo por enquanto. Tenta perceber nas suas entrelinhas aquilo que tento falar, com todos os meus sentidos, quando estamos juntos.
Quando não estou mais só.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

É Proibido Pensar

Eu queria ter escrito esta música sobre a "mesmice-medíocre-interesseira-neo-pentescostal" das igrejas evangélicas brasileiras. Mas foi João Alexandre (um remanescente da boa música evangélica) quem a fez:

Procuro alguém pra resolver meu problema
Pois não consigo me encaixar nesse esquema
São sempre variações do mesmo tema: meras repetições!

A extravagância vem de todos os lados e faz chover profetas apaixonados
Morrendo em pé, rompendo a fé dos cansados que ouvem suas canções

Estar de bem com a vida é muito mais que renascer
Deus já me deu sua Palavra e é por ela que ainda guio o meu viver!

Reconstruindo o que Jesus derrubou, recosturando o véu que a cruz já rasgou
Ressuscitando a lei, pisando na graça, negociando com Deus!

No show da fé milagre é tão natural
Que até pregar com a mesma voz é normal
Nesse evangeliquês universal
Se apossando dos céus

Estão distante do trono,
caçadores de Deus ao som de um shofar
E mais um ídolo importado dita as regras para nos escravizar:
É proibido pensar!

Sobre leões e cordeiros


“Leões e Cordeiros”, novo filme de Robert Redford, com Tom Cruise e Meryl Streep, além do próprio Redford, no elenco fala sobre crianças que entram escondidas (pela porta de saída) numa sala de cinema, e de como elas são expulsas truculentamente por alguns dos que assistiam ao filme.
Mas... Um filme inteiro sobre isso?
Calma! O filme trata da Guerra no Iraque. De como o governo americano vendeu à população uma mentira, pintando uma batalha de interesses escusos (capitalistas e eleitoreiros), de um patriotismo e até (ou seria principalmente?) de uma religiosidade fundamentalista propagadora de uma pretensa autoridade dada, por Deus, aos EUA para vencer a guerra contra o terror. Mais... O filme retrata a relação promíscua entre governo e mídia e o poder de manipulação desta sobre a população (Este, pra mim, é realmente o principal tema do filme). Foi a mídia americana que, como um alquimista, transformou podridão em ouro e conseguiu conduzir o patriotismo americano numa aprovação à guerra, vendendo a inverdade da presença de armas nucleares em território iraquiano. Muitos, os inocentes, jovens soldados, morrem acreditando numa guerra legítima sem se perceberem como peças de um conflito que só serve para girar a roda da indústria da guerra e da máquina de eleição americana: Lucram os leões, morrem os cordeiros. Por aqui, o poder alienante da mídia funciona com tanta eficiência e eficácia quanto do lado de lá. A superioridade de classe está tão impregnada na mente de nossa sociedade que é muito difícil, quase impossível, des-naturalizar esta situação. Na cabeça do brasileiro está entalhada uma superioridade do rico sobre o pobre, do branco sobre o negro, do homem sobre a mulher. A burguesia somente se manifesta contra as mazelas que assolam nosso país quando suas fortalezas em forma de condomínios fechados são transpostas, seus relógios rolex são roubados, seus direitos de consumidor de futilidades são transgredidos ou suas salas de cinema são invadidas: Enquanto assistíamos ao filme, algumas crianças, por pura brincadeira e aventura, entraram na sala e passaram a brincar lá dentro. Um dos que assistiam, sob os gritos de “isso mesmo!”, “leva ele!”, após os garotos terem feito isto uma segunda vez, arrastou pelo braço uma das crianças até o lado de fora, enquanto as outras foram expulsas aos gritos. Lembro-me de alguém ter chamado a maiorzinha de irresponsável (uma criança!). Isto teria sido feito se as crianças não estivessem, nitidamente, trajando roupas que os denunciavam como membros da classe baixa de nossa sociedade, provavelmente oriundas das favelas que circundam o shopping onde estão as salas? A mesma violência (sim, violência!) teria sido utilizada se as crianças não fossem negras? De quem é a culpa? Das crianças, ou dos administradores da sala que não deixaram a porta de saída trancada? A atitude violenta contra as crianças, baseada no direito à propriedade (afinal, foram pagos R$ 16,00 para se ter acesso àquela sala) e na superioridade racial e de classe, é injustificável.
Refletir além do que é propagado pela indústria da comunicação é imprescindível para entendermos os papéis vividos em nossa sociedade. Percebermos quando as notícias são utilizadas como meio de expressão dos interesses de uma classe é indispensável para respondermos corretamente as perguntas:
Quem são os leões?
Quem são os cordeiros?
A injustiça assola o país onde encontramos um dos maiores abismos entre ricos e pobres no mundo. Enquanto isso, os aparelhos ideológicos a serviço da legitimação da injustiça cumprem o seu papel de ratificar, quase que subliminarmente, atitudes “faca na caveira” contra os desprovidos do mundo. Eu saí da sala de cinema com a minha imaginação sociológica aguçada, meu clamor por justiça renovado, minha indignação contra a injustiça reforçada, com a minha batalha contra a manipulação da mídia re-travada, e uma oração na cabeça:
Dá atenção à tua aliança, porque de antros de violência se enchem os lugares sombrios do país. Não deixe que o oprimido se retire humilhado! Faze que o pobre e o necessitado louvem o teu nome. Salmos 74: 20,21


Cleonardo

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Wellington disse...

Essa história de samba tá dando o que falar. Transponho um dos comentários do meu texto "O feitiço do samba". Wellington (meu grande amigo-irmão) encarnou tão bem o espírito do samba que esse comentário tinha que virar postagem.

Lá vai...

Também gosto de samba ...sou um bom sujeito!
Cinco sambas marcaram a minha vida:"As rosas não falam" de Cartola ...Minha avó paterna, a quem eu amava muito, se chamava Rosa. No seu velório, encomendei uma corbelha onde estava escrito "... simplesmente, as rosas exalam o perfume que roubam de ti ...
"Saygon" De quem é mesmo esta jóia da MPB? Ouvia quase todos os dias na voz de Beth Carvalho no meu apartamento... meu primeiro apartamento que comprei e fui morar logo depois que casei. Saygon , a cidade, graças a este samba, foi transformada em um estado de espírito.
"Ah, Ah, Papai!" de minha autoria. Música, digo, samba de ninar que eu fiz para o meu filho e cantava para ele ainda na barriga da mãe. Quando ele nasceu e acordava de madrugada eu cantava o sambinha baixinho colocando o ouvido dele na minha bochecha pra dar um som acústico .... rsrsrsr. Ele calava e dormia.
"Nosso desejo", outro samba de minha autoria ... Engraçado, todas as vezes que compus na vida (exatamente duas vezes), compus sambas. Vc lembra como começa? "As portas da congregação ....
E finalmente, "Meu Guri". Este é o samba! Todas as vezes que eu o canto ou o ouço ou o leio, eu choro , ao menos no coração. Nada dói mais que a dor do pai do Guri. Citando um outro sambão ... eu diria que "a saudade dele está doendo em mim...".
Obrigado por lembrar de enaltecer o nosso samba. Aliás, tem uma música evangélica, que a minha ignorância e descuido me fez esquecer o autor que diz "Na América do Norte, os norte-americanos, usam o seu negro spiritual para louvar. Em Angola, os nativos irmãos de lá, usam seus atabaques para adorar. Por que será que aqui no Brasil, nós não podemos louvar com a nossa cultura? Se Deus criou todas as coisas. Criou a música e é pra gente louvar. Nas minhas veias, corre sangue brasileiro, .... Se eu nasci num país verde e amarelo, azul-anil, quero louvar a Deus com o samba do Brasil! Louvai a Deus ao som da cuíca. Louvai-o com o reco-reco, com agogô, com o surdo e pandeiro, LOUVAI A DEUS COM O SAMBA BRASILEIRO!!!!!!

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Boca de forno

- Boca de forno
- Forno!!!
- Tirando bolo
- Bolo!!!
- Jacarandá
- Dá!!!
- Se eu mandar
- Vou!!!
- Se não for?
- Apanha!!!
- Seu Rei mandou dizer...

Essa brincadeira de criança é coisa muito séria. Não é isso que tentam fazer conosco o tempo inteiro? Sejam as religiões (protestante ou católica), sejam os meios de comunicação de massa (Época, Veja, Globo e afins...). Ninguém merece conversar com um fundamentalista, entupido de dogmas, tanto quanto ninguém merece conversar com alguém que tem as suas opiniões baseadas, apenas, no triunvirato da alienação Globo/Época/Veja. Precisamos gritar: “Pense, por favor, pense!” Mas o grito que vem de lá é muito forte, quase ensurdecedor: Boca de forno!!!...

Sobre pássaros e gaiolas


...Deus criou os pássaros.
As religiões criaram as gaiolas. As gaiolas criadas pelas religiões são feitas com palavras. Elas têm o nome de dogmas. Dogmas são gaiolas de palavras que pretendem prender o Pássaro...
...Escrevi, para minha filha pequena, uma estória sobre um Pássaro Encantado e uma Menina. Pássaro e Menina se amavam. Mas sempre chegava o momento que o pássaro dizia: “Preciso ir”. A Menina chorava e dizia: “Não vá. Nós nos amamos tanto!” O Pássaro respondia: “Eu preciso ir para ter saudades. Porque o meu encanto nasce da saudade!” E partia. A Menina, então, teve uma idéia perversa: engaiolar o Pássaro para que ele nunca mais partisse. E assim ela fez. Quando o Pássaro voltou, cheio de penas de novas cores, enquanto ele dormiu, ela o engaiolou numa linda gaiola de prata. Ao acordar o Pássaro deu um grito de dor. “Menina, vou perder meu encanto. Vamos perder o amor!” E assim aconteceu. Foram-se as cores. Foram-se as estórias que ele contava. Foi-se o amor.
Escrevi esta estória porque eu ia partir para uma longa viagem e minha filha de quatro anos estava muito triste. Depois de publicada fiquei sabendo que meus colegas terapeutas a estavam usando para lidar com as relações amorosas, maridos engaiolando esposas, esposas engaiolando maridos, maridos querendo voar, esposas querendo voar... Aprovei. Aí um amigo me disse: “Que linda estória você escreveu sobre Deus!” Perguntei: “Que estória?” Ele me respondeu: “A da Menina e o Pássaro encantado. Pois o Pássaro encantado não é Deus que as religiões tentam engaiolar?”
Um Deus engaiolado nas gaiolas de palavras chamadas dogmas é sempre menor que a gaiola. Esse Deus não é pássaro que voa, é pássaro empalhado.
Deus mora na saudade.
Deus mora na nostalgia.
...Deus não nos deu asas. Deu-nos o pensamento. Voamos nas asas do pensamento... O pensamento são as asas que Deus nos deu.
Assim, tudo aquilo que proíbe o vôo livre do pensamento é contrário ao nosso destino. A questão não é pensar certo ou pensar errado. Afinal, quem sabe o que é certo e o que é errado? A questão é simplesmente pensar. Sem pensamento livre a alma está engaiolada.
...A fato é que a história do Cristianismo está cheia de gaiolas. Quantos foram mortos pelo crime de pensar diferente! Desse crime tanto católicos quanto protestantes são culpados. Os mortos foram aqueles que ousaram pensar os seus próprios pensamentos. Os mortos foram aqueles que ousaram pensar os seus próprios pensamentos. Pássaros solitários, como os sabiás. Eu prefiro o canto solitário dos sabiás ao canto gregário das maritacas, todas repetindo a mesma coisa...


Rubem Alves

O silêncio que precede a partida

É nesse momento, no silêncio que precede a partida, às vezes de alguns minutos, ou até segundos apenas, quando a consciência da partida toma corpo, onde a dor dói mais forte. É quando a cruel saudade encontra a casa ornamentada para fazer morada. Então, só há como sorrir quando lembro do teu sorriso. Só há como vencer o silêncio quando lembro do barulho que você faz (E que barulho!). “Quem te vê passar assim por mim não sabe o que é sofrer”, porque você passou, mas voltou logo. E agora, nesta casa, ficou um silêncio impreenchível que parece ser maior que o silêncio que precede a partida... O silêncio da ausência...
Escrito após Ana Júlia (minha sobrinha) viajar de volta a Belo Horizonte

terça-feira, 30 de outubro de 2007

E Jack Bauer Chorou...

Liderei, na igreja que fiz parte, durante o ano de 2006, um grupo que trabalhava com projetos sociais (Bons tempos!!!). Marquei uma reunião com o grupo, em janeiro deste ano, para discutirmos o que faríamos no ano que chegava. Ninguém foi. Escrevi este texto especialmente para aquela reunião e, como não tivemos oportunidade, desde aquele dia, de nos encontrarmos, todos, novamente, nenhum deles leu o texto ainda. Quem sabe agora...
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
E Jack Bauer Chorou...
kkkkkkkkkkkkkkkk
Não consigo dormir sem assistir Jack Bauer (É assim que eu chamo o seriado “24 horas”). A mesma coisa acontecia com outro seriado: “Lost”. Fiquei viciado nestes programas, rapaz!
Comecei a refletir e comparar as atitudes dos heróis dos dois seriados. Jack Bauer, a meu ver, nunca hesita. Defende seu país (Os Estados Destrutivos da América) sem nunca medir as conseqüências, e, mesmo quando desobedece aos seus superiores quebrando rígidas hierarquias, Bauer, com seus tiros infalíveis, golpes certeiros, sempre a tomar inequivocamente decisões corretas sob a mais insuportável pressão (menos para ele!), arrebata a admiração de todos os seus companheiros e dos espectadores, estes sempre ávidos por encontrar alguém para admirar nesta terra onde os exemplos nativos são escondidos e a mente globalizada idolatra o importado. Mas, não é estranho? Jack Bauer nunca erra. Será que não tem dúvidas, nem medo? Nunca volta atrás? Não perde? Não falha, nem fracassa? Assistir um episódio deste seriado é como ouvir uma mensagem dos teólogos da prosperidade, com a diferença de que Bauer, pelo menos, entretém.
Mas o outro Jack, o médico de Lost, tem o mesmo nome, no entanto possui atitudes bem diferentes. Erra, duvida, tem medo, resiste à liderança fugindo das responsabilidades inerentes a esta posição. Volta atrás, perde, fracassa, falha, hesita. É humano! Não é uma máquina de decisões corretas pronta para preencher, automaticamente, as expectativas dos que o procuram. Sua liderança é natural, inata e magnetizadora, apesar de sua recorrente instabilidade e teimosia. Ele se sente como me sinto quando vem um grande desafio pela frente: Sua, pede ajuda, suplica a Deus pra tudo dar certo, faz o melhor possível para acertar, e, na maioria das vezes, acerta. E quando falha, levanta, dá as mãos a quem tem força pra ajudar e segue o caminho.
Tentaram, e ainda tentam, nos fazer como Jack Bauer. Não podemos falhar, errar. Pedir perdão é para os debilitados e chorar, para os fracos. O verbo perder nunca se conjuga. Os “mais que vencedores” não entendem que vencer é suportar com as forças dEle, a fonte de todas as forças, o ribombar das ondas e no meio do balanço do mar, sorrir. Descobri que a palavra sinceridade vem do costume dos escultores de aplicar cera em suas obras no intuito de esconderem as falhas. Sincero, sem cera. Muitos, quase todos, vivem numa eterna encenação sem um pingo de sinceridade. Usam muita cera. Vivem dentro de uma armadura escondendo a fragilidade que insiste em escapar pelas brechas da roupa de guerra tornando-se, recorrentemente, perceptível. A humanidade brota de nossos poros e corre como um rio em nossas veias e ainda que você finja, fazendo, pra isso, uma força descomunal, mais dia menos dia, esse rio vai desembocar no mar da realidade e a lágrima vai brotar da terra seca. Até Jack Bauer chorou, amigos! Com seu amigo morto nos braços. O Deus humano chorou ao ver o que a mesma morte fez com o seu também amigo. E você, qual Jack quer ser? Vai segurar as lágrimas sempre, até não dar mais para disfarçar ou vai se juntar ao time dos amigos de Lázaro, que não apreciam a cera e se apegam ao Grande Artífice de personalidades para terem os seus caráteres moldados de acordo como que é belo? Eu choro, Ele chorou, eu tenho medo, Ele pediu pra afastar o cálice, eu me irrito, Ele chutou as bancas dos vendilhões, eu sofro, Ele levou meu sofrimento, sinto-me sozinho, Ele foi abandonado pelos seus. Ele ressuscitou, e levou minha vida, meu coração e meu tudo junto com ele.
Até Jesus chorou, amigos! Sejamos nós quem realmente somos e só de estar na companhia do Escultor de sentimentos seremos como devemos ser.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Eu te amo, porra!

Sempre fico angustiado quando escuto “Sinal Fechado” de Paulinho da Viola, interpretada (magistralmente!) por Chico e Bethânia. A música é uma dramatização de um encontro acidental entre um homem e uma mulher que não se viam há muito tempo, no trânsito, num sinal fechado, cada um no seu carro. Imagino os dois se entreolhando (É ele? É ela?). Abaixam o vidro e ele começa falando:

– Olá! Como vai?
– Eu vou indo. E você, tudo bem?
– Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... E você?
– Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranqüilo...Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é, quanto tempo!


A minha angústia vem do fato de imaginar que eles, provavelmente, devem ter vivido um grande amor, daquele amor tipo subcutâneo, e, com tanta coisa pra dizer, restam apenas alguns segundos para superar a surpresa do encontro, o coração palpitando, as mil e uma lembranças que vêm na mente, e dizer alguma coisa que fique, que marque. Não sei o que os separou, só sei que ele ainda ambiciona um futuro, e ela só quer um amanhã de descanso (O que será que aconteceu?). Há nas entrelinhas um desejo enorme, uma saudade avassaladora permeando cada palavra, porém eles continuam escravos do trânsito, do sinal, das formalidades:

– Me perdoe a pressa - é a alma dos nossos negócios!
– Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!

Ao ver aquela oportunidade única indo embora (Então eu lembro de quantas já perdi!), ele tenta algo como se dissese: Eu preciso falar alguma coisa, pelo amor de Deus!!!. E, ainda sem graça, diz:

– Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
– Pra semana, prometo, talvez nos vejamos...Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é...quanto tempo!

O sinal vai abrir. Eles não conseguem raciocinar direito:

– Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das ruas...
- Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!


Ele sumiu na poeira das ruas. Não se sabe mais quem é a poeira, quem é ele, quem é a rua. Ela sabe que tem o que dizer, mas não lembra, diz que não lembra, ou prefere não lembrar. Assim, chega o desespero:

– Por favor, telefone
- Eu preciso beber alguma coisa, rapidamente...
– Pra semana...
– O sinal...
– Eu procuro você...
– Vai abrir, vai abrir...
– Eu prometo, não esqueço, não esqueço...
– Por favor, não esqueça, não esqueça...
– Adeus!
– Adeus!
– Adeus!

E fica entalada na minha garganta (como quando agente tá morrendo de vontade de chorar e prende o choro, semelhante à uma erupção sendo contida) a vontade de superar a barreira do bom senso, descer daquele carro, abrir a porta dela, jogar o senso do ridículo às favas, sentir sua pulsação, a porcaria do sinal abrindo( E daí!!!???), todo mundo buzinando e eu dizendo: “Por favor, não esqueça, não esqueça” que EU TE AMO, PORRA!!!

Me deixa!


Deixa eu brincar de ser feliz. Deixa eu pintar o meu nariz

terça-feira, 23 de outubro de 2007

O feitiço do samba

Cartola, Vinícius e Toquinho, Maria Rita, Elza Soares, Chico Buarque.
Não paro de ouvir samba. Estou ouvindo mais samba que Los Hermanos ultimamente (E pra quem me conhece, isso realmente significa muito).
Ninguém é mais o mesmo após ouvir um samba de verdade.
Quando o cavaco chora, chora também o meu coração, mas é de alegria. Vem uma nostalgia, uma coisa boa de sentir. Não sei explicar.
Só sei que ninguém é mais o mesmo depois que ouve um samba de verdade.
Ninguém é mais o mesmo quando Cartola diz que “o mundo é um moinho”, quando Vinícius, enquanto Toquinho dedilha o violão, canta que “é melhor ser alegre que ser triste”, quando Chico exclama “quem te viu, quem te vê!”, quando Elza interpreta “a vida é bela, o sol uma estrada amarela...”. O que acontece com agente, meu Deus, assim que o samba bate à nossa porta?
Não sei.
Só sei que ninguém é mais o mesmo quando ouve um samba de verdade.

sábado, 20 de outubro de 2007

Mundanidade e Transcendentalidade

"Quando muito moço, muito jovem, eu fui aos mangues do Recife, aos córregos do Recife, aos morros do Recife, às zonas rurais de Pernambuco, trabalhar com os camponeses, com as camponesas, com os favelados. Eu confesso que fui até lá movido por uma certa lealdade ao Cristo de quem eu era mais ou menos camarada. Mas o que acontece é que, quando eu chego lá, a realidade dura do favelado, a realidade dura do camponês, a negação do seu ser como gente, a tendência àquela adaptação, aquele estado quase inerte diante da negação da liberdade, aquilo tudo me remeteu a Marx. Não foram os camponeses que disseram a mim: Paulo, tu já leste Marx? Não, de jeito nenhum. Eles não liam nem jornal. Foi a realidade deles que me remeteu a Marx. E eu fui à Marx. E aí é que os jornalistas europeus, em 70, não entenderam a minha afirmação: É que quanto mais eu li Marx, tanto mais eu encontrei uma certa fundamentação objetiva para continuar camarada de Cristo. Então, as leituras que eu fiz de Marx, de alongamentos de Marx, não me sugeriram jamais que eu deixasse de encontrar Cristo na esquina das próprias favelas. Eu fiquei com Marx na mundanidade, à procura de Cristo na transcendentalidade."
Paulo Freire

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Sonho de Criança

Sonhei que era criança de novo. Estava na sala de aula e a professora perguntava para os alunos: O que vocês querem ser quando crescer?
O primeiro (sempre há um afobado!), responde:
- Ah! Professora, eu quero ser médico.
Outra diz:
- Eu quero ser modelo professora!
Todos respondem menos eu. Então, a professora diz:
- E você, Cleonardo. O que você quer ser quando crescer?
Sem titubear, respondi:- Eu quero ser Florestan Fernandes, professora

http://pt.wikipedia.org/wiki/Florestan_Fernandes

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Tão perto

Enquanto faço novos amigos vou percebendo, dos antigos, quais realmente o eram. Já são amigos os novos? Os antigos são ainda? Às vezes grandes amigos estão tão perto de nós que nem percebemos. E desta vez estavam perto de verdade: Têm o mesmo sobrenome.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Ao lado do amor está sempre a justiça


Sejamos cristãos em todas as nossas ações. Mas quero dizer-lhes esta noite que para nós não basta falar de amor. O amor é um dos pilares da fé cristã, mas há uma outra face chamada justiça. E a justiça é de fato a ponderação do amor. Justiça é corrigir com amor aquilo que se rebela contra o amor.


Martin Luther King Jr

Como querem, como queres, como sou

Por favor. Não me queira do jeito que os outros querem que me queiras, mas como queres, mas como sou. E sou comida indigesta. Por que sou chato, sou confuso, sou incerto, sou “em construção”. Chegaste quando minhas pretensões de compromisso estavam fechadas para balanço. Mas já sou teu, não tem volta. Então me ama como os amantes se amam. Ama-me com tudo que o teu é, com que o meu é. E o meu é sério e moleque, é pensador e falador, é sensível e bruto, é altruísta e egoísta, é bomba de chocolate com pavio curto, é ciúme com liberdade, é creme de leite com leite condensado, é agridoce, é filme que não se entende o final, mas se gosta. Acho que sou o inóspito, o áspero, um vaso sem flor, um chão de ferro, como disse Drummond. Pros teus, devo ter cara de transgressor. Mas me ama assim mesmo. Não queiras mudar minhas cores. É nelas que está o encanto. E sem encanto não há amor. Só solidão e engano.
Cleonardo

sábado, 13 de outubro de 2007

É, Drummond! Bem que você me disse...

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Trecho de “Amar”
Carlos Drummond de Andrade

Com a alma

“... E você, que disse que vinha apenas, fazer uma pequena entrevista. Por pouco, não acabou levando a minha alma...”
De Gilberto Freyre para Lêda Rivas

Quase chorei. Não podia. Estava trabalhando. Mas as lágrimas insistiram. Li o trecho acima na orelha de um livro de Lêda Rivas (a criadora do caderno “Viver” do Diário de Pernambuco). Freyre, nosso sociólogo-antropólogo (e por que não poeta?), retrata, cheio de sensibilidade, como foi, para ele, a pequena entrevista realizada por esta repórter.
Só pude pensar: E eu? Será que já levei um pedaço da alma de alguém? O que será de nossas vidas se não pudermos compartilhar um pouco de nossas almas? Se não pudermos sentir o outro de tal maneira que sejamos um e, ao penetrarmos nos mais recônditos calabouços de sua sensibilidade, deixarmos gravado um pouco de nós em seu coração, o que será viver? Que pedaços de alma carrego? Eu só sei que não sou mais eu. Sou um pouco das almas que levei e pelas quais fui levado. Eu sou um híbrido daqueles que chegaram aqui, em minha alma, e ficaram. E quem é você? Ninguém, ainda uma tábula rasa, se você se escondeu por medo de ter um pouco de sua alma levada e não se entregou, não chorou, não se arrependeu, não se deu. Ah! Como eu quero muito mais destas entrevistas! Quero rasgar a minha alma e quero vê-la levada. Quero deixar um pouco dela noutras, e sorrir. Sorrir, dançar, brincar, chorar e voltar, com a alma cheia de histórias para contar. Eu quero amar. Quero ter novos amigos e quero reconquistar, a cada dia, os antigos. Eu quero viver, e contar os meus aniversários não com a idade física, mas com a idade da alma, como disse Clarice. Morrer velho na idade do corpo, jovem na idade de uma alma cada vez mais híbrida, que é um “eu”, cheia de um “tu”, que chega, senta, e não vai mais embora. Quero iluminar, como disse Maiakóvski, sempre (este é o meu lema, e o do sol!). Contar piadas para a tua alma triste e cansada, só pra vê-la sorrir este sorriso que só uma alma sabe dar. Chegar, apenas pra fazer uma pequena entrevista, e, de pouco em pouco, da tua alma levar um pedaço, e da minha, deixar um inextirpável abraço.
Cleonardo

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

A experiência maior

Eu tinha antes querido ser os outros, para conhecer o que não era eu. Entendi então que eu já tinha sido os outros e isso era fácil. Minha experiência maior seria ser o outro dos outros: e o outro dos outros era eu.
Clarice Lispector


P.S.: Deveria ser decretado pecado universal, passar por esta vida e não ler Clarice.

Quereres

Porque desejar profundo é querer tanto, que todos os outros "quereres" são esquecidos.

Cleonardo

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Pormenores de uma vitória

Hoje vi que tinha tanta, tanta coisa pra estudar e me desesperei. Comecei a reclamar que num dava tempo de estudar e trabalhar(na verdade, quase não dá, realmente). Aí me lembrei de que estou vivendo uma das coisas mais especiais que já aconteceram comigo: Ter começado a estudar Ciências Sociais, contrariando a opinião pública e me permitindo, após um período dificílimo de mudança de rota, fazer aquilo que realmente amo. Então, parei de reclamar. Na comemoração da minha aprovação no vestibular fiz uma feijoada e convidei os amigos: os mais especiais. E, para aqueles que não estavam (pois naquele momento ainda não estavam no rol dos mais especiais, ou estavam, mas não puderam ir), trago de volta um pouco daquele momento agora. Quando os convidados chegaram, este texto estava pregado na parede:

Pormenores de uma vitória: Pra minha mãe, pro meu pai e pra vocês

Que graça haveria no gol se não houvesse o abraço dos companheiros?
Não teria sido tão emocionante ver Senna vencendo sem o estourar da champagne com sua equipe de mecânicos.
Ver Cafu erguendo o troféu sem o “Regina, eu te amo!!!” não passaria nem perto de tamanha emoção.
O abraço quase violento de Giba em seus companheiros do vôlei representa a incontrolável erupção da glória dividida.
Ninguém vence sozinho, nem numa partida de xadrez (Sempre há alguém torcendo por você).
O melhor da vitória não é ter deixado outros para trás, ainda que estes outros sejam muitos,
Não é ver seu nome em evidência, mesmo que seja inegável o prazer de ser evidenciado.
É fazer os outros sorrirem, sorrirem de verdade!!!
Aquele sorriso que brota naturalmente do coração de quem ama, daqueles (E só os amigos têm este dom!) que conseguem sorrir o teu sorriso, encarnando em suas peles e sangue o sabor de tua vitória.
Vencer sozinho é sem graça. Não é vitória, é monólogo... E convenhamos... Monólogo não tem graça.
A graça da graça é transferir graciosamente de graça, partículas da graça que só veremos por completo quando estivermos diante dAquele que é Graça.
Vencer com vocês é como comer pão de queijo e depois delícia de abacaxi na sobremesa, tudo feito pelo meu pai (Eita! Não posso esquecer do bolo da minha mãe! Segundo ela, diz: — As visitas podem pensar que não faço nada).
É amar, é sorrir, é compartilhar. É transfusão de Ágape
É poder dizer sem arrodeios: Passei +!{~ï!!! Pra nossa alegria e pro sorriso de Deus (Essa parte fica incompreensível para os fundamentalistas, eu sei).
É poder receber abraços, trocar lágrimas, pular, dançar, comer e beber juntos até não haver mais forças para comemorar.
O melhor da vitória é poder dizer: Muitíssimo obrigado, Senhor!!!
... E um beijo: Pra minha mãe, pro meu pai e pra vocês!!!

domingo, 7 de outubro de 2007

Qualquer tempo

Qualquer tempo é tempo.
A hora mesma da morte
é hora de nascer.
Nenhum tempo é tempo
bastante para a ciência
de ver, rever.
Tempo, contratempo
anulam-se, mas o sonho
resta, de viver.

Carlos Drummond de Andrade
Em “A falta que ama”, 1968

Não Liga Não, Minha Pequena

Não liga não, minha pequena
É nas pequenas conversas que estão as grandes saudades
Nos pequenos beijos os verdadeiros desejos
Nos pequenos abraços, incontroláveis e disfarçados amassos
Se uma pequena flor, como o lírio, exibe a mais pujante beleza do maior dos reinos
É nos teus braços que os meus volúveis percalços se entregam por inteiro
Na tua pequena mão, meu sentimento faceiro
Na tua miúda boca, se me derrama, como uma louca, meus beijos romeiros
Nos teus cabelos, emaranhados estão meus sonhos andantes
E nos teus olhos, ah! Que olhos! Deslizam os meus, como se em uma só volta tocassem o mundo de um viajante
Não liga não, minha pequena
O verde renasce de uma pequena garoa
Pequenas músicas reverberam em glória
Pequenos homens mudaram a história
Pequenas falas inspiram um renovo
Pequenas mulheres fazem de nós meninos de novo
Sendo pequena, és grande
Grande ternura e pureza no falar
És luz, não trevas, nem me permites num jugo desigual andar
Pequena menina, grande mulher
Tão paradoxais sentimentos permeiam tão pulsante envolvimento
Não liga não, minha pequena
Deixa amanhecer
A luz mostra o que agente quer de verdade
O tempo foge e nele precisamos viver com intensidade
Teu destino é ser bela, pequena como uma flor, grande, quando controlas como queres, aqueles a quem tu escolhes entregar uma fagulha do teu indelével desejo, afeto e amor
Não liga não, minha pequena


Cleonardo

E os risos sobrepuseram o cansaço

Conversando com Poliana (uma colega minha lá da Saraiva), um pouco antes de largar após um sábado estafante, sobre os momentos nos quais mais leio poesia, disse-lhe ser antes de dormir. Falei ainda quais seriam os mais adequados para se ler nesta hora:

Gosto de ler Drummond e Lispector: Tenho sempre bons sonhos! Já Quintana me dá insônia, disse.
- E Vinícius? Ela perguntou.
- Vinícius me faz olhar no relógio e dizer: Ainda dá tempo de sair!

domingo, 30 de setembro de 2007

Definitivamente, não quero morrer lentamente!!!

"Morre lentamente quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos."

Pablo Neruda

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Tira!

Tira essa dor do meu peito
Essa angústia intransigente que pressiona minh´alma
Tira esse medo do amanhã que assola minha esperança
Esse medo da solidão, fera que devora
Tira essa lágrima insistente, essa sofreguidão que chega de repente
E cria um ninho na cabeça da gente empurrando como uma broca imponente
Tira essa melancolia de pranto, esse choro de espanto, essa dor que levou meu encanto
Sozinho choro e canto, canto lamúrias de carpideiras, a dor, o fim, sem eira ou beira
Tira a incerteza. Tira a tristeza. Tira a escuridão e devolve a clareza,
A brisa suave, o sorriso, a beleza, o afago, a alegria, o consolo, a certeza
Teu abraço eu vislumbro, sei que ele refaz, num segundo
Meu barco, meu rumo, meu solo, meu prumo,
Meu tato, meu tudo
Meu jeito de amar...

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Sinto-me sozinho!!!

Conversando com uma amiga (muito especial!) que compartilhou comigo um texto( e que texto!) de sua autoria sobre o "se sentir sem amigos" me veio a memória uma reflexão que escrevi em fevereiro deste ano. Compartilho-a, então, agora.

Para Carla de Paula, que está ciente de que às vezes nos setimos sós, mas há, sempre, a quem recorrer:

Será que sou um egoísta, narcisista, egocêntrico? Tão insuportável ao ponto das pessoas me abandonarem?
Ou não tenho a mínima habilidade em cativar? Será que estou condenado a repelir todos que de mim se aproximam?
Um bicho anti-social, recluso num mundo por mim criado, rodeado de paredes concretadas?
Sinto-me tão sozinho. Pareço não ter amigos.
Veja mesmo! Agora. Neste exato instante... Eu queria ter alguém para conversar. E então esse alguém ouviria que estou com vontade de chorar, mas não sei por quê. Que tenho muito medo, não sei dizer ao certo do que. A insegurança, a incerteza e a ansiedade tentam invadir minha alma e eu não tenho ninguém pra engrossar as fileiras comigo e dar cabo a esta covarde peleja de três contra um. Alguém com o intuito de ligar pra mim somente para perguntar o que vou fazer amanhã. Onde estão meus amigos? Eu os tenho?
Não quero ser injusto com um grande amigo meu. Sei de suas ocupações... Mas será, que até com suas ocupações, ou com as ocupações de qualquer um dos que considero amigos, não poderíamos nos ver mais? Esta corrida louca obriga-nos a abdicar dos momentos realmente importantes desta nossa pequena e efêmera jornada. Não, amigos! Devemos passar mais tempo juntos do que nas filas dos bancos, nos engarrafamentos, nos ônibus, discutindo com o nosso cônjuge, falando mal do nosso chefe, reclamando por que está chovendo, e se não chove por que está calor, o dinheiro não dá, queria trocar de carro, de casa, de esposa, marido, sogra, cachorro, celular. Menos shopings, mais noites conversando nos terraços de nossas casas. Menos “preciso disso”, mais “preciso deles”, Menos “vamos marcar”, mais “vamos mesmo”, menos “E aí?”, mais “estou aqui”.
Sinto falta de vocês, amigos!
Eu não tenho, agora, quem me ouça. Somente estas páginas podem me ouvir, e elas me entendem! Gostaria de dá-las melhores palavras, mais bem selecionadas, verbetes que as afagassem da mesma forma como o carinho que agora me falta. Gostaria de receber um abraço neste momento, ou alguém dizendo: Calma! Estou aqui! Eu sei amigas páginas, vocês não sabem falar, mas são boas em ouvir, e eu agradeço.
Não que eu não tenha uma turma pra sair. Não que se eu fizer uma ligação agora não encontre quem conversar. É que eu quero meus amigos! Fidelidade! Cumplicidade! “Hasta la muerte”! Uma parceria igual a de Tom e Vinicius, ou Tom, Vinicius, Elis, Toquinho, Chico e Milton. Como a de Moisés e Arão, Isaias e Ezequias, Davi e Jônatas, Barnabé e Paulo. Eu e Wellington, ou eu, Wellington, Sávio, Nemésio, Rafael, Helton, Paulinho, Ana Teresa e Mônica.
Sinto falta de vocês, amigos!
Mas espera aí... Alguém bate a minha porta! Abro. Ele entra, senta ao meu lado e me diz que no momento de maior desespero de sua vida foi abandonado pelos seus. Fala-me sobre uma aflição tamanha por ele sentida, quase sobre-humana, a ponto de seus vasos capilares se romperem e o sangue sair pelos poros, e, exatamente neste instante, seus amigos estavam dormindo ao invés de estarem compartilhando tal sofrimento. E no momento extremo, nem a presença de seu Pai pôde compartilhar. Ele me dá um abraço e diz: “Calma! Estou aqui!”. Não sei mais o que dizer... Apenas choro! Deito minha cabeça em seu colo, percebo o seu carinho, suas mãos estão afagando minha cabeça. E ele começa a me contar uma história...

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Bloqueio

Antes eu achava “frescura” esse negócio de bloqueio de criatividade. Pois não é que aconteceu comigo! Não estou conseguindo escrever! Mas eu sei quais as razões, aliás, qual a razão disso. Semana que vem resolvo essa história.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

E quando a pinha acabar?


Hoje eu viajei de novo... Quem me dera pudesse estar fisicamente por todos os lugares tocados por minha mente! Mas hoje eu fiz uma viagem diferente, teletransportei-me pra dentro de uma mente, uma mente que me fez pensar, olhar, refletir e ver o mundo de maneira diferente. Sou realmente nordestino, gosto de banana, manga, macaxeira com charque, Patativa do Assaré, Zé da Luz e Jessier Quirino, sou pernambucano, gosto das pontes do Recife, olhar pros arrecifes, Cordel do Fogo Encantado, Paulo freire, Ascenso Ferreira, Josué de Castro e Ariano, mas se tem uma coisa no Sul que me encanta é a fruta do conde, se você prefere assim, pinha mesmo, prefiro arremedar assim. E num é que no sinal da Abdias, em pleno meio dia, aparece uma senhora, como que vestida de sol, com uma das maiores que já vi. Deixei da minha pirangagem e comprei... Nossa! Tá aqui o lanche da tarde, pensei. Parei no outro sinal, já dobrando pra Caxangá, e logo vieram os limpadores de pára-brisa ambulantes, acostumados a serem rechaçados automaticamente por mim, pareciam se aproximar incrédulos de que dali “sairia alguma coisa”. Desta vez, porém, permiti que o rapaz (o que chegou primeiro) finalizasse o seu trabalho. Pro meu espanto, no lugar costumeiro das moedinhas não havia mais nada, e, de súbito, no que eu pensei?... Na pinha! Ele do lado de fora, castigado pelo sol, eu dentro, eu de carro, ele a pé... Será que questionava o porquê daquilo tudo? Por que ele pode ter carro e eu não? Estudar, e eu não? Comer 3, 4, 5, 6 vezes ao dia, e eu não!? Será que punha a culpa em Deus? No governo? Será que ele sabe que tudo aquilo pode mudar, basta agente os valores do Reino proclamar, deixar de só pra o nosso umbigo olhar, e o cristianismo verdadeiro praticar? No rosto dele estava o rosto de Jesus, com fome sem o darmos de comer, com sede, sem o darmos de beber. Parei de pensar e dei a pinha ao menino, parecia que ganhava uma barra de ouro. Nunca vou me esquecer do seu olhar, penetrando na minha mente pra mudar o que eu achava que a escola podia ensinar, mas só um coração quebrantado, o dele, quebrando um coração gelado, o meu, poderia transformar. O sinal abriu, passo a primeira, vou embora, porém não mais como outrora, fico pensando como a vida daquele menino vai se desenrolar, quais as possibilidades de sua vida mudar, esperando eu e você acordar e como igreja se comportar. A Caxangá vai terminando, pela PE-05 já vou andando, tô quase chegando em casa pra jantar, mas e ele? E quando a pinha acabar?

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Um lugar pra ir!

Quando estou cansado, pra lá eu posso ir.
É melhor que Shangrilá, muito mais aconchegante que Passárgada
Pois quando as tribulações querem dominar minha mente...
Pra lá eu posso ir
Quando sinto que não posso, e o desespero quer de mim tomar conta...
Pra lá eu posso ir
Se quiser sair e me abrigar da tempestade
Pra lá eu posso ir
Se todos querem me desanimar e um afago preciso encontrar
Pra lá eu posso ir
Quando o caos parece sem fim, e perturbação e pressão querem me fazer explodir
Pra lá eu posso ir
Quando sinto que não agüento mais
Pra lá eu posso ir
Quando penso em desistir e, sem forças, da corrida quero fugir
Pra lá eu posso ir
Quando a angústia corre por minhas veias querendo deixar minh’alma abatida
Pra lá eu posso ir
Quando a tristeza é tão profunda que a dor vem com a respiração, aumentando a cada batida de meu coração.
Pra lá eu posso ir
Quando penso em desistir e, sem forças, da corrida quero fugir
Pra lá eu posso ir
Quando não tenho paz, se esvai o descanso e foge de mim a tranqüilidade
Pra lá eu posso ir
No momento em que a esperança parece ter findado e só trevas minha cabeça tem circundado
Pra lá, Eu sei! Eu posso ir

Peço-te que sejas minha rocha de refúgio, para onde eu sempre possa ir. (Salmo 70:3)

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Flor da pele

Ando tão à flor da pele,
Que qualquer beijo de novela me faz chorar,
Ando tão à flor da pele,
Que teu olhar flor na janela me faz morrer,
Ando tão à flor da pele,
Que meu desejo se confunde com a vontade de não ser,
Ando tão à flor da pele,
Que a minha pele tem o fogo do juízo final.

Um barco sem porto,
Sem rumo,
Sem vela,
Cavalo sem sela,
Um bicho solto,
Um cão sem dono,
Um menino,
Um bandido,
Às vezes me preservo noutras suicido.

Às vezes me preservo noutras suicido.
Oh sim eu estou tão cansado,
Mas não pra dizer,
Que não acredito mais em você
Eu não preciso de muito dinheiro graças a Deus
Mas vou tomar aquele velho navio,
Aquele velho navio..

Um barco sem porto,
Sem rumo,
Sem vela,
Cavalo sem sela,
Um bicho solto,
Um cão sem dono,
Um menino,
Um bandido,
Às vezes me preservo noutras suicido.

Zeca Baleiro

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Bordões (evangélicos?) que não agüento mais!

1. Vou te contar uma coisa, mas é pra orar viu irmão!
Que hipocrisia, hein? Usando a aparência de espiritualidade para perpetuar a fofoca!

2. A serviço do Rei Jesus
Adesivo de carro - Quero ver quando agente precisar do carro dele pra carregar o som do evangelismo que queremos fazer.

3. Quando Deus quer é assim
Outro adesivo – Do que será que ele está falando? Do carro? Ah! Então é por isso que a grande maioria da população não tem carro. Por que Deus não quis? Eu achei que tinha alguma coisa a ver com a injustiça e a desigualdade social.

4. Deus falou ao meu coração...
Como esse pessoal se acha porta-voz de Deus. Claro que acredito num Deus que fala! O que não agüento mais é ver essa frase utilizada para que, disfarçada da vontade de Deus, a vontade dos homens seja realizada.

5. Vá se converter!
(De dedo em riste!) - Que tal olhar para a trave no seu olho?

6. Amém!? Está fraco! Esse amém foi pra mim, agora um amém pro Senhor Jesus!
KKKKKKKKKK!!!!!!!

7. Eu quero de volta o que é meu
Tá falando com quem? Com Deus? Quem é Senhor e quem é servo nesta história?

8. Você nasceu pra ser cabeça, não cauda
Mais uma adaptação espúrea, que já se tornou clássica, de um versículo bíblico para dizer que o “crente” nunca fica por baixo.

9. Não toqueis no ungido do Senhor
Mais desculpas! Essa é usada para que o povo nunca conteste os seus líderes. Os infalíveis!

10. Isso é seta do inimigo
Tudo virou seta do inimigo. Você já parou pra pensar nas consequências dos SEUS atos?

11. Cuidado com a brecha!
Tática para assustar os neófitos. Os que se utilizam desse jargão omitem o fato de estarmos debaixo das mãos protetoras de Deus e que não é por causa de um vacilo que seremos jogados por Ele aos leões.

12. Você tem que orar mais, jejuar mais e ler a mais bíblia!
A resposta hipócrita para se livrar de nossa responsabilidade com o outro. Ex: Chega um irmão e diz: Mas irmão, meu filho está doente? E aí você responde... Você tem que orar... blá, blá, blá! Que tal dizer: Em que posso ajudá-lo?

13. Você não é espiritual. Isso não é espiritual
Dá pra mostrar o espirituômetro que Deus não deu a ninguém na Bíblia, só a você?

14. Olhe para o seu irmão e diga...
Eu queria pegar o microfone na igreja e dizer... Diga pro seu irmão: Eu não agüento mais que alguém pegue o microfone pra falar o que eu tenho de dizer... Seria hilário!!

15. Uma salva de palmas para o Senhor Jesus!
Nunca vi Jesus pedindo uma salva de palmas. Mas será que essas palmas são para Jesus mesmo?

16. Você precisa ser mais espiritual, mais santo!
Outra receita universal! Se deu alguma coisa errado é por que...

17. Misericórdia, irmão!
Exclamação mais usual dos puritano-legalistas!

18. Você vai dar conta de tudo isso a Deus!
Sempre utilizado no sentido de tolher a liberdade

19. Deus castiga!
Pra esses, Deus é um velho turrão sentado no trono com uma fila de gente à sua frente. Ela está usando a palmatória e assim que o primeiro da fila recebe o castigo tem que ir pro final dela pra sofrer tudo de novo.

20. Ai daquele que cair nas mãos de Deus
Eu espero cair sempre nas mãos dEle. Nunca nas mãos desses.

21. Quem está sentindo a presença do Senhor? Levanta a mão!
E tem que sentir, é?

22. O diabo quer destruir a sua vida
Tudo bem! Mas não precisa ficar nessa paranóia “diabótica”.

23. Nós somos um povo que não conhece derrota.
Mentira!!! Davi perdeu Absalão, Jó perdeu tudo, Elias viveu um momento de depressão na caverna, Paulo foi açoitado, enfim, perdemos também, mas sabemos perder. Quando a derrota vem temos quem nos console.

24. Venha para Jesus e pare de sofrer.
“No mundo tereis aflições. Mas tende bom ânimo. Eu venci o mundo.”

25. Você é filho do Rei e não merece estar nessa situação.
Os filhos do Rei também choram. Aliás, o Rei também chorou

26. Manda fogo!!!
Ôpa! Meu irmão é bombeiro!

27. Esse pastor é sem unção!
Se vocês não sabem, tem que gritar para ser considerado com unção.

Aceito Sugestões!!!

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Ela discordou de mim

Parece que me senti mais à vontade ao seu lado hoje. Segurar em sua mão foi um presente. Estava frio naquela sala e eu fiquei olhando para as mãos dela buscando coragem para segurá-las. Perguntei se ela estava com frio, e a resposta?... Não, só um pouquinho (Era a deixa pra eu, enfim, ter suas mãos nas minhas, mas ela não ajudou muito). Então, foi sem deixa mesmo. O resto do filme ficou sem graça perto do calor de seus dedos e de sua respiração um pouco mais ofegante quando percebia que eu já havia esquecido do filme e só olhava pra ela (Qual era o filme mesmo?).
Olhar nos seus olhos, ainda que sem jeito, foi uma recompensa. Acontece algo de metafísico quando ela sorri. Não sei explicar direito. A aurora boreal acontece quando partículas do vento solar entram em colisão com o campo magnético terrestre causando um dos fenômenos mais belos da Terra, pois é isto o que acontece quando as partículas de vento do seu sorriso se chocam com meu campo magnético: posso ver uma profusão de cores as quais pintam tudo de beleza ao redor. E meu campo magnético está rachando, já falei disso aqui neste blog (É engraçado como vêm e vão as coisas do coração. O amor: Parece que não conseguimos viver sem ele, mas a confusão, com ele, traz distúrbio à razão.Amarga escolha: Paz sem desejo, paixão sem reflexão) mas parece que faço sempre a escolha de amar ainda que esta vá minando a paz da certeza inexorável de quem não ama., “por que metade de mim é amor, e a outra metade... também”.
E o que mais gostei hoje? Foi quando ela discordou de mim. Vou explicar: Quem quer ter do seu lado alguém que não pensa, não reflete, não discute nem dá opinião? Eu muito menos. È preciso estar com alguém autêntica, que pensa e re-pensa, concorda e discorda e dialeticamente (e ela pode vir tanto com a tese quanto com a antítese) constrói uma síntese de pensamentos, sonhos, poesias, afagos, carinho, saudade, afeto, cumplicidade, fidelidade, liberdade, amizade, enfim, amor-eros- phileos- ágape. Gostei quando ela discordou, mas vou gostar mais ainda se ela concordar que agente tem que se ver de novo, e antes dela viajar. Enquanto isso aproveito a lembrança da aurora boreal do seu sorriso e fico imaginando como será quando esse fenômeno mudar da aurora de um sorriso para uma primavera de abraços, tempestade de beijos, e erupção, e terremoto, e calmaria.
Aurora Boreal

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Me diz!

É possível alguém que não tem dificuldade de falar em público, não tem dificuldade de falar na privacidade, enfim, não tem dificuldade de falar quando, onde e como quer que seja, não saber o que falar quando está diante de alguém? Há a possibilidade de existirem pessoas emudecedoras? Daquelas que não adianta você ensaiar o discurso por que sempre que se está perto dela não se tem o que dizer? Estas pessoas tem um campo magnético bloqueador do "agir com naturalidade"... Simplesmente não dá! Os poetas dão outro nome a esta situação. A fisiologia tenta explicar (mas não me convence!), a psicologia e a sociologia também se intrometem no assunto(muita retórica e pouca prática). Me diz: Como se resolve isso?

Scrap enviado numa tentativa de entender por que ''garotos como eu sempre tão espertos perto de uma mulher são só garotos"

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

O verbo no infinito

Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar
Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.
E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito

E esquecer tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito. . .
Vinicius de Moraes - Livro de Sonetos

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Muito mais que um cão de briga


Sou o que minhas experiências me fizeram ser.
Sou um passeio com meu pai à “fantaía”, sou uma incursão à sua faculdade (De história! E com direito à participação especial na aula), Sou uma visita pra conhecer o seu trabalho (A sala de aula! Com direito a outra participação especial!).
Sou meu cabelo por minha mãe ajeitado, sou madrugada com ela a dormir ao meu lado,
Sou retrato do amor por mim demonstrado.
Externo o carinho em mim introjetado, em cada sorriso compartilhado, em cada sorvete comprado, camisa passada, beijo na testa, abraço apertado.
Sou ligação preocupada, sou dormir-acordado enquanto a meia é em mim colocada quando, pra escola, a gurizada já tá atrasada. Sou quarto construído depois de pedido quase chorado.
Sou conversa à luz do luar depois da energia ter faltado, ou no terraço, depois do baygon aplicado.
Sou festa todo domingo, cheiro de cerveja na casa, Nelson Rodrigues, Núbia Lafayete e Roberto Carlos cantado.
Percebi serem estes momentos os responsáveis pela essência daquilo que nos difere dos animais. Mas até os cães não defendem com vigor os seus filhotes? Não têm eles, porém, a famosa consciência existencial. Vagam por este mundo sem a ele transferir as marcas que lhes foram deixadas em suas não-almas. E o pior: Eles não sabem o que é serem amados, não conhecem a maior das virtudes, essa sim, que tudo sofre, crê, espera, suporta, que nos liberta. Aquilo que, ao termos soltas as coleiras de nossos mais primitivos instintos, como a inveja, o egoísmo, a violência, o olhar homicida, a deslealdade, a desonestidade, não nos permite avançar e devorar como uma fera, uma besta-fera indomável, a primeira presa à nossa frente. É o amor! É, senhoras e senhores! O amor me liberta! O que me trouxe aqui foi o amor, sou parido de amor.

Sou humano, demasiado humano

Porém amado, demasiadamente amado



Escrito após assistir ao filme "Cão de briga" em Novembro de 2006



Cleonardo

sábado, 4 de agosto de 2007

É de lágrima










É de lágrima que faço o mar pra navegar



Vamo lá

Eu não vi, não, final

Sei que o daqui teimou de vir tenaz assim

Feito passarim

É de mágica que eu drobo a vida em flor

Assim

E ao senhor de iludir

Manda avisar que esse daqui

Tem muito mais amor pra dar


Marcelo Camelo

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Estou apaixonado!!!






Você acredita em amor à primeira leitura? Pois é... Eu também não acreditava até me apaixonar por esta mulher. Vou compartilhar com você só um pouquinho:




P.S.: grifos meus




"...Sempre que a relevância do discurso entra em jogo, a questão torna-se política por definição, pois é o discurso que faz do homem um ser político... O motivo pelo qual talvez seja prudente duvidar do julgamento político de cientistas enquanto cientistas não é, em primeiro lugar, a sua falta de "caráter" - o fato de não se terem recusado a criar armas atômicas - nem a sua ingenuidade - o fato de não terem compreendido que, uma vez criadas tais armas, eles seriam os últimos a ser consultados quanto ao seu emprego -, mas precisamente o fato de que habitam um mundo no qual as palavras perderam o seu poder. E tudo o que os homens fazem, sabem ou experimentam só tem sentido na medida em que pode ser discutido. Haverá talvez verdades que ficam além da linguagem e que podem ser de grande relevância para o homem no singular, isto é, para o homem que, seja o que for, não é um ser político. Mas os homens no plural, isto é, os homens que vivem e se movem e agem neste mundo, só podem experimentar o significado das coisas por poderem falar e ser inteligíveis entre si e consigo mesmos."

Hannah Arendt